XVI - Get off me

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Elas abriram a porta do quarto em euforia, Verônica ainda no estado de adrenalina depois de conseguir extrair informações de alguém sozinha. Anita ria da animação quase infantil da escrivã, como se estivesse vendo uma criança que acabara de ganhar um prêmio.

— Tá, agora a gente tem que ver como que chega em Seropédica. – A delegada ainda ria – Antes que eles saiam e a gente acabe perdendo.

— Acho que dá pra gente alugar uma moto. – Verônica se jogou na cama, os braços abertos ao lado do corpo – É mais rápido e barato.

Anita concordou.

— Você providencia isso enquanto eu pesquiso o caminho pra Seropédica? – Pediu a delegada.

Verônica estralou os dedos por sobre a cabeça e se levantou, sentando-se na cama.

— Trouxe o computador?

Logo, a escrivã estava sentada na cama, de pernas cruzadas, o notebook em seu colo, enquanto Anita mexia no celular sentada à escrivaninha que ficava no quarto. Depois de entender mais ou menos aonde ficava a cidade de Seropédica, ela passou a monitorar o telefone clonado de Flávio.

As últimas mensagens trocadas no celular diziam apenas que, sim, iriam se encontrar com alguém em Seropédica, uma pessoa a quem se referiam apenas como P, para fazer o que estavam chamando de "troca". Anita tentou raciocinar sobre o que aquela letra significaria. Inicial de um nome? Inicial de um cargo? Uma letra aleatória? Talvez cada contato representasse uma letra do alfabeto? Não sabia dizer com tanta escassez de informações.

Enquanto procurava alguma pista, Flávio recebeu mais uma mensagem no celular, enviada por um contato salvo apenas como "Serviço" - algo muito estranho. Eram coisas completamente aleatórias, e Anita chegaria a crer que era algum erro, mas Flávio respondeu a mensagem com um "ok" quase que imediatamente.

Ouvindo Verônica falar ao telefone com uma empresa de aluguel de veículos, mas sem dar muita atenção, a delegada colocou o celular que mostrava a tela clonada na mesa, olhando-o atentamente. Ela analisou a mensagem estranha, a testa franzida.

Todas as letras, embaralhadas e aleatórias, estavam em caps lock.

IDCHQGD FDALDV
MRDR IHUQDQGHV GH ROLYHLUD
GHCHVVHLV KRUDV
VRCLQKR

A mensagem por si só já intrigava Anita, mas tinha alguma coisa nela que a incomodava. Ela não fazia nenhum sentido, mas era como se... Como se fosse familiar a Anita. Como se fosse aquelas situações em que o brasileiro não fala espanhol, mas vê a frase hispânica escrita e, quebrando a cabeça o suficiente, consegue deduzir o significado e ler por identificação.

A delegada reconhecia aquilo de algum lugar, quase fazia sentido, ela só não conseguia cravar o que era... Estava na ponta da língua...

E foi quando ela prendeu o olhar na última palavra, VRCLQKR, que ela conseguiu lembrar.

Anita conseguia traduzir aquilo.

Ela abriu a bolsa e pegou um caderninho e uma caneta, começando a tradução. O método utilizado havia sido o mais simples, então não iria demorar tanto.

Verônica desligou o telefone e se aproximou.

— Pronto, tudo certo. – Disse a escrivã – Agora é só...

— Shh. – Fez Anita – Deixa eu terminar isso aqui.

Verônica olhou para o que a delegada estava fazendo, por cima do ombro da mesma. Havia uma coisa completamente sem sentido na tela do celular e dois alfabetos inteiros escritos no caderno, com setas entre algumas letras.

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