07:18 da manhã

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Quinta-feira, 20 de janeiro de 2022.

O primeiro sentido que Anahí retoma ao despertar é a audição. Antes mesmo de abrir os olhos, ela começa a ouvir o som de alguns pássaros e barulhos desconexos ao longe. Abre os olhos devagar, se acostumando com a claridade e respira fundo por uns minutos, encarando o teto claro de seu quarto, sentindo a cama a abraçar com seu edredom de hotel. Era um dos hábitos que ela tinha para tentar desacelerar um pouco e não começar o dia já acelerada.

Era um acordo que ela tinha com ela mesma: precisava sempre iniciar e terminar o seu dia de forma calma, com uma pequena rotina bem estabelecida, independente de como seu dia fosse.

E quase sempre era cheio e caótico.

Jogou seu edredom para o lado e foi até as portas de vidro, abrindo-a e deixando o sol forte de janeiro entrar junto com a brisa fresca da manhã, encarando a vista de seu quarto sempre muito satisfeita por ter escolhido aquele imóvel. O céu estava azul com algumas nuvens e dava pra ver um pedaço de mar em meio aos prédios. O cristo redentor estava a sua direita, de braços abertos e a protegendo sempre, como ela gostava de pensar. Olhou para baixo, na área da piscina da casa e deu de cara com um moreno corpulento vestindo apenas um short curto de esportes e tênis fazendo flexões sob um colchão de academia abaixo do corpo. Ele usava fones de ouvido enormes e parecia muito concentrado, deixando marcas e pingando de suor do deck de madeira da casa de Anahí.

Ela continuou a encará-lo e ele pareceu sentir o olhar sobre ele, levantando rapidamente e tirando os fones de ouvido.

Alec: Bom dia, alegria - ele sorriu com os dentes para a morena - porque está acordada tão cedo em um feriado?

Anahi: você é muito abusado, Bentley. Vem até a minha casa malhar essa hora da manhã, e como você bem disse, em pleno feriadão. Virou bagunça? - ela revirou os olhos, esticando o corpo e fazendo um leve alongamento para acordar o corpo.

Dia 20 de janeiro, também conhecido como dia de São Sebastião, santo padroeiro da cidade do Rio de janeiro, caiu em uma quinta-feira para alegria dos cariocas e moradores do RJ que teriam um feriado prolongado para curtir os dias quentes de sol como bem quisessem. Mas, além da data comemorativa, dia 20 de janeiro também era uma data especial para Anahí pois significava a volta de um de seus programas favoritos: O samba independente dos bons costumes.

Carinhosamente chamado de SIBC, era um evento tradicional que acontecia no coração da boemia carioca, sempre reunindo gente de todos os tipos, estilos e intenções. Era o puro suco da carioquisse e do estilo de vida carioca. Anahí e seus amigos já tinham vivido poucas e boas naquelas paredes da Fundição Progresso, sempre embalados pelo ritmo alegre e contagiante do samba. Além do significado emocional, de certa forma esta retomada marcava uma esperança de dias melhores com uma possível volta do que era a vida antes dos momentos de medos marcados por uma pandemia mundial.

Alec: minha cara Anahí, pensei que você já tinha entendido há tempos de que ser a moradora da única casa com uma área externa significava - ele falava pausadamente, procurando ar para respirar por conta dos exercícios. Levantou-se de vez indo até sua garrafinha de água para se refrescar, pois o sol da manhã já dava indícios de que aquele dia seria quente - pense pelo lado bom: as pessoas se matariam para acordar e ter esta visão pela manhã. Deveria se sentir privilegiada, querida - ele apontou para seu corpo inteiro, fazendo Anahi revirar os olhos. Odiava ser chamada de 'querida'.

Anahí: que seja - desdenhou do amigo com as mãos - Vou me trocar e descer para tomar café. Você pode fazer o favor de pedir para Leia colocar a mesa para nós? - Alec concordou, saindo do campo de visão de Anahí, provavelmente indo procurar Leia para dar o recado - Conte com Parisa, daqui a pouco ela deve aparecer também! - gritou já se afastando da porta, para ir até seu closet e se trocar.

Samba de VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora