O Mal da Dissociação

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As vezes a vida nos faz passar por provações, inimagináveis. E eu vivi isso da pior maneira possível. Essa história é a história da minha vida, bom, ao menos a parte mais dolorosa e absurda de todas. Meu nome é July, hoje tenho 21 anos, mas quando tudo aconteceu, eu tinha apenas 18. Mas a realidade, é que a minha vida se fez confusa, desde os meus 12 anos. Naquela época, passei a ter fortes dores de cabeça, minha mãe me levou em neurologistas e pagou os melhores médicos, porém, nada resolvia. Eu me lembro de poucas coisas dessa época. Mas me lembro, que com a dor, a minha personalidade mudava. Eu me sentia extremamente tristonha, assim, como também, muito agressiva. Era tudo levado ao extremo, tanto, que me isolei do mundo. Parei de frequentar a escola, passando a maior parte do tempo cuidado das galinhas, da minha égua: Malu, e dos meus porquinhos da índia. Eu era estranha, nem sequer deixava o meu padrasto matar as galinhas, e quando ele fazia eu chorava. Não compreendia esse amor que sentia pelos animais. Mas isso é o de menos agora. O que realmente importava, era que eu não era dona dos meus pensamentos e de minhas ações, e gradativamente, tudo foi piorando.

Agoniada, minha mãe me levou a um psiquiatra, ele me diagnosticou com algo, que só na bula do remédio eu encontraria a minha doença. O sujeito se negou a dizer o que eu tinha, foram anos de tratamento, mas nada tirava a dor da minha alma. A cada dia o meu meio-irmão, atormentava mais e mais a minha vida, ele era um gordinho chato, que se achava melhor e no direito de me humilhar por eu ser a bastarda da família, hoje em dia ele mudou, ficou bonito, magro, mais se parece com o V do BTS. Ainda é chato, mas graças a Deus, melhorou bastante a sua postura.

Durante um período de 7 anos, a minha família e eu, fizemos várias mudanças, de fazendas para a cidade e vice-versa. Contudo, a fazenda no alto da serra, em meio ao cafezal, foi a última fazenda em que vivi, antes de viver o meu pior pesadelo.

Foi no ano de 2019, que tudo começou. Eu já estava cansada de ser inútil, de ser uma (zero a esquerda) na minha família. Até comida o meu meio-irmão me negava. Eu estava farta. Tudo o que eu queria, era estudar e ter uma vida melhor. Mas eu já estava muito atrasada no colegial, e tinha vergonha de estudar com crianças bem mais novas que eu. Eu tinha 18 anos, e estava numa classe de crianças com 13 anos. Era muita humilhação. E eu me cobrava demais por ter perdido tantos anos na escola. Antes eu era a melhor aluna da sala, com as notas mais altas, e simplesmente perdi para uma doença, que me dilacerava.

Por isso, num ato de desespero, mandei uma mensagem para o meu pai... o meu pai biológico. Eu nunca falei com ele, e quase tive um treco, quando ele me chamou para ir na casa dele. Eu não sabia se sorria, ou se chorava, melhor dizendo, estava com medo desse encontro. Eu sempre fui muito antissocial, e fazia meses que não saia de casa e muito menos falava com pessoas de fora. Meu coração estava acelerado. Tudo o que fiz foi contar para a minha mãe, ela não gostou da ideia. Mas não disse nada. Falou apenas para mim tomar um banho, e colocar algumas roupas na mochila.

Pouco tempo depois, ele chegou, estava em uma caminhonete vermelha, modelo Strada. Quase tive um treco, quando ele chegou. Mas engoli minha ansiedade, e fomos para a casa dele. No dia em que cheguei, todos me trataram bem. Ele me levou para conhecer todos os meus familiares. Mas confesso, que falar disso, me machuca muito. Aquela felicidade, logo se tornou cinzas, com brasas que queimam na alma até hoje.
Naquele dia maravilhoso, decidi morar com ele e com a minha madrasta. Por parte dele, eu não tenho irmãos, minha madrasta é estéril. Por isso acreditei cegamente na ilusão de que ele seria um bom pai. Mas as coisas não foram bem assim. Não demorou muito e tivemos nossa primeira discussão. Ele era grosseiro, e mal educado. Não passou de bate-boca, mas ainda assim saí chorando. Fui para o quarto, e me afoguei em lágrimas, em meio aos edredons. Eu fui tola em acreditar, que o meu pai rico, iria ser bom para mim.
Contudo, apesar de tudo eu resolvi dar uma nova chance. Mas tudo se repetiu de novo, e só foi piorando. E foi quando eu passei a frequentar a igreja evangélica. Em busca de converter o meu pai. Contudo, nem nas minhas melhores orações ele melhorou, muito pelo contrário só piorou.

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