Soulmates

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“Aquiles é metade da minha alma, como dizem os poetas"

A estátua em minha frente era bela e melancólica, despertando a mais profunda tristeza em mim como em todas as vezes que eu a via.

Enquanto olhava a figura de Aquiles segurando, em seus braços, Pátroclo atravessado por duas lanças, meu peito doía e minha garganta se fechava com lágrimas.

Nunca pude entender o porquê, mas havia algo que sempre me atraia para esse monumento, que me fazia olhar por horas e horas hipnotizado, enquanto imagens borradas e sons que eu nunca poderia ter vivido me atingem.

—Você está bem?—me sobressalto com a voz ao meu lado, saindo de meu estupor. Olho para a pessoa que acabou de falar e minha respiração falha com tamanha familiaridade que me atingiu, sua pele era muito mais clara que a minha, quase como o leite e desprovida de imperfeições, os cabelos tão dourados como ouro emolduravam suas feições. Os olhos verdes profundos que tinham um brilho peculiar imediatamente calaram os sussurros que apenas eu parecia escutar e a paz reinou em minha cabeça pela primeira vez em toda minha vida.—Ei, você está passando mal ou algo assim?

Pisquei, tentando afastar o sentimento, mas era inútil, minha boca se abria e fechava, mas não consegui formar nenhuma frase inteligente. Durante toda minha vida eu fui seguido por sussurros e sons, meus sonhos sempre foram cobertos de imagens borradas de pessoas, fogo e gritos, outrora eram risadas, jatos de água, um lira e uma linda voz cantando. O silêncio era desconcertante, mas ao mesmo tempo, reconfortante.

—N-não—gaguejei, percebendo que ele estava me olhando com tanta intensidade quanto eu o olhava—Quer dizer... estou bem, obrigado.

Então o estranho sorriu e desviou seu olhar para a estátua, notei seu sorriso se desvanecendo tão rápido quanto veio.

—Dizem que eles eram amantes—sua voz reverberou por todo meu ser—e que a morte de Pátroclo foi o catalisador para o fim da Guerra de Tróia, fazendo Aquiles ir atrás de Heitor somente por sua sede de vingança.
Pigarreei, sentido minha garganta se fechar mais uma vez e as lágrimas virem aos meus olhos.

—É uma história trágica—consegui murmurar, eu já conhecia aquela história, sempre fui obcecado por mitologia grega, mas aquela sempre fora a minha favorita.

—Os deuses não eram benevolentes com heróis—o outro murmurou, encarando o monumento como se estivesse em transe.—Houve algum que foi verdadeiramente feliz?

Cite um herói que tenha sido feliz, veio em minha mente, eu serei o primeiro.

—Perseu, talvez—eu brinquei, embora meu coração ainda martelasse com tamanha força que eu achava que pudesse ser ouvido de longe.

Perseu tinha sido um semideus filhos de Zeus, cortara a cabeça de medusa. Ele se casou, teve filhos, fundou uma cidade e foi um governante, um dos poucos heróis que não morreu jovem.

De repente aqueles olhos verdes arrebatadores estavam em mim novamente, me deixando desconcertado.

—Você vem muito aqui?—o outro perguntou, franzindo o cenho—Sinto que já te vi antes.

—Sim, venho. Estranhamente também sinto o mesmo por você, embora tenha certeza que nunca nos encontramos antes.

—Eu sou o Alex—ele estendeu a mão.

—Patrício, mas acho que pode me chamar de Pat.—Quando apertei sua mão, senti como se o mundo houvesse parado de girar e tudo a nossa volta tivesse congelado. Um choque se espalhou por meu braço e eu arregalei os olhos, sentindo minha visão desfocar e minha cabeça girar por um momento antes de tudo se estabilizar.

Always With You - Pátroclo and AquilesOnde histórias criam vida. Descubra agora