o pronunciamento :: quatorze

3.4K 315 169
                                    

São Paulo • Caminho da Casa Dos Ferreira
S/N | 🏠

Depois de voltar do hospital, cheguei no apartamento e comecei a arrumar algumas malas pra passar um tempo em Osasco com meus pais.

No dia seguinte acordei com algumas ligações de André e Fabíola dizendo que já entraram em contato com Chay e mandaram a intimação da acusação pra ele. Ambos falaram que seria bom essa minha estadia em São Paulo para caso o juiz perguntasse, a retórica seria que eu precisei de um tempo pra pôr a cabeça no lugar depois do ocorrido. O que não seria totalmente mentira. 

Fora as ligações dos advogados, passei a manhã sem querer falar com ninguém. Quis um tempo comigo mesma pra rever tudo que fiz até chegar aqui. Desde o momento que comecei a tomar minhas próprias decisões, até perceber o quão errado eu as tomei. 

E enquanto eu dirigia até a casa da minha família, percebia o quanto minha vida poderia ter mudado por culpa de uma única pessoa. E essa pessoa seria Antony. 

Se eu tivesse ficado com ele desde a primeira vez, talvez a gente teria evitado muitos problemas que aconteceram. Talvez ele não tivesse tido algo mais afundo com Rosi, ele não teria um filho, porque querendo ou não, é uma responsabilidade e tanto pra uma pessoa de 22 anos. E eu não teria conhecido o Chay, não teria vivenciado na pele o que é uma agressão contra mulher. 

Ali eu me culpei por ter sido tão infantil certas vezes, ou tão teimosa, tão egocêntrica… Não que ele não tenha errado, ele errou, e muito. Mas todo mundo erra.

Acho que pela forma como eu fui criada, como vi a maneira que meu pai tratava minha mãe, achei que acharia um príncipe na minha vida, mas no fim me apaixonei por um ogro. 

Ri sozinha quando percebi que mesmo sendo um grosso com as pessoas, a pose de marra do Antony sempre sumia quando eu estava com ele. E isso acontecia desde quando éramos crianças. 

E ali eu percebi que realmente queria ficar com ele, queria estar com ele, ser dele. No momento isso era impensável, mas acho que quando a poeira baixar, podemos tentar algo. Porém o que me preocupa agora, é Chay sair impune do que fez, então resolvi essa viagem para ficar afastada dele.

[...]

⸺ Mãe, mas como a senhora vai no mercado as cinco da tarde? Eu tô com fome! ⸺ resmunguei no telefone quando cheguei na frente da casa e meus pais não estavam. 

⸺ Por favor, S/N! Você acha que a gente vive a que? Vento? ⸺ minha mãe brigava do outro lado. ⸺ Já estamos na rua de casa. 

Ela não deu tempo de eu falar um tchau e logo desligou a chamada. Me sentei no capô do carro olhando a casa, mas logo ouvi uma buzina atrás de mim, me virei e vi meu pai eufórico chegando no portão.

Enquanto eles entravam, fui pra dentro do carro e coloquei ele de qualquer jeito no pátio da frente do casarão. Desci rápido e logo senti meu pai me abraçar. 

⸺ Eduardo, deixa a menina descer do carro! ⸺ escutei minha mãe rindo e se aproximando de nós. 

⸺ Cala a boca, Andreia! Olha quanto tempo que a nossa jujubinha ficou fora! ⸺ ele disse ainda me esmagando. 

⸺ Saí! ⸺ minha mãe deu um tapinha nele. ⸺ Ela também é minha, acho que tenho direito a um abraço também. 

Logo meu pai bufou e me soltou, tirei o cabelo do rosto e logo eles me olharam assustados. Então lembrei do roxo perto do olhos. 

⸺ S/N Ferreira, o que é isso? ⸺ minha mãe falou séria. 

⸺ Eu quero explicar pra vocês tudo direitinho. Mas antes quero um abraço, tô doida de saudade. ⸺ falei e vi meu pai me puxar pra outro abraço. 

𝐄𝐗𝐏𝐄𝐂𝐓𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍 | ANTONY MATHEUS Onde histórias criam vida. Descubra agora