Medos

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Agora

1 de janeiro de 2019

Pedro Tófani

Durante muito tempo eu me senti preso, preso em mim mesmo e em todos os meus monstros que um dia fizeram parte da minha vida. Acho que tudo isso foi importante para a minha evolução, todas as minhas dores curaram e viraram cicatrizes da alma para mostrar o quanto lutei para chegar aqui.

Por outro lado, apesar de carregar tantas cicatrizes comigo eu continuo me achando fraco, fraco principalmente quando tenho que encarar o pior dos meus medos.

Costumo pensar que tomei a melhor das decisões masmo assim isso não a torna menos difícil de enfrentar, mas sempre que eu penso em desistir, largar tudo para o alto e ir correndo atrás dele eu me lembro que não estou fazendo isso por mim, e sim por ele. Sempre será por ele.

É muito complicado falar das minhas dores abertamente mas as vezes sinto como se elas estivessem me sufocando.

Vivemos tudo intensamente, e isso teve mais ponto negativos do que positivos, Jão é isso, intenso, mas imaturo, e por mais que eu ame ele eu não poderia ver ele se sujeitar a certas coisas, porque além dele ter sido meu namorado, em primeiro lugar ele foi meu melhor amigo, e eu como amigo não podia mais vê-lo em uma situação como aquela sem o deter.

Não era como se eu não soubesse da sua dependência emocional em mim, de certa forma eu só fechei os olhos, eu precisava fazer isso, porque concerteza se eu tivesse dimensão de como isso estava prejudicando não só ele como o nosso relacionamento, eu já teria dado fim a tudo isso muito antes.

Lidar com o João Vitor nunca foi difícil, na verdade essa era uma das coisas que eu mais gostava na nossa relação, era tudo muito simples e fácil, algo natural, mas sinto que com o passar do tempo tudo começou a pesar. Não sei em que ponto nos tranformamos nisso, mas quando notei já era tarde demais para deter, estávamos sendentos a viver um relacionamento medíocre e raso.

Desde que terminei com João, no início do mês passado, venho frequentando sessões de terapia, Malu me aconselhou, disse que era o melhor para mim. Sinceramente achei que fosse balela, não porque não acredito nesse tipo de coisa, na verdade acho que o melhor caminho é a terapia, mas porque eu simplesmente achei que não precisava, esse era o meu lado tóxico, eu sempre acho que estou bem, mesmo que todos percebam que estou desmoronando, algo muito complicado de interver, eu nunca assumirei isso e nem muito menos demonstrarei. Entretanto, para a minha surpresa durante as sessões de terapia eu descobrir que isso era exatamente o que eu precisava.

Eu descobrir que eu podia sofrer, tudo bem chorar, afinal as dores nos fazem sermos mais fortes, faz bem sentir a dor do fim, que por muito tempo eu lutei para camuflá-la.

Sem dúvidas o que mais me machuca em tudo isso é saber que sou eu, exclusivamente eu o causador da sua dor diária.

Dói nele o tanto como dói em mim.
Se ele estiver em chamas eu já serei as cinzas.

Esfrego o meu rosto com as mãos tentando me livrar das lembranças da madrugada passada que insistem em aparecer, mas nada faz elas sumirem.

- Alô.

Ouço o seu soluço do outro lado da linha e imediatamente meu coração se afunda mais no peito.

- Jão, você 'tá chorando?

Eu só consigo ouvir os seus gemidos agonizantes.

- Jão!
Meu coração acelera e eu só consigo pensar em tirá-lo da onde quer que ele esteja e o levá-lo de volta para mim, para os meus braços.

Entre Linhas e Ruínas ᵖᵉʲᵃᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora