Capítulo I

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Em uma noite densa de Manchester, na porta de uma taverna popular da cidade, um jovem detetive segurava um pedaço de papel indicando o endereço do turbulento local. Havia reunido coragem para encontrar a pessoa que levou dias para localizar.

Abriu a porta cobrindo o rosto, sua presença atraiu a atenção de alguns clientes. Endireitou sua boina e olhou em volta procurando por ele. Pensou em pedir informações, mas era tímido demais para abordar estranhos. Amassou o papel ao som estridente vindo do piano, seu olhar fixo no pianista de costas, vestido em traje formal. Seu cabelo escuro chamou a atenção do detetive. A mulher ao lado segurava o blazer do músico, enquanto ele se concentrava nas teclas. Tocava uma melodia, brincando com todos ao seu redor, que mantinham a atenção apenas nele. O pianista amador sorriu sedutoramente para as mulheres ao seu lado.

- O Sr. Gullit é um homem encantador! - O homem terminou de tocar e olhou para trás, recebendo uma visita inesperada. Encontrou um rosto que não via há anos.

- Christian Cooper - chamou sorridente. - A que devo a honra da sua visita? - Pegou o uísque que a garçonete ofereceu e deu um gole. Sentou-se na outra mesa e esperou que o detetive fizesse o mesmo.

Assim que se acomodou à mesa, o jovem colocou a maleta sobre o tampo, abriu-a e tirou os documentos, entregando-os ao homem de olhos azuis.

- Necessito da sua ajuda, Sr. Gullit - pediu ao velho amigo. - Preciso das suas habilidades.

Roman semicerrou os olhos, colocou seu copo ao lado e ajeitou a postura, enquanto o mais novo sentiu frio na espinha com o olhar sério do homem.

- Christian Cooper, lamento muito que sua viagem tenha sido uma perda de tempo. - Roman encerraria o assunto, mas o rapaz segurou seu braço. - Infelizmente não posso ajudá-lo, passar bem!

- Por favor, Sr. Gullit! - Olhou no fundo dos olhos dele. - Você é o único que pode me socorrer!

Ele encarou os olhos inocentes do jovem detetive, apenas um lampejo de esperança em seus olhos azuis. Roman suspirou profundamente e sentou-se novamente. Christian separou as fotografias, pegou a primeira e a entregou.

Na primeira imagem, havia uma mulher com o rosto desfigurado. Ela estava deitada no chão com os olhos abertos.

- Que merda é essa, Christian?! - indagou com a figura em suas mãos.

- Esta é Carrie Bennet. Foi encontrada por volta das três e quarenta da madrugada no terreno em frente à entrada de um estábulo em Bocks Row.

- Causa da morte? - perguntou.

- Sua garganta sofreu dois cortes profundos, e a parte posterior do abdômen foi parcialmente arrancada por um golpe intenso e irregular. - Roman bebericou mais uma vez sua bebida e pegou a outra fotografia. Uma mulher de cabelos escuros ondulados, seu rosto desfigurado e suas vestimentas ensanguentadas. - Esta é Elsie Nelson. O corpo foi descoberto perto das seis horas da manhã no quintal de uma casa em Hanbury Street, Spitafields. Assim como Carrie Bennet, sua garganta foi aberta por dois cortes, um mais profundo do que o outro. O abdômen foi completamente aberto, e o útero, removido.

- Ambas tinham alguma ligação?

- Não, elas não se conheciam.

- Testemunhas?

- Perguntamos por toda a vizinhança e não conseguimos nenhuma declaração consistente.

O detetive leu os papéis das testemunhas, nenhuma delas dera uma declaração válida para a investigação, todas falavam praticamente a mesma coisa.

- É, meu amigo, esse homem é um lunático. - Não era a primeira vez que via corpos mutilados, mas há muito tempo não via um criminoso passar despercebido. - Para sua sorte, estou de folga e irei acompanhá-lo a Londres.

- Isto é uma carnificina, Sr. Gullit, os corpos mutilados desta forma. Pergunto-me como ele consegue dormir!

- Psicopatas sentem prazer na dor que causam aos outros e depois matam sem nenhum remorso. - O jovem suspirou com a resposta verídica, a maldade do ser humano estava longe de acabar. Christian acenou com a cabeça melancolicamente. Sentiu-se esgotado, seus nervos à flor da pele ao imaginar o sofrimento daquelas mulheres.

- Esse homem está me dando dor de cabeça!

- Vamos nos apressar! - afirmou.

Christian fixou o olhar no velho amigo e reajustou a boina, pegou as fotos e colocou-as de volta na pasta.

- Sr. Gullit! - chamou a atenção do mais velho. - Obrigado!

- Não me agradeça ainda, garoto. Nós temos muito trabalho a fazer! - Ele piscou para o jovem, levantou-se e depositou o dinheiro da bebida na mesa.

...

Os dois caminharam em direção à saída. Ao passarem pela porta da taverna, ficaram em silêncio, ambos pensando no assassino. Ao voltar às memórias do triste fim das mulheres sacrificadas por um psicopata excêntrico, a intuição de Roman dizia que havia algo por trás daquilo tudo. Sentiu algo familiar chamar por aquelas fotos. Suspirou ao se lembrar de que voltaria para aquela cidade, onde deixou seus demônios do passado para trás.

Jack, o Estripador e o cavaleiro do infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora