I - Competent my ass

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Verônica chegou na delegacia, se direcionando diretamente para sua mesa. Enquanto passava, seus colegas a cumprimentavam:

- Bom dia, Verônica.

Ela respondia com um aceno com a cabeça. Não estava com muita paciência naquele dia em específico.

Ela se sentou a sua mesa, ligando o computador. Bufou, pegando a pilha de casos que tinha em cima da mesa e direcionando um olhar fulminante para a frente.

O lugar para o qual ela fuzilava com os olhos era a sala, transparente e coberta por uma grande janela de vidro, que pertencia a delegada Anita Berlinger; delegada esta que estava nesta mesma sala, distraída com seu próprio trabalho.

Verônica nunca tinha gostado de Anita; não precisava de motivo específico para se irritar com ela. Mas, dessa vez, havia um: elas tinham tido mais um embate no dia anterior, com a delegada humilhando a escrivã mais uma vez na frente de todos os seus colegas de trabalho. Além disso, não satisfeita, Anita tinha mandado Verônica digitalizar dezenas de casos velhos da delegacia - só para irritar. Verônica odiava burocracia, e Anita sabia.

- Bom dia, Verônica. - Disse uma voz masculina sorridente. Era Nelson, o melhor amigo da escrivã naquela delegacia.

- Que bom dia, Nelson? - Questionou Verônica, arrancando uma risada do amigo - Ainda tenho um monte desses arquivos pra digitalizar. Que saco. - Reclamou a escrivã - Tudo por causa daquela bruxa.

Nelson soltou mais uma risada, pegando algumas pastas de arquivos para ajudar Verônica na organização.

- Você sabe o que a Anita faz quando é contrariada, principalmente por você. - Disse ele, abrindo a pasta - Não sei porque você ainda se surpreende, na verdade, ainda não sei porque você ainda insiste em provocar ela.

- Eu provoco ela, Nelson? A mulher me odeia! - Exclamou Verônica - Eu não faço nada e ela acha motivo pra infernizar minha vida!

- Sim, pois é, mas é isso que tô dizendo, se ela é assim sem nenhum motivo, imagina você dando motivo pra ela? É isso que tô querendo dizer.

- Eu gosto mais de você quando tá calado. - Cortou Verônica, e Nelson riu mais uma vez - Se for pra me ajudar, me ajuda em silêncio.

Ainda com a expressão divertida, o guru da tecnologia da delegacia obedeceu, abrindo os casos e simplificando a organização deles, mas em silêncio. O celular de Verônica vibrou, e ela o pegou para conferir o que era. Era uma mensagem de Paulo, informando que já tinha conseguido pegar as crianças e que estava tudo certo.

Verônica suspirou, aliviada. Os meninos tinham ido dormir na casa de um amigo, e iriam para a casa do pai depois para passar a semana com ele. Sabia que Paulo cuidava muito bem dos filhos e racionalmente tinha noção de que nada iria acontecer com eles, mas sempre que estava longe das crianças só conseguia respirar aliviada quando estavam na presença do pai.

- Ai, o Paulo pegou as crianças. - Comentou ela - Graças a Deus.

- Que bom. - Respondeu Nelson - Como tá a situação de vocês? O divórcio tá dando muita dor de cabeça?

- Sinceramente, meu divórcio tá sendo o menor dos meus problemas. - Disse ela - Tá sendo muito tranquilo, de verdade. Meu casamento com o Paulo acabou porque viramos amigos, só amigos. A gente ainda se ama e respeita muito, só não daquele jeito... Funcionamos melhor como amigos mesmo, então foi assim que decidimos permanecer.

Nelson assentiu, sem falar nada. Verônica sentiu um pouco de pesar no coração. Ela sabia que Nelson sempre nutriu esperanças de ter alguma coisa com ela, que talvez depois do divórcio com Paulo, ela pudesse olhar para ele; mas não adiantava. Ela só o via como seu melhor amigo. Não conseguia ultrapassar disso.

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