Capítulo 14

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Há algo sobre mim. Lentamente meus olhos se abrem e encaro a escuridão do teto, porém não consigo me mover, meus pulmões respiram mesmo que não sinta o ar entrar por minhas narinas, meu coração se acelera conforme percebe que meu corpo não corresponde aos comandos de meu cérebro. Então percebo o peso sobre mim, aqueles cabelos castanhos, aquele sorriso tão conhecido, mas agora tão impetuoso.

Evelyn estava sobre mim, suas mãos gélidas e decompostas apertavam minha garganta me sufocando.

Por alguma razão eu não conseguia gritar, o pânico e ansiedade corriam por minhas veias, eu encarava seu rosto cheio de ódio, lágrimas corriam pelo canto dos meus olhos. Ela sorria parecendo satisfeita em ver a vida deixar meu corpo. Porém acima dela uma sombra obscura a controlava, como uma marionete mexendo os pauzinhos, a mesma aura roxa, os mesmos olhos cinzas.

Acordo de supetão sentando na cama, minhas mãos apertam por cima de meu peito querendo controlar meu coração, meus cabelos caem ao meu redor, começo a chorar involuntariamente, quero gritar, mas não consigo, recuo com as costas contra a cabeceira e abraço meus joelhos, desespero e superação travam um embate em minha mente, eu estava conseguindo, penso, mas parecia não ser o suficiente.

Não sei quanto tempo leva até eu conseguir adormecer novamente, batidas ressoam na porta enquanto acordo devagar, a cama está revirada, o travesseiro esmagado entre meus braços, fico em silêncio esperando que quem quer que seja vá embora, mas parece não ser o caso, as batidas persistem, até que Akly e Arah entram e fecham a porta.

Elas entram juntas, com Arah segurando o braço de Akly e se guiando junto com ela, Akly me encara por um momento e então coloca a pilha de roupas e uma toalha sobre a cama.

- A gente queria ver como você estava, mas podemos voltar depois, ah e claro trazer essas roupas também - Arah comenta sorrindo de leve.

- Podemos ficar também se você quiser, apenas para ter alguma companhia - Akly acrescenta com calma.

Eu não as conhecia tão bem, praticamente nada na verdade, mas sentia que ambas sabiam que havia algo errado e pareciam se importar o suficiente para não querer me deixar sozinha.

- Podem ficar, vou tomar um banho - tremendo afasto as cobertas e levanto.

Devagar pego a toalha e as roupas, vou até o banheiro e tiro as que sempre vesti, ligo a banheira e adentro nela me lavando e relaxo com a água quente, finalmente me livrando da sujeira dos últimos dias, até mesmo meu cabelo parece brilhar após o lavar, fico ali por um tempo, então me enxaguo e visto as novas roupas.

Uma calça preta justa e confortável, uma camisa branca de ombro a ombro, de mangas largas e compridas, um corset preto de amarrar e por fim botas de couro marrom até os joelhos, coloco meus dedos sobre meus braços onde haviam as cicatrizes negras, elas sumiram, porém a fenda continuava aberta em minha palma. Coloco minha velha luva de couro preto gasto na mão direita. Encaro meu reflexo no espelho, desço o olhar até meus cabelos e encaro as pontas duplas. Respiro fundo, o banho havia aliviado e meu coração reduzia o ritmo pouco a pouco, quando finalmente me recomponho o suficiente abro a porta do banheiro.

Volto para o quarto com Akly e Arah encarando meu armário, no caso Arah tateava algumas roupas novas penduradas enquanto Akly lhe dava uma breve descrição de cores e modelos, reparo nos trapos da minha velha capa no canto do quarto, desvio o olhar para elas novamente.

- Me digam que pelo menos uma de vocês sabe cortar cabelo, de preferência a Akly, desculpe Arah - digo dando um sorriso fraco.

Arah coloca as mãos na cintura e se vira devagar em minha direção. - Engraçadinha.

Akly sorri e se aproxima pegando a tesoura e me convidando a sentar na cadeira de costas para ela, peço para cortar apenas as pontas e ela concorda, é então que Arah devagar vai até um canto e pega a mochila que elas haviam deixado ali quando entraram, a reconheço e juntamente de meu arco e flecha.

A Bruxa da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora