Me toque como nunca

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— Terminamos por hoje, pessoal. Nos vemos amanhã?

Mas sobre as malas... eu estava errada. Talvez fosse hora de juntar as minhas costas e correr na direção contrária.

Quando tomo meu celular nas mãos vejo milhares de chamadas perdidas: Piny, Leonardo, Marina. Quando passo os olhos por cima das notificações, sinto um caminhão atravessar o meu peito, porque tudo é demais. Estou exausta. Então, decido ignorar e resolver depois, já que nada mudaria. Talvez deixar para resolver quando fosse tarde demais.

*POV NERO*

Eu confirmo com a cabeça, enquanto Giovanna sai atravessa o set em direção à seu camarim sem dizer uma palavra, o que me deixa confuso - e é inevitável que não provoque estranheza na produção também.

Eu me despeço da equipe e digo que preciso ir embora, já que a produção resolveu transferir o terceiro bloco de gravações para amanhã, mas preciso vê-la. Então, me dirijo ao seu camarim e não a encontro. A roupa que ela usava hoje de manhã estava aqui, mas a bolsa e seu celular não. Imagino que ela tenha saído rápido pra evitar isso - essa conversa. Nós. Mas não posso deixar de encontrá-la. Não depois disso.

Então me apresso e consigo vê-la prestes a entrar em seu carro. Ela ainda usava a mesma roupa de Helô. Fico confuso quando percebo que ela queria evitar isso.  Penso se era efeito de sua conversa com Piny hoje no almoço ou se ela apenas prefere negar o que essa cena causou em nós. Não sei. Sei que não posso deixar de dizer o que preciso dizer. Então, peço que ela pare e chamo pelo seu nome, quando consigo me aproximar.

— Giovanna?

Ela finge não ouvir.

— Giovanna! - eu a chamo novamente e me direciono até o carro dela. Ela está tentando achar a chave na bolsa pra abrir a porta e age como se não tivesse me ouvido chamar por ela, continuando de costas pra mim.

Eu toco o braço dela, como um convite para me olhar. Quando ela finalmente desiste de lutar contra a vontade de ir embora e me deixar sozinho aqui no estacionamento, consigo enxergar seu rosto, belo e inconfundível. Ela está chorando. É insuportável vê-la assim. Queria fazer milhões de perguntas e questionar se sou um dos motivos que a deixou dessa forma. Não consigo entender.

Ela se permite me olhar. O cabelo está bagunçado e ela desistiu de secar as lágrimas que caem e me atingem em cheio. Aproximo minha mão do rosto dela e vejo a expressão dela se fechar. Ela levanta a mão, em protesto, como se me pedisse pra parar. Giovanna olha pros lados, como se decidisse irá ou não dizer o que está sentindo. Como se investigasse se tinha alguém nos ouvindo. E, por fim, ela o faz.

— Nós, Alexandre, - a voz dela é embargada e percebo que ela se esforça em cada palavra - nós somos uma mentira.

As palavras dela me atravessam o estômago. Ela não me olha nos olhos, enquanto eu ainda toco seu braço devagar. Ouvir isso é insuportável, mas queria que ela soubesse que pode me falar o que quiser, então, a deixo falar.

— Nós somos mentirosos e irresponsáveis. - agora ela soa séria e enxuga as lágrimas com pressa - A otária da tua esposa está em casa, meu marido está em casa, e nós estamos agindo feito dois adolescentes, enquanto a mídia toda especula coisas sobre nós e você... você, Alexandre. Meu Deus. - ela ri, sarcástica - Nós somos uma piada.

A expressão dela é distante e dura. Havia um quê de ciúmes que eu não entendia ainda. Ela me observa tocar seu braço devagar, como fazíamos minutos atrás na cena que gravamos.

— São 16:35 e eu estou no estacionamento do Projac com você, discutindo se deveríamos ou não continuar com isso. Você é casado. Eu sou casada. - ela ri e eu não consigo identificar se é ironia ou o nervosismo.

Desatando NósOnde histórias criam vida. Descubra agora