12 - Mudança

75 9 9
                                    

Jungkook

Quando o sol surge no horizonte da cidade, sua luz se infiltra pelas frestas das persianas, desenhando linhas de calor e sombra sobre a roupa de cama revirada. Me mexo inquieto, meus olhos vasculhando o vazio que antes era ocupado por uma forma suave e acolhedora. Agora, tudo que encontro são lençóis frios.

A dor em meu peito se intensifica a cada respiração, enquanto as lembranças das lágrimas e palavras de Jimin reverberam em minha mente.

'Adeus, Jungkook.'

O eco, a dor aguda de sua rejeição, assombra cada fenda da minha mente enquanto caminho pelo quarto de hotel mal iluminado. O ar está denso com o cheiro de couro e tabaco persistente, uma mortalha esfumaçada que me envolve como um abraço frio.

Isso me atormenta por dentro, essa sensação de ser afastado, descartado pela única pessoa cuja confiança ousei cobiçar acima de tudo. Ver Jimin entrando naquele prédio deixou um vazio em meu peito; parece uma ferida aberta, em carne viva e incurável.

Eu não posso culpá-lo. Foram minhas próprias ações que afastaram a pessoa que mais significava para mim e agora Jimin está longe. Eu sei que deveria sentir alívio por ele escolher partir enquanto ainda podia, mas a ideia dele poder estar em perigo corrói meu ser até o âmago.

A escuridão interior era uma tempestade implacável se contrapondo ao ensolarado dia que surgia, rasgando os nervos da minha determinação. O toque de Jimin, antes um bálsamo para as feridas mais profundas da minha alma, agora empurrava com uma força que ameaçava me destruir.

Ando pelo chão frio e implacável do quarto, as paredes ecoando a agitação interna. Paro perto da janela, meu olhar perdido no mar de luzes neon que pintam a paisagem urbana abaixo. Há uma inquietação que percorre minha pele, um grito silencioso que ecoa pelas câmaras do meu coração

Cerro os punhos, a tensão em meus músculos é uma tentativa fútil de conter o tumulto que me invade. O reflexo que olho no vidro da janela é um estranho, um homem marcado pelas batalhas que travou, tanto dentro como fora.

Minha mente repassou nosso último encontro, suas feições em uma máscara sombria, olhos que antes dançavam com a luz, agora ocultando seu calor de mim.

O que o assombrou?

Pelo que ele lutava sozinho?

O pensamento me arranhou por dentro, deixando rastros de frustração e desamparo.

Foi um impulso, repentino e violento, que me fez pegar o telefone. O liguei, a tela sendo inundada pelo brilho artificial que se espalhava pelas sombras que se agarravam ao meu mundo. As notificações caíam em cascata como uma maré implacável, cada uma mais exigente que a anterior. Mas não eram nada, meros sussurros contra uma tempestade, exceto uma: a mensagem de Jimin, nítida em meio ao dilúvio – um farol que atraiu minha atenção e acelerou a pulsação em minha caixa toráxica.

"Eu encontrei o traidor. É Mingyu."

Seis palavras, cada uma delas um trovão ensurdecedor que rasga os alicerces da minha sanidade. O sangue em minhas veias transforma-se em gelo enquanto meu corpo é tomado por um tremor incontrolável. As palavras de Jimin cortam como lâminas afiadas, brilhantes contra o cenário iluminado, e parece que estou caindo em um abismo sem fim.

A traição penetra através da névoa das minhas emoções, uma ferida aberta que lateja com uma dor dilacerante. Mingyu, o cirurgião com mãos habilidosas tanto em curar quanto em destruir, agora revela sua faceta astuta. Meu coração se inflama com uma fúria avassaladora. Mingyu era uma serpente, literal e figurativamente. Eu o conhecia, permiti que se aproximasse, compartilhasse refeições e risadas com todos no complexo. Baixei completamente a minha guarda.

The CrowsOnde histórias criam vida. Descubra agora