Soraya. - VI

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Era sexta-feira à noite e o maior erro da minha vida foi escolher morar em frente à universidade, todo mundo sabe que onde tem alunos ansiosos também tem álcool, logo, vários bares espalhados pelo bairro que não facilitavam para quem desejava dormir cedo.

"Onde você está?" Encaminhei uma mensagem para Déborah e ela não demorou para responder.
"Estou aqui no pub 99, desce!" Ela não errou nenhuma palavra então ainda estava sóbria.
"Agradeço, mas estou bem aqui." Respondi, nada me faria sair do apartamento.
"Você que sabe... Mas acabei de ver a Rosângela e a Simone, acho que vou falar com elas." Retiro o que eu pensei, ela só podia estar bêbada.
"Amiga ou Hater, Déborah? Nem de brincadeira." O coração palpitou, primeiro porque eu sabia do nível de loucura da minha amiga, segundo porque era uma cena que eu não conseguia imaginar, Simone bebendo socialmente com as amigas.
"Te dou 15min." Ela mandou e o Online sumiu da tela.

Coloquei o celular no bolso e apanhei a chave do apartamento na maior pressa do mundo. Estava vestida com shorts Jens, regata e chinelo, fazia um calor absurdo e eu por puro desespero nem me importei com o traje. Assim que cheguei em frente ao estabelecimento, pude avistar as três mulheres praticamente debruçadas em cima de um bistrô de madeira, cada uma com uma long neck na mão e rindo. Não demorou muito para Rosângela perceber minha presença e fazer as outras me notarem também.

– Soraya! Falávamos de você.– Ela abriu um espaço para que eu pudesse me aproximar.
– Espero que só coisas boas.– Um sorriso fraco surgiu em meus lábios e fui me aproximando aos poucos.
– Você é um dos meus melhores conteúdos para histórias, sabe disso.– Déborah apertou as mãos em minhas bochechas e me deu um selinho demorado, o que fez Simone e Rosângela trocarem olhares.
– Claro, vou fingir que acredito.– Disse quando ela finalmente me soltou.
– E seu namorado, cadê?– Simone disse em um tom provocativo e logo deu um gole em sua bebida.
– Provavelmente estudando ou dormindo.– Evitei olhar em seus olhos, sabia que ela estava me alfinetando, muito provavelmente por estar chateada comigo.
– Isso faz muito sentido.– Ela nem estava se esforçando para disfarçar na frente das outras.
– Simone... Eu posso conversar com você?– Semicerrei os olhos e balancei a cabeça pedindo para ela me acompanhar.

Ela hesitou por poucos minutos e primeiro terminou sua bebida para depois se afastar da mesa, seguiu andando pela rua e eu acompanhei seus passos sem nem saber para onde ela ia, percebi que virou a esquina e depois se encostou em um carro extremamente bonito que provavelmente era seu. A rua estava vazia e iluminada apenas pelas luzes alaranjadas dos postes.

– O que está acontecendo? – Cruzei os braços.
– Você beija suas amigas e isso não é considerado traição?– Ela foi tão direta que me assustou.
– Simone... Está brava com isso?– Acabei rindo de tão desacreditada e balancei a cabeça em negação.
– Depois você tem a coragem de dizer que sou eu quem te deixa confusa.– Ela estava nitidamente incomodada e aquilo deixava ela absurdamente sexy, mais que o normal.
– Você nunca foi rejeitada antes, não é?– Dei um único passo em sua direção. – Isso te apavora.– Acabei mordendo meu lábio inferior. Não sabia o que estava fazendo, apenas seguindo as vontades do meu corpo.
– O que me apavora é te ver nessa roupa e não te ter para mim.– A voz de Simone estava rouca, ela levou a palma de ambas as mãos até minha bunda e colou meu corpo ao dela. Arfei no mesmo minuto pelo susto.
– Estamos em público, Simone.– Contestei em palavras e não em atitude, fiquei imóvel. O fato dela sempre fazer o que tinha vontade me deixava fraca.
– Eu não me importo.– Ela sussurrou e suas mãos subiram pelo meu corpo e se instalaram em minha cintura, por baixo de minha blusa, apenas para que ela pudesse tocar minha pele que já estava quente.
– Não faz isso comigo.– Meus olhos já estavam fechados, ela estava arrastando a ponta de seu nariz em minha bochecha e eu tinha um gemido travado na garganta.
– Fala que não quer me beijar e eu juro que desisto. – Uma de suas mãos tocaram meu pescoço para controlar o movimento do meu rosto e sua boca quente deslizava no canto da minha.– Fala que não quer me beijar e eu juro que nunca mais te procuro.– Seus olhos encontraram os meus e eu jurava que podia ver reflexos de chamas neles. Ela realmente pegava fogo, Déborah não estava errada. Eu não podia mentir para ela, eu não podia mentir para mim.
– Me beija, Simone.– Falei manhosa e era somente isso que ela precisava ouvir.

A morena inverteu as posições e me pressionou contra o carro, encaixou uma de suas pernas entre as minhas e pressionou ali, enquanto sua boca devorava a minha com uma imensa fome. Aquilo foi o suficiente para me encharcar. Simone era ágil e era cheia de lábia. Sabia exatamente o que falar e quando falar. Sabia exatamente o que fazer e como fazer. Minhas pernas fraquejaram, mas seu corpo preso ao meu não me deixou falhar ali, seus seios fartos se esfregavam aos meus e para ser sincera, era tudo o que eu desejava desde o primeiro dia que bati meus olhos naquela mulher, só não conseguia admitir.

O beijo de Simone era definitivamente o melhor beijo que já provei na minha vida.

Ela se afastou um pouco para conseguir respirar e eu aproveitei para trazer ela de volta para realidade.
– Não podemos fazer isso aqui, é sexta, tem diversos alunos rondando o bairro.– A voz foi quase falha.
– Tem razão.– Ela se afastou aos poucos. – É que você me faz perder o juízo. – Ela limpou o cantinho dos lábios.
– Agora a culpa é minha?– Aproveitei a distância para me recompor e ajeitar a postura.
– Sempre é sua.– Falou em um tom provocativo. – E dessa sua bunda gostosa.– Ela me encarou por completo e eu acabei ficando constrangida.
– Simone!– Bati levemente em seu braço e balancei a cabeça em negação, aproveitei para sair andando na frente e deixei ela me seguir de volta.

Voltamos para o mesmo lugar que estávamos antes e as duas mulheres estavam no mesmo lugar com uma conversa aparentemente empolgada que só foi silenciada quando chegamos.
– Vamos?– Toquei levemente o braço de Déborah.
– Está tudo bem?– Minha amiga nos olhou com uma falsa expressão de confusa.
– Está tudo ótimo.– Respondeu Simone, enquanto olhava para Rosângela e para Déborah com um sorriso perverso nos lábios e ambas corresponderam com o mesmo sorriso. Naquele momento eu acabei entendendo que era um plano delas para comigo, já estava tudo planejado e só eu não sabia. Me sentia uma idiota, mas não podia negar que foi um excelente plano.
– Vamos, meu amor.– Minha amiga cruzou o braço dela com o meu, pronta para seguir comigo de volta para casa e antes que eu pudesse acompanhar ela, aproveitei para chegar pertinho do ouvido de Simone e sussurrei para que somente ela pudesse ouvir.
– Se você ficou assim por me ver com essa roupa... Imagina quando me ver sem nada.– Finalizei o que tinha para falar, mordi meu lábio inferior e me afastei, impedindo ela de dar uma resposta.
– Boa noite, maravilhosas.– Déborah praticamente gritou, enquanto caminhávamos de volta para casa.

Simone me deixava embriagada de desejo.

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