O princípio do precipício

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— Deixa eu te lembrar de algumas coisas, Alexandre.

Karen o olha, finalizando o último gole de whisky, enquanto ele se atenta à cada uma das palavras que ela diz.

— Você lembra quando aquela novela de merda acabou em 2016 e você estava decidido a ficar com aquela mulher? Lembra como ela te chutou sem nem pensar duas vezes?

Ela ri, irônica.

— E sabe o pior? É que eu lembro de cada detalhe desse dia. Eu lembro... – ela passa as mãos pela testa e fita o teto – Lembro de você chegando quase de manhã, bêbado e com essa cara inchada de tanto chorar por causa daquela otária.

Alexandre podia sentir o estômago se revirar com a lembrança. Era verdade. Naquela noite, em 2016, no último dia das gravações de A Regra do Jogo, ele havia feito uma surpresa para Giovanna. Entre tantas coisas, o artista havia composto uma música que levava o nome dela.

Nero preparou tudo. Havia deixado uma carta para a atriz em seu camarim falando sobre o que sentia e convidando-a para a surpresa que ele havia preparado. O ator comprou as rosas favoritas da atriz, sua comida favorita, preparou a banheira, encheu o quarto de hotel que havia alugado com fotos e lembranças dos dois desde Salve Jorge, e, em cada uma das fotos havia um verso que compunha a canção que havia feito pra ela. Uma surpresa desajeitada mas repleta de afeto, como ele. Alexandre Vestiu a camisa que ela adorava e a esperou durante horas. Nero estava decidido.
Mas naquela noite ela o deixou esperando, porque não foi.

As lembranças da cena no camarim e a solidão que sentia no hotel apareciam em sua mente como um flashback doloroso.

[Para saber mais detalhes sobre o aesthetic da surpresa, peça para seguir o @onlygn_ no twitter].

— Você acha que eu não sei, Alexandre? Do circo todo que você armou pra aquela mulherzinha ficar contigo? E ela não hesitou em dizer não na tua cara. E na época ainda pagou caro pra um funcionário do projac não soltar a bomba na mídia. Sabia disso?

Ele não sabia. As mãos de Nero suavam e ele podia sentir os sintomas emocionais se tornarem físicos. Tudo sobre aquele dia era insuportável. Ele ansiava esquecer, mas aparentemente nessa noite não seria possível.

— Claro que você não sabe, porque você é um otário!

Karen se aproxima dele, olhando-o nos olhos, mas afasta-se ligeiramente quando percebe que está prestes a chorar.

— Eu te dou tudo, Alexandre! Tudo, porra!

Agora ela gritava enquanto andava pela cozinha da casa.

— A gente tem uma família, Alexandre. Não é isso que você diz que sempre quis? Que seus filhos tivessem uma família pra contar?

Ela se aproxima dele novamente, agora tocando-o no peito e tentando controlar sua respiração.

— Essa mulher, Ale... ela não te faz bem. Ela nunca fez. E no fundo você sabe disso também.

Karen toca o queixo dele, convidando-o a olhá-la.

— Você não lembra o que você passou depois daquele dia? Não lembra quantos shows bêbado tu fez por que não conseguia cantar nada que te remetesse à ela?

Nero se afasta, atravessando as mãos pelo cabelo grisalho, atormentado pelas lembranças que ele insistia em manter em seu inconsciente.

— Não lembra que enquanto você sofria pelo fim daquela novela ridícula ela estampava as redes sociais com o casamento de fachada? Enquanto você mal ficava em casa por causa dela!

Ela eleva o tom de voz e agora ele se senta no sofá da sala, com a cabeça próxima aos joelhos e as mãos percorrendo os cabelos, em silêncio.

— Você não consegue enxergar o mal que Giovanna te faz. Nunca conseguiu.

Desatando NósOnde histórias criam vida. Descubra agora