The Crows

04 - Fratura

🔫 Deck do Lago

Park Jeon Jungkook

A escuridão do meu passado torturado se enrosca em volta de mim, um monstro invisível que me sufoca com a frieza de memórias indesejadas. Sinto o fogo daquele dia fatídico queimar minha pele, as palavras traiçoeiras dele sussurrando como vento gelado em meu ouvido, o amor que eu pensava ser nosso despedaçando-se como cristal contra pedra.

Meu coração, que antes pulsava pela paixão, agora é um campo minado - cada batida é um passo temerário sobre terra instável, esperando a explosão fatal. A traição não apenas rasgou meu interior, mas roubou a humanidade que uma vez residiu dentro de mim, substituindo-a por um poço vazio e escuro que nem mesmo o fogo mais ardente poderia iluminar.

Vejo Jimin ali parado, seu rosto suave iluminado pela luz dourada do entardecer enquanto seus cabelos loiros dançam ao vento. Eu... eu estou perdido na escuridão dos fantasmas do meu passado.

Avanço com uma raiva cega e selvagem, impulsionado pela necessidade abrasadora de exorcizar os demônios atormentadores através das minhas mãos - punhos cerrados e prontos para golpear.

O som áspero da respiração acelerada de Jimin reverbera nos meus ouvidos quando ele cai no deque de madeira, seu corpo frágil sobrecarregado pelo peso do meu ódio. O impacto e o medo evidentes em seu rosto atravessam a névoa da minha ira como uma lâmina afiada e, por um instante, sou arrancado do abismo. Voltei para a realidade. Uma realidade onde Jimin não é o traidor.

Com o coração pulsando freneticamente no peito e sangue escorrendo entre meus dedos com o soco na madeira, recuo, dando-lhe espaço para respirar, para ser livre.

Novamente eu perdi o controle, quase descontando em Jimin a raiva que sinto pelos fantasmas do meu passado. Mas algo no rosto apavorado dele e nos seus olhos espremidos à espera do golpe me fez parar e desferir o soco contra a madeira do deck, quebrando-a.

Por que isso continua acontecendo? Por que eu continuo perdendo o controle? Como consegui me conter e não machucar Jimin?

Cheio de dúvidas e com lágrimas escorrendo pelo rosto, solto Jimin, que logo se afasta correndo. Mas essa liberdade é efêmera...

Um estrondo ensurdecedor rasga a quietude da natureza - um estampido metálico que perturba a serenidade do lago. Jimin grita - um som abafado pela surpresa e pela dor aguda e antes que eu possa sequer processar o que está acontecendo, vejo o vermelho-vivo florescer em sua perna. Corro até ele, meus dedos treinados pressionando contra a ferida aberta na tentativa desesperada de manter sua vida dentro dele.

- Yoongi! - Minha voz soa como um trovão ao telefone, exigindo uma ambulância. Cada segundo parece uma eternidade agonizante; cada batida do coração de Jimin é um tambor doloroso anunciando uma emergência que não posso enfrentar sozinho.

Em questão de segundos, a van de emergência do nosso hospital derrapou e parou em frente ao convés. As enfermeiras saíram correndo, carregando uma maca para meu marido inconsciente e sangrando. Eles o carregaram para dentro do veículo comigo ao seu lado, segurando suas mãos pequenas e macias, um pouco frias.

- Se meu marido morrer, vocês duas irão segui-lo até o túmulo, entendeu? - Ameacei em voz alta enquanto observava suas expressões de medo.

Elas administraram os primeiros socorros durante a curta viagem enquanto o preparavam para uma cirurgia imediata na chegada.

No hospital do nosso complexo, a espera é um tormento insuportável. Estou impedido de acompanhá-lo até a sala de cirurgia; assim, meus punhos encontram outro alvo: a indiferença daqueles que me rodeiam. Rosé, Lisa, Suga – todos são apanhados pela tempestade das minhas exigências. Minha voz quebra o silêncio com promessas de vingança.