VI - Leave me alone

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Anita dizia para Carvana exatamente o que acontecera e as conclusões que tirara sobre o caso; o delegado geral ouvia tudo com atenção - diferentemente de Verônica.

A escrivã não conseguia ouvir o que Anita dizia, ou o que Carvana respondia, nem nada do que estava sendo debatido naquela sala. Antes nervosa pela perspectiva de não conseguir se concentrar durante o resto do dia por conta do que acontecera com Anita no dia anterior, agora Verônica ainda tinha que superar o nervosismo que corroía seus ossos após ouvir a delegada falar aquelas coisas para ela na sala apenas minutos antes.

Ter Anita sussurrando em seu ouvido todos os motivos pelos quais ela sabia que Verônica tinha gostado do que acontecera era capaz de fazer a escrivã perder completamente a cabeça. Não só porque a afetava de tal maneira que seu corpo ainda estava reagindo às provocações da delegada, mas também porque obrigava Verônica a pensar, a lidar com algo que não estava nem um pouco disposta: ela havia gostado do sexo com Anita?

E a resposta era sim. Muito. Muito mais do que gostaria de admitir.

- Verô, tá tudo bem? - Era a voz de Carvana - Tá calada, perdida. Parece que tá em outro lugar.

A voz do padrinho fez a escrivã sair de seus pensamentos e voltar a realidade. Os dois delegados a encaravam, esperando que ela desse algum sinal de vida. Ela piscou algumas vezes.

- Hã... - Verônica pigarreou - Não é nada não, Carvana. Tava me lembrando de... - Ela automaticamente levou o olhar para Anita, que ergueu as sobrancelhas, divertida - De quando a gente entrou no apartamento, antes de achar as drogas. Pra ver se lembrava de alguma coisa estranha. Acabei me distraindo, desculpe.

Carvana assentiu, aceitando a desculpa de Verônica. Anita abriu um sorriso divertido, tentando segurar a gargalhada, achando a situação o melhor dos entretenimentos.

- Olha, o caso tá ficando mais sério. - Continuou o delegado geral - Quero mais atenção de vocês duas nisso. Vão atrás desse cara do apartamento com cuidado redobrado, ele pode ser maior do que a gente tava esperando.

As mulheres assentiram. Anita colocou os papéis que segurava em cima da mesa de Carvana.

- O cara do apartamento é esse aí. - Ela apontou para as fotos que estavam nos papéis - O nome dele é Carlos. Vamos ficar de tocaia pra ver se descobrimos mais alguma coisa.

Carvana concordou e liberou as duas; enquanto se afastavam da sala, andando pelos corredores da delegacia, Anita passou a orientar Verônica:

- Fala com o Nelson pra ver se ele consegue cavar mais alguma informação sobre esse Carlos. - Ela continuava andando ao lado da escrivã, sem interromper o passo - Enquanto isso eu e você vamos seguir ele um pouco, pra ver se vemos alguma coisa.

Verônica assentiu, já pegando o celular para mandar uma mensagem para Nelson, sem conseguir cruzar olhares com a delegada - sentia como se, se o fizesse, perderia o eixo e teria que enfrentar coisas que não estava disposta; como se seu mundo, que por pouquíssimo se mantia estável e de pé, pudesse desmoronar, revelando o castelo de cartas frágil que era.

Anita percebeu a hesitação de Verônica e se divertiu; abriu um sorriso divertido e parou, forçando a escrivã a parar também.

- É proibido olhar nos meus olhos agora, escrivã? - Brincou ela - O que foi? - Ela se aproximou e baixou o tom de voz, para que ninguém escutasse - Tá com medo de olhar pra mim e se entregar completamente de novo?

Verônica fechou os olhos, odiando estar tão vulnerável. Seu corpo vibrou, dessa vez - para seu alívio - apenas de pura irritação. Ela não respondeu. Anita riu.

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