5. cicatriz.

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Há muito tempo, eu vim mantendo um pensamento em minha cabeça: Para viver e sobreviver no mundo, você precisa ser forte. Não tanto física, mas mentalmente falando. Tudo em sua vida depende de você ser forte mentalmente e, caso você não seja ou descuide disso por um segundo que seja, tudo vai à baixo, como um castelo de bloquinhos de montar que foi derrubado. E para reconstruir esse castelinho, será muito mais difícil do que da primeira vez, porque as peças vão estar quebradas.

Essa é a vida em sua mais pura e simples forma, e ninguém te prepara para ela. Nem a escola, nem mesmo seus pais. Você deve aprender isso sozinho, ser forte sozinho, aguentar tudo sozinho. Ao menos, foi o que eu aprendi.

Desde que me entendo como gente, eu questionava tudo e todos. Na verdade, isso é natural para qualquer criança. Aparentemente, eu podia acabar irritando meus pais com tantas perguntas, às vezes. Me lembro perfeitamente de papai me dizer que as pessoas não gostam de gente que faz muitas perguntas, assim como eu fazia. E aquilo ficou na minha cabeça, eu não entendia o porquê disso. Era tão ruim assim, ser curioso?

No meu quarto, eu sempre pude ouvir meus pais gritarem por motivos que eu não sabia quais. Uma vez ou outra, eu também podia ouvir sons altos de vidros e coisas sendo quebradas. Mamãe sempre me disse para ficar bem quietinho no meu quarto quando eu começasse a ouvir isso, caso contrário, o monstro das historinhas que eu lia viria para me pegar.

Eu ficava me questionando o que acontecia fora daquele quartinho que eu chamava de meu. E, como bom curioso que era, esperava os barulhos cessarem para descer e ver o que estava acontecendo. Na maioria das vezes, a cena era de coisas quebradas pelo chão da sala, a porta de entrada escancarada e mamãe na cozinha, sentada na mesa de jantar enquanto chorava silenciosamente. Algumas vezes, também, haviam marcas roxas pelos braços, pernas e rosto dela. Eu sempre a perguntava o que havia acontecido, e a resposta que eu ouvia era sempre a mesma.

— O monstro do seu livrinho veio aqui, meu amor. Eu tive que lutar com ele para te proteger. Agora, você está seguro!

Um sorriso tristonho se formava em seus lábios, enquanto ela abria os braços na minha direção de modo receptivo para um forte e caloroso abraço.

A história se repetia toda vez. E eu acreditava, achando que minha mãe era minha salvadora e que ela estava ali me protegendo do monstro. Querendo ou não, ela estava me protegendo, mas não era do monstro que eu imaginava.

Na mesma semana em que eu completei meus dez anos de pouquíssima idade, aqueles mesmos barulhos começaram mais uma vez. Mas, agora eu tinha dez anos, eu era crescido! Haviam dois dígitos na minha idade e eu deveria proteger minha mãe do monstro, certo? E foi o que eu decidi. Desci as escadas correndo, destemido, me sentindo o próprio cavaleiro de armadura dourada que salvaria a princesa dos meus livrinhos de história. Só que, ao chegar na sala, eu percebi que a vida de cavaleiro seria mais difícil do que eu imaginei.

Mamãe estava em pé, de costas para mim, e o papai, caído no chão, desacordado, com um líquido vermelho em suas roupas e no chão à sua volta.

Havia um objeto metálico, sujo com aquele mesmo líquido vermelho, na mão da mamãe. Ela chorava. Dessa vez, não silenciosamente, como todas as outras. Ela chorava de um modo escandaloso e totalmente desequilibrado, como eu fazia quando me levavam para tomar vacina, mas... pior.

— Mamãe?

Eu chamei por ela, preocupado com seu estado, mais uma vez.

— Jimin?!

Ela se virou para mim rapidamente, seu rosto estava inchado e completamente molhado por suas lágrimas. O objeto em suas mãos caiu no chão, fazendo um barulho metálico alto, e logo ela se ajoelhou, voltando a chorar copiosamente.

Amor sem Nome • Jikook (em hiatus!)Onde histórias criam vida. Descubra agora