DESESPERO

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DESESPERO


Alô, pai? – Débora está no telefone. – o tom alto da sua voz induz minha intuição a prever que está aflita ou irada.

- Sim, pode falar. – respondo, depois de um largo bocejo ao despertar da minha merecidíssima soneca. Sempre faço isso, um pouco depois de meio dia. Não sou de ferro mesmo.

            - A Alice já está em casa? Não estou conseguindo entrar em contato com ele.

            - Não. Ainda é quatorze horas. Daqui a vinte minutos desço para busca-la.

            - Pai, hoje ela não tem aula na escola. O Brian não te notificou sobre a excursão?

            - Notificou sim.

            - Então? O ônibus da excursão pegou Alice na porta da escola e a devolveria muito antes das treze, pai. – diz Débora em tom aflito.


            - Calma menina.

Eu e essa minha mania de pedir calma...

 – Certamente deve estar na escola, por algum equívoco. – justifico.

            - Pode ser. – ela responde. – Por via das dúvidas vou ligar para professora dela. A ligação termina.

            Espero impaciente o retorno do telefonema. Dez minutos e nada. Visto uma calça social cinza e vou para área de serviço pegar meus sapatos. Tenho que ir à escola. A mãe da garota só estará em casa à noite. Antes que ela se preocupe ainda mais, vou saber o que aconteceu com essa menina.

            Pego novamente o carro e dirijo rapidamente. No percurso o telefone toca. Transfiro a chamada para o automóvel. Débora está na linha novamente.

            - Pai, eu liguei para a escola dela. A menina sumiu. – soluça.

            A culpa foi minha. Não sinto minhas pernas. A velocidade do veículo reduz e o carro apaga justamente em plena Delfim Moreira. Outros motoristas buzinam na traseira do meu automóvel e alguns ultrapassam a via que estou chamando-me de "velho lerdo" ou "velho doido".

Minha filha continua na linha explicando o acontecido: Alice estava na fila acompanhando a explicação da professora, enquanto observava as imagens telescópicas e alguns fragmentos de meteoros. Distraída, apartou-se do grupo. Os professores acionaram os funcionários do local, mas eles não a avistaram em lugar algum. As filmagens do sistema interno de segurança mostraram para Déb que a garota se apartou da turma e se dirigiu ao espaço reservado para utilização dos telescópios. Por causa disso, o retorno foi adiado e os pais quando souberam desde cedo se aglomeraram desesperados no portão da escola, solicitando notícias dos filhos e aguardando a chegada do ônibus.

            - Estou a caminho da escola neste momento, filha. Esqueça essa reunião e volte o mais rápido que puder para casa. – digo em tom ameaçador, quando consigo finalmente organizar meus pensamentos e controlar a tremedeira dos pés.

            Finalizo a chamada e meu senso de juízo ressuscita. Uma fila enorme de carros tinha se formado atrás de mim. Todos buzinam impacientes. Dou a partida e arranco com o carro rumo à escola.

Antes de dobrar a rua do meu destino, deparo-me com algumas pessoas aflitas que desesperadamente correm levando as mãos á cabeça. Mais à frente, vejo pais abraçados com seus filhos e estudantes do mesmo colégio da minha neta fogem chorando, dispersos.

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