Sinto que em um ano de vida da Luísa eu envelheci uns cinco. Olhar meu reflexo de olhos fundos e cabelo desgrenhado na janela do ônibus me mostra como eu esqueci de mim.
Mas isso é apenas uma observação. Difícil vai ser chegar em casa e ter que dizer a minha mãe que infelizmente não fiquei no trabalho.
Passei o dia esfregando vaso sanitário, pra no final de expediente o Edoardo do RH me dispensar.
Estou preocupada em como dar essa notícia.
Desci no meu ponto e fui caminhando pra casa. Minhas pernas estavam queimando por todo o esforço com aquele carrinho hoje e minha cabeça estava a ponto de explodir. Chegando no portão de casa encontro minha tia Vera e duas vizinhas que sempre estão fazendo fofoca da vida alheia na rua.
- Boa noite- digo sem parar, abro o portão que leva as kitnets do fundo.
- Camila - ela me chama e eu paro sem me virar - No próximo mês preciso que comece a pagar o aluguel. Agora que você já começou a trabalhar.Pensei em lhe contar que fui dispensada do serviço. Mas só daria mais motivos pra ela e as vizinhas falarem da nossa vida. Disse a ela que no próximo mês irei pagar o aluguel e continuei andando.
Quando entro em casa me deparo com minha mãe e Luísa dormindo no sofá enquanto a novela das nove passa na televisão. Me sento no puff e fico ali em silêncio por alguns minutos, tentando reorganizar meus pensamentos e formular alguma saída, um plano. Qualquer coisa.
- Já chegou filha- sussurra minha mãe assim q abre os olhos.
- Não queria acordar vocês- Respondo
- Luísa brincou muito e acabou dormindo.
Pego Luísa no colo e levo ela pro berço. Não consigo encarar minha mãe agora e nem consigo contar a verdade a ela. Parece que estou perdida no tempo, atrasada. Eu vejo a vida de todo mundo se encaminhar, vejo as pessoas felizes e me pergunto porque eu também não posso ser feliz? Porque as coisas nunca dão certo quando é pra mim?
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas mas não as deixo cair. Não posso me dar o luxo de ficar triste e deixar a peteca cair.
Minha mãe vem me sustentando e sustentando a Luísa como pode. Eu me sinto um estorvo e me sinto em dívida com ela.
Depois do banho coloquei meu colchão no chão e deitei. Não conversei com minha mãe como sempre faço. Disse que estava cansada e precisava dormir pra amanhã ir trabalhar. Menti eu sei.
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Agora sou MÃE!
Roman pour AdolescentsCamila luta para sustentar sua filha aos 18 anos. Sem emprego e morando na casa de sua mãe ela passa por grandes dificuldades até começar a trabalhar em uma grande empresa de faxineira e conhecer um novo caminho para se reerguer.