Soraya. - XIV

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Depois de viver o pior dia de todos, dei sequência a uma mudança drástica em minha vida. Troquei de faculdade, onde consegui me formar com êxito. Mudei de cidade e foi nesse novo lugar onde me casei com Carlos César. No início acreditava que eu precisava dele ou não teria nada na vida, percebi com o tempo que eu só precisava de mim e nada mais. Foi assim que me priorizei em todas as decisões, fiz meu nome em movimentos democráticos de rua e contra diversas empresas, me pós-graduei em uma das melhores universidades reconhecidas da cidade que morava e abri meu próprio escritório de advocacia, tudo isso sozinha, sem precisar de um esposo para conquistar. Tá bom, não totalmente sozinha. Déborah se formou e percebeu que não era exatamente o que ela sonhava para sua vida, mudou-se junto comigo e alugou um apartamento ao lado da minha casa, nos encontrávamos todos os dias para almoçar, isso quando ela não passava semanas dormindo no meu quarto de hóspedes. Eu sempre tive certeza de que ela era a parte corajosa que faltava em mim, ou a parte corajosa que eu não enxergava em mim. Se descobriu em jornalismo e na minha opinião, ela era a melhor nesse ramo. Também jurou ser a minha assessora enquanto eu precisasse, ela também fazia isso como ninguém.

Eu mudei, não era mais a mulher que deixava de viver por ter medo de como as coisas poderiam acabar e passei a ser a mulher que se esforçava ao máximo para tudo acabar exatamente como eu desejava. E, novamente, nada disso foi graças ao meu casamento.

Eu passei longos anos sem pensar em Simone. No início foi bem difícil, passava noites em claro tentando entender a tamanha facilidade em me fazer acreditar que tínhamos alguma coisa, mesmo que pouco, alguma coisa que fizesse sentido para nós duas. Ela foi embora sem peso na consciência e aquilo me atormentava por horas na madrugada. Mas teve um dia, em uma semana que eu não me lembro, de um mês que não reparei qual, que ela deixou de me fazer falta. Aprendi a viver com a sua ausência. A solidão já não me assustava mais. Minhas lágrimas não se faziam mais presentes com as lembranças dela, eu não lembrava mais seu cheiro e nem o gosto do seu beijo. Por diversas vezes ouvi falar dela nos lugares que frequentava, por pessoas que também a conhecia do nosso ramo, mas o lugar que antes era ocupado pela saudade da minha ex-professora, passou a transbordar o amor pela minha profissão, pelas causas que eu desejava defender e pela imensa cobiça de ser lembrada. Eu não sentia mais nada por ela. Bom, era o que eu pensava.

Me surgiu a oportunidade de iniciar uma carreira na política e não pensei duas vezes em fazer isso acontecer. Voltei para minha cidade e acabei me elegendo como Senadora. Com uma grande porcentagem de votos válidos, tive a notícia, por oito anos essa ia ser a minha vida. Eu estava dentro.

Depois de quase dezesseis anos, foi ali que eu reencontrei Simone.

Depois de quase dezesseis anos, foi ali que eu reencontrei Simone

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