A Proposta

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Violeta Camargo Tapajós, esposa do juiz Matias Tapajós e sócia na Tecelagem Tropical, ficou paralisada em descrença enquanto as palavras de seu marido pairavam pesadamente no espaço entre eles. Seus lábios se separaram quando uma respiração estremeceu através deles.

- Meu Deus, Matias... Como você tem coragem de me propor algo como isso? O que você pensa de mim? Do nosso casamento?

- Por favor, apenas me ouça, querida... (Ajoelha-se em frente da esposa, que por sua vez, estava sentada em uma poltrona no quarto do casal) Violeta, nós estamos há anos esperando pelos filhos que nunca chegaram. E precisamos ser realistas, eles nunca chegarão. Nós sabemos onde está a falha... (Fala enquanto acaricia o ombro dela, alisando os dedos pela seda azul clara de seu roupão)

- Continuaremos tentando exatamente como temos feito. (Ela cruzou os braços sobre o peito defensivamente e, por um momento, eles simplesmente se encararam)

- SÃO SEIS ANOS, VIOLETA. SEIS ANOS! VOCE ENTENDE A DIMENSÃO DISSO? (Altera sua voz, fazendo com que ela se assustasse, encolhendo os ombros e saindo de seu alcance) É hora de aceitarmos que eu nunca vou poder ser pai de um filho. Tudo culpa daquela maldita caxumba. (Esfregando a mão na testa, tentando aliviar a dor surda que se instalara ali)

Violeta já estava pronta para argumentar e refutar aquela maldita ideia, mas ao abrir a boca para falar, ele a cortou.

- Me deixe terminar. (Ele respirou fundo e continuou) Nós precisamos de um herdeiro. Alguém para perpetuar o meu nome e o meu legado. Estou farto de todos aqueles homens do fórum se vangloriando porque tem uma família completa e filhos, enquanto eu não sou capaz nem de engravidar a minha mulher. Eles duvidam até da minha capacidade de homem. Eu sou uma piada para eles, Violeta. Um juiz renomado, rico, mas que é incompleto porque não gera descendentes. Eu preciso de herdeiros, pombas!

- Mas não seria um herdeiro Tapajós. (Foi rápida na resposta)

- Não será nem o primeiro, muito menos o último herdeiro menos do que legítimo neste mundo. Principalmente na linhagem dos Camargos, que tem anos e mais anos de uma geração forte e importante nos engenhos de cana de açúcar. Você não imagina quantos dos seus ancestrais foram concebidos em algum tipo de encontro sórdido na despensa da cozinha.

- Como você ousa falar uma coisa dessas, Matias? É impressionante como você faz pouco caso de toda essa situação e como olha apenas para si mesmo. Quando na verdade sou eu que tenho que aguentar todas as piadas desrespeitosas de todos ao nosso redor, que insistem em dizer que não sou capaz de cumprir com meu dever de esposa e de te dar um herdeiro. E mais, ainda dizem que se eu deixasse essa ideia absurda de trabalhar fora e ficasse em casa, bela, recatada e do lar, finalmente seria capaz de dar o filho que você tanto deseja.

- Está vendo, Violeta? Até deixar você trabalhar fora, eu deixei. Poucos maridos iriam permitir que suas esposas passassem boa parte do dia trabalhando em uma tecelagem com vários homens ao seu redor. MAS, EU DEIXEI. E como você me retribui? Negando-me algo que vai permitir que nós dois pudéssemos realizar o nosso maior sonho, que é ter um filho. Nós iremos calar a boca de todas essas pessoas que riem pelas nossas costas, Violeta.

A morena estava recolhida no canto oposto do quarto, com sua mente fervilhando com todas as palavras que seu marido havia jogado sobre ela, sem ter piedade alguma com seus sentimentos e seu caráter.

- Eu posso escolher? Ou você está planejando selecionar o homem de sorte você mesmo? O homem que tem a honra de engravidar a esposa do grande juiz Matias Tapajós?

- POMBAS, VIOLETA! (Ele gritou, agarrando-a rudemente pelos braços e puxando-a para ele) Você acha que isso é fácil para mim? É humilhante. As especulações dos meus colegas de trabalho, os burburinhos dos moradores da vila, as risadas que eles dão as nossas custas...

Gerar um Herdeiro - A PersonificaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora