01 - Sonhos perdidos

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Colégio - último dia.

Park Jimin

Eu estava na última aula do ensino médio, mas todas as palavras da professora de filosofia eram apenas um zumbido em meus ouvidos. Minha mente fervilhava com visões do futuro que eu tanto desejava: cursar farmácia, abrir minha própria drogaria e criar minha própria marca. Eu já havia planejado cada detalhe desse sonho, pois acredito que sem um plano nada se torna realidade.

Quando o sinal finalmente tocou, a liberdade parecia estar bem diante dos meus olhos. Depois de sete anos vivendo em Detroit por causa do novo emprego de meu pai, Park Do Hyun – sócio de uma empresa coreana de carros – finalmente poderíamos voltar à Coreia e recomeçar nossas vidas.

Enquanto voltava para casa no ônibus escolar pela última vez, sentia uma sensação de êxtase. Meu momento de fazer tudo funcionar para mim estava chegando.

Quando o ônibus parou no ponto habitual perto da minha casa, avistei vários carros estacionados, algo que já era comum por conta das visitas frequentes dos clientes e colegas de trabalho de meu pai. Porém, ao entrar em casa, deparei-me com algo totalmente diferente que me encheu de pavor.

Meu pai estava sentado no sofá com um homem desconhecido, vestindo um terno preto e cabelos compridos e escuros. Ao seu redor, pelo menos dez homens armados observavam a cena. Fiquei paralisado pelo medo enquanto um calafrio percorria minha espinha.

- Finalmente chegou quem estávamos esperando. – A voz grossa e assustadora do homem desconhecido tomou conta do ambiente. – Venha, sente-se aqui.

Ele apontou para a poltrona vaga ao lado dos dois homens sentados no sofá. Sem opção, caminhei trêmulo até o lugar indicado e me sentei, tentando não demonstrar meu medo diante das armas apontadas para mim.

Observei o dono daquela voz assombrosa, seus olhos negros e sem vida me encaravam como se fossem de um demônio. Mas ainda era possível ver uma pequena parte branca em seus olhos, dando um ar ainda mais tenebroso à sua figura.

- Quem é esse, pai? - tentei disfarçar meu medo com uma pitada de arrogância. - Por que tem homens armados dentro da nossa casa?

- Você tem medo deles, garoto? - o homem desconhecido falou com desdém.

- Claro que não! - respondi com falsa bravura, mesmo sabendo que meu medo era palpável. - E eu não estava falando com você, então fique calado!

O homem soltou uma risada sarcástica antes de responder com frieza:

- Você realmente está me mandando calar a boca? Não parece ter medo algum. – Seu olhar caiu sobre mim com uma expressão intensa, quase perturbadora. – Mas vou te dar uma ordem: cale essa boca e preste muita atenção no que tenho a dizer, pirralho.

Mas que grosseria, nem precisava disso.

A forma como ele falou me deixaram ainda mais apreensivo e confuso. Quem era aquele homem e o que ele queria de nós?

Eu estava prestes a perder o controle. - Pirralho é teu cu! - gritei para o homem sentado diante de mim na sala de estar. Eu estava prestes a cagar nas calças ali mesmo, mas eu era Park Jimin, e ninguém me faria recuar. - O que está acontecendo aqui, Park Do Hyun? - perguntei em tom irritado.

- Filho, primeiro quero que entenda uma coisa. - meu pai começou, com aquele ar condescendente que me dava vontade de socá-lo. - Eu tentei de muitas formas ajeitar as coisas, mas estava dando tudo errado na empresa.

- O que houve na empresa? - questionei, já sentido um nó se formar em minha garganta.

- Perdemos tudo, filho. Desviaram dinheiro e o rombo foi enorme, impossível de pagar para a sede.

The CrowsOnde histórias criam vida. Descubra agora