07 - Confissões

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🔫 Sala de estar - mesma noite

Park Jeon Jimin

O peso do silêncio é quase tangível entre as paredes escuras daquela sala. Observo Jungkook afundar-se no sofá diante de mim, o couro preto emitindo um gemido suave sob sua forma musculosa e imponente. Ele está aqui agora, a centímetros de distância, mas sua mente parece navegar por mares tempestuosos de surpresa e confusão. O que revelei sobre Cha Eunwoo, como uma garra fria, cravaram-se em seu passado.

"Jimin," começa ele, a voz um misto de incredulidade e urgência, "como isso... Quando?" Sua expressão é um livro aberto de perguntas não formuladas, suas palavras tropeçando umas nas outras como se buscasse um caminho através de um labirinto inesperado.

Estico a perna, o tecido da calça ajustando-se ao redor da ferida que ainda clama por atenção. O gesto me permite acomodar-me melhor no sofá, criar um espaço onde a verdade possa fluir livremente. "É uma longa história," respondo, minha voz serena apesar da turbulência interna. "Começou anos atrás, quando cheguei em Detroit..."

Meus dedos tocam levemente a cicatriz escondida sob as roupas, um lembrete constante das lutas e dos sonhos despedaçados. Encaro Jungkook diretamente, buscando transparência naqueles olhos que tanto escondem quanto revelam. "Eu estava entrando na adolescência e... havia algo em Eunwoo que me intrigava, me atraía de maneira que nunca tinha experimentado antes."

"Mas você sabia que ele era meu ex-noivo?" Jungkook interrompe, a perplexidade transformando as linhas de seu rosto em algo mais suave, quase vulnerável.

"Responde" ele pediu.

"Sim, eu sabia." Minhas palavras são carregadas de um reconhecimento amargo. "Mas não naquela época, Suga me contou no dia que você sumiu e pensamos que tinha ido atrás dele. Foi por isso que mantive distância."

Jungkook inclina-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, a postura de alguém se preparando para mergulhar em águas desconhecidas. "E agora?" ele sonda, a voz baixa, a tensão em seus ombros dizendo mais do que qualquer palavra poderia expressar.

"Não sei." Suspiro, permitindo-me sentir o peso da incerteza. "Só sei que se vamos ficar nesse casamento, não podemos deixar que os segredos nos prejudiquem."

"Então vamos falar," diz Jungkook, decidido, e nesse momento eu o vejo — não o líder implacável da máfia ou o homem marcado pelo luto e pela traição, mas sim o Jungkook que talvez, apenas talvez, esteja tão perdido quanto eu.

"Vamos falar," concordo, e o ar parece vibrar com a promessa de revelações e de um futuro incerto, mas inevitavelmente entrelaçado.

Respiro fundo e o ar preenche meus pulmões, trazendo coragem para desvendar as camadas de sentimentos que impediam a sinceridade. Jungkook está ali, com seu olhar agora atento e expectante, como se a tempestade em seus olhos tivesse dado lugar a uma calmaria inesperada.

"Quando cheguei em Detroit," começo, minhas palavras flutuando no espaço entre nós, "era um garoto perdido em um mundo vasto e desconhecido. E então havia Eunwoo." Meu coração tropeça em seu nome, um salto doloroso de recordações. "Ele era como... um farol que eu mesmo criei em meio à escuridão."

"Ele te ajudou?" A voz de Jungkook é cautelosa, tingida com uma nuance de interesse que transcende a simples curiosidade.

"De certa forma, sim. Ele não sabia, mas sua presença me inspirava. Admirá-lo se tornou meu segredo silencioso, algo que eu guardava só para mim por anos." As palavras fluem mais facilmente agora, cada frase uma ponte sobre o abismo do passado.

"Mas em um certo momento ele estava comigo," Jungkook murmura, mais para si mesmo do que como interrupção. Sua expressão se suaviza, os olhos escuros refletem uma compreensão nascente. "Isso deve ter sido difícil para você."

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