Não seja um leitor fantasma, comentem muito e deixem suas estrelinhas, vamos interagir.
Jimin:
Uma hora depois, estou sentada no sofá da sala de jogos de Taehyung. Metade dos meus antigos amigos está do outro lado da sala; metade está aqui.
Ainda me sinto como se houvesse uma multidão à minha volta. Sinto... como se não pertencesse a este grupo.
Lisa está falando sobre a leitura de Grandes Esperanças, de Charles Dickens.
– É uma chatice – digo. – Não consegui terminar.
Lisa ofega.
– É um clássico!
– Classicamente entediante.
– Você é muito inteligente para dizer isso – diz Jiso.
Me lembro que, às vezes, Jiso e Lisa são bem esnobes quando falam de livros.
– Inteligência não tem nada a ver com isso – respondo.
– Isso pode te fazer ser expulsa do clube do livro, sabia? – diz Lisa, brincando.
Ou talvez não seja uma piada. Talvez eu não me encaixe mais no clube do livro. Mas eu fundei o clube. Como poderia não me encaixar?
– Tenho lido romances água com açúcar – deixo escapar, e não sei se é porque quero provocá-los ou por outro motivo qualquer. Mas já falei. Agora é aguentar o tranco.
Jiso solta uma risada.
– Você está brincando, né?
– Não. Encontrei uma caixa cheia de romances que pertenciam à minha avó.
– Muito bem, vovó! – diz Myung. Sinto que ele está tentando me mostrar que está do meu lado. Um pouco perto demais para estar só ao meu lado. As costas da mão dele tocam a minha e penso em Yoongi. O toque dele. Seus olhos tristes. Minha grosseria.
Mudo de posição. Recupero alguns centímetros no sofá.
– Não se preocupe – diz Jiso. – Vou dar uns bons livros para você ler e livrar você de todo esse lixo de amor.
Lixo de amor? Desde quando amor é lixo?
– Pensei que o clube do livro estivesse aberto a todos os gêneros.
Todo mundo me olha como se eu estivesse louca.
Myung fala:
– Lisa concluiu que precisamos mais de cultura do que de diversão. Mas nós lemos nossas próprias coisas paralelamente. Só não contamos a ela. – Ele abre um sorriso para Lisa.
– Acho que um livro pode ser ao mesmo tempo divertido e muito importante – digo.
– Claro! – O tom de Jiso é quase apaziguador.
Fico sentada ali, mergulhada na frustração e imaginando quanto todo mundo mudou. Então algo me ocorre. Eles não mudaram. Eu é que mudei.
Primeiro tive coragem de expressar a minha opinião em voz alta. Eu não costumava fazer isso. Guardava minhas opiniões para mim mesma... se tivesse alguma.
Lembro-me de alguém escrevendo num dos meus anuários: Park Jimin, que mais sabe ouvir do que falar.
Na hora seguinte, não falo mais nada. Só me forço a ouvir. Tentando encontrar a mim mesma.
Mas nada do que falam se parece comigo. Eu me levanto.
– Quer alguma coisa? – Myung pega no meu braço.
Não, a menos que você possa fazer xixi por mim.
– Vou ao banheiro – digo, tentando não demonstrar minha irritação e não empurrá-lo para longe.
Dou alguns passos, surpresa ao ver que Myung não me segue. Desde que cheguei, ele está colado em mim como velcro. Quase posso ouvir o barulho irritante do velcro descolando quando me afasto um pouco dele.
A ideia de estar em casa, aconchegada no sofá com um livro, me parece muito mais atraente do que estar ali, com ele na minha cola. Mas, se eu forem bora, vou magoar Taehyung. Ela planejou essa festa para mim. É a minha festa de boas-vindas, uma chance de eu me reconectar com a minha antiga vida.
Eu estava ansiosa por essa festa também. Que diabos aconteceu?
– Merda!
Todos me olham. Então percebo que eles nunca tinham me ouvido dizer "merda". A Antiga Jimin não dizia "merda".
– Foi mal – murmuro, então me odeio por ter me desculpado.
É como se a Nova Jimin ficasse pisando em ovos perto da Antiga Jimin. Perto dos amigos da Antiga Jimin.
Saio da sala. Taehyung deixa o namorado pela primeira vez e me segue.
– Não há nada de errado com ela – ouço Myung dizer.
Olho para trás, sabendo que estão falando de mim. Apesar de irritada coma atenção de Myung, isso me faz lembrar por que eu gostava dele.
Ele é inteligente, carinhoso e defende as pessoas. E está ainda mais bonito do que eu me lembrava. Seus ombros estão mais largos, seus braços mais musculosos, seu rosto mais esculpido. Qualquer garota ficaria feliz de tê-lo aseu lado.
Então, por que não me sinto feliz?
Por que continuo pensando em Yoongi?
Taehyung entra comigo no banheiro. Sentada no gabinete da pia, ela me assiste fazendo xixi. Nós desistimos de todo recato uma com a outra desde a aula de Educação Física no sétimo ano.
Sempre nos revezávamos ao vestir a roupa de ginástica. Uma de nós se vestia enquanto a outra ficava de olho em Irene, a valentona da classe, para impedi-la de abrir a cortina do vestiário edeixar que todos nos vissem nuas.
Nossa, não pensava em Irene havia um tempão! Não quero nem vê-la novamente. Mas algo me diz que, quando a encontrar, não vou mais tolerar brincadeiras de mau gosto. Como é triste precisar quase morrer para aprendera se defender...
– Você contou a Yoongi que acha que está com o coração de Siwon? – Taehyung esfrega as mãos à espera de notícias suculentas. Ela pergunta como se a coisa toda fosse um grande barato.
Eu não acho que seja um grande barato. Na verdade, agora que sei que Yoongi tem os mesmos sonhos que eu, acho tudo muito assustador. É como se Siwon estivesse tentando falar conosco. Como se ele quisesse justiça. Como se quisesse que nós fizéssemos justiça.
Mas eu não acredito em fantasmas. Ou não acreditava. Não que tenha visto um. Mas hoje, quando vi Hyeri, acho que senti um. Senti Siwon dentro de mim, até me perguntei se ele teria poder de me obrigar a fazer coisas. Como ir ao parque à beira da estrada.
Calafrios percorrem meu pescoço como aranhas minúsculas.
Então percebo que existe algo que me assusta mais do que pensar numa pessoa morta dentro de mim: pensar em mim tentando encontrar a pessoa que matou Siwon.
Tenho certeza de que essa pessoa não quer ser encontrada. Tenho certeza de que, se matou uma vez, pode matar de novo. Tenho certeza de que não quero ser sua próxima vítima.
Faço uma lista de possibilidades na minha mente. Então outro pensamento me assombra.
Yoongi e eu passamos por uma grande provação. E se estivermos interpretando os sonhos apenas para que isso nos ajude a enfrentá-la?
E se nada disso for real?
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Me And My Hearth (Yoonmin)
ChickLitPark Jimin, de 17 anos, não tem coração. O que a mantém viva é um coração artificial que ela carrega dentro de uma mochila. Com seu tipo sanguíneo raro, um transplante é como um sonho distante. Conformada, ela tenta se esquecer de que está com os di...