Krýo
Acordei cedo e até pensei em acordar minha hóspede, mas fiquei com pena. Uma viagem em uma estrada como a dos arredores devia ser extremamente cansativa, então fui fazer outra coisa. Minha mente pipocou com a ideia de poder plantar algumas plantinhas, então desci de dois em dois degraus as escadas encontrando Hidromel no fim dela.
- Bom dia, filho! - Falei, pegando ele no colo e o enchendo de beijos - Como você está lindo, meu amor! Vamos ajudar mamãe em uma plantação?
Ele miou um "sim", mesmo que estivesse parecendo mais um "me solta, sua doida!"
Caminhei na orla da floresta pegando algumas flores e colocando-as em um balde que estava apoiado no meu braço. Ouvi um relinchar preguiçoso e vi Kewabi, o cavalo de Bel, saindo da parte de trás da casa ainda sonolento.
- Bom dia! - Berrei para ele - Quer me ajudar a planta, amigo?
Eu jurava que aquele cavalo revirava os olhos pra mim! Ah, que nada, ele era um doce. Sorri para ele e voltei a pegar meu futuro jardim. Depois de alguns minutos cantarolando alegremente a plenos pulmões uma melodia desafinada sobre amar a vida, o que era totalmente falso, mas a gente finge, né? Dei duas piruetas pelo gramado de casa, feliz com a minha conquista de pequenas flores e algumas sementes perdidas de frutas. Ajoelhei próxima ao pequeno lago que minha propriedade tinha e comecei a retirar a terra com uma pequena pá de mão que meu pai havia feito pra mim. O trabalho era um tanto lento e cansativo, mas era tão gratificante saber que aquelas florzinhas iriam ficar enormes, criar irmãs de folhas e fazer minha paisagem ficar ainda mais bonita!
- Não consigo parar de sorrir, Kewabi! - Falei com o cavalo de Bel - Será que Bel gosta de flores? Será que ela ficaria até as ver grandes?
Ele bufou o que com certeza era uma afirmação!
- Tem razão, ela ficaria! - Dei uma risadinha - Acho que ela vai gostar de me ajudar com essas flores!
Kewabi pateou o chão e eu ergui os polegares sujos pra ele.
No meio do processo de plantar, fiz uma trança rápida no meu cabelo que estava me estressando e tentei analisar a terra batida. Meu pai dizia que não podia jogar tanta água nas sementinhas, e que elas deviam ter certa proteção de fortes chuvas. As plantei todas e corri para a parte de trás da minha casa onde haviam alguns pedaços de madeira e vigas.
- Ao trabalho, Hidromel - Falei com meu gato, que miou de forma estridente - Isso aí, a gente consegue!
Comecei a carregar a madeira com muita dificuldade já que ela parecia ter o dobro do meu tamanho. Passei a mão na testa e dei uma forte bufada, tentando recuperar o ar que meus pulmões haviam perdido. Olhei em volta para ver se achava algo que me ajudaria com minha pequena invenção e...
- Kewabi - Chamei de forma doce. O cavalo, que pastava, ergueu o rosto e me encarou - Você é tão, tão forte!
Ele olhou para mim, depois para as vigas e então relinchou alto e saiu correndo. Dei uma gargalhada alta e corri atrás dele pela campina tentando pegá-lo e ignorando as rabiadas que ele me dava, as vezes que ele fugia quando eu estava próxima de pegá-lo, até pulei no lago da floresta atrás dele ficando totalmente suja e enlameada. Kewabi voltou correndo para meu jardim, bufando com força e eu jurava que ele estava sorrindo. Abaixei e comecei a me aproximar lentamente dele, que mexeu as orelhinhas em completa atenção.
- Aqui, amiguinho - Sussurrei - Amiguinho bonzinho...
Eu ia pular nele quando ouvi Bel falar, da porta.
- O que vocês estão fazendo?
Parei no meio do caminho tomando um susto. Kewabi se ergueu nas patas traseiras e relinchou com força, como se protestasse. Fitei a garota que estava parada com os braços cruzados no peito e um sorriso irônico no rosto, já vestida como quem estava prestes a caçar: Botas, calça de couro e espartilho por cima de uma blusa branca livre. O olho branco como a neve parecia me ler mais do que o outro. Ajeitei minha postura e dei uma risada alta.
