𝐇𝐄𝐑𝐄𝐒𝐈𝐀, 𝐒𝐚𝐭𝐨𝐫𝐮 𝐆𝐨𝐣𝐨

𝐒𝐮𝐫𝐩𝐫𝐞𝐬𝐚𝐬

𝕆𝕚𝕖 𝕡𝕣𝕚𝕟𝕔𝕚𝕡𝕒𝕤 𝕖 𝕡𝕣𝕚𝕟𝕔𝕖𝕤𝕠𝕤!
(𝚅𝚞𝚕𝚐𝚘 𝙿𝚎𝚌𝚊𝚍𝚘𝚛𝚎𝚜)
𝕋𝕦𝕕𝕠 𝕓𝕖𝕞?!

Esse é o último capítulo dessa ladeira que teremos essa intro.
Também foi uma necessidade de colocar ele primeiro como ponte para os próximos, então tenham um pouco de paciência, o seguinte desse já está pronto e virá logo, prometo.
Muita tensão está para começar e para ser justo com os capítulos, tentarei ser rápida nas "chegânças".

Vejo vocês no final.

Para esse e para os próximos...
Sem mais delongas, boa leitura!
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Cruzei o umbral da porta pesada e saí, ajustando a vista à pouca claridade de fora da igreja. Sair da escuridão gélida do local me deixou confusa. Olhei para os jardins frontais cobertos de margaridas e sorri. Ergui a vista para o céu e suspirei. Estava tudo, menos aliviada. Sentia o corpo dolorido e tenso, minha intimidade ainda estava molhada e sensível. Conseguia sentir a sensação fantasma dos dedos enfiando-se em mim. Pude ver a confusão e a excitação nos grandes olhos azuis, como eu queria ver aqueles olhos completamente escuros de desejo, enquanto me olhavam e me faziam esquecer a realidade.

Realidade essa que agora me abraçava como um açoite brutal.

Ele  havia escolhido aquele caminho, eu não entendia, não conseguia. Mas quem eu achava que era, para precisar entender? Fechei os olhos sentindo o calor das pequenas lágrimas de raiva e frustração. Eu o queria muito, enlouquecidamente, mas ele não queria.

Abri novamente os olhos e corri a vista pelo pátio movimentado da capela. Como era de costume, antes e um pouco depois da missa, haviam barraquinhas vendendo os mais variados artigos religiosos. Camisetas com imagens santas, pequenas estátuas, crucifixos e toda a variedade de objetos litúrgicos possíveis.

Caminhei, sem realmente saber meu destino, por entre as barracas. Ao longe, uma velha senhora me encarou e acenou, eu nunca havia visto aquela mulher, mas algo me chamou para sua direção. Cheguei um pouco envergonhada, sem muito saber o que fazia ali. Mas o universo tenta falar sem a gente entender e, logo que olhei ao redor, senti uma fisgada estranha no peito.

Expostos e pendurados por ganchos, uma infinidade de terços estava disposta. Meus olhos brilhavam ao encarar os objetos. Sorri sem perceber quando avistei um deles. As batidas aceleradas do meu coração acertaram o ritmo com o sino da igreja, que começava a tocar, anunciando a missa que logo aconteceria. Era a perfeita balança do universo em seus sinais desconhecidos.

A peça era de um tamanho diferenciado, mais comprida e linda. Era feita de um branco cintilante, muito familiar. O crucifixo na ponta era em arabesco e parecia ser pesado. Toquei com a ponta dos dedos o material frio. A madrepérola parecia destacar-se das outras peças. Lembrei imediatamente dos olhos vivos e perfeitamente iluminados do meu padre. Fechei os meus e senti um toque em meu braço. Abri de uma vez, desejando que fosse uma mão conhecida que me houvesse chamado, mas a palma enrrugada tomou o local e eu olhei para a senhorinha.

— A pessoa deve ser muito especial.

— Perdão?

— Você lembrou de alguém ao tocar o rosário.

— A-Sim...

— Não pense muito, compre, não é todo dia que algo assim nos deixa sem palavras.

— Eu não sei se devo.

— Imagine a pessoa que você lembrou recebendo esse presente.

Imediatamente meus pensamentos me traíram e me levaram para o rosto alegre dele ao receber algo que gostava tanto, aquele bem poderia ser uma oferta de paz, um trato silencioso para que nós pudéssemos conviver melhor até que eu fosse embora dali. Encarei, decidida, a vendedora.