4. Você tem cheiro de casa

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E a vida seguiu.

O amor que sempre esteve ali, apenas se transformou.

Eles continuaram sendo um casal que já não era mais um casal, mas continuaram sempre presentes um na vida do outro, até o fim de seus dias.

O tão temido fim.

Pra muita gente ele é desesperador, como se um pedaço da gente fosse arrancado.

Eu acho o fim triste, mas creio que Fernando Pessoa estava certo quando ele escreveu:

"A morte é a curva da estrada, Morrer é só não ser visto."

Por isso acredito que o fim nunca é um fim realmente. É como se ele viesse sempre acompanhado de uma vírgula, como se depois dele sempre pudesse ser acrescentado um novo começo, como se um reencontro pudesse acontecer.

Já o final, esse sim é desesperador, é muito mais definitivo, amargo, sufocante, como se não houvesse mais esperança.

                                  {...}

5 anos depois...

O dia estava nublado, meio chuvoso, daqueles que não dá vontade de por o pé pra fora de casa.

Acordou no primeiro toque do despertador, não enrolou um pouquinho na cama como gostava, hoje não poderia se atrasar.

Mas algo não iria querer colaborar com ela.

Começou quando foi tomar banho, o chuveiro tinha queimado magicamente, durante a madrugada.

Assim que terminou o banho gelado, foi se arrumar.

Preparou uma coisa rápida para comer, pegou as chaves e saiu.

Ao chegar na garagem do prédio, descobriu que a mágica também tinha passado por lá, quem disse que seu carro ligava?

Ela teria que ir de Uber.

Enquanto digitava com força o endereço, olhou o relógio. Ali o mau humor começou a crescer dentro dela, porque já era 12:12  e ela estava muito atrasada.

                                   {...}

Em algum lugar da cidade, ele se arrumava na maior tranquilidade, porque após inúmeras tentativas de chegar na hora nos lugares, já havia aceitado que era atrasado.

Ele não estava preocupado, se não chegasse para a 1°, veria a 2° sem problemas.

                                  {...}

Durante o caminho ela recebeu uma mensagem:

Te esperamos o quanto deu, mas como alguns tinham compromissos depois, fomos na 1° sessão

Foi mal :(

                                  {...}

Quando ela finalmente chegou ao evento, foi direto tentar comprar um ingresso, mas como imaginava, estavam esgotados.

— Cara, eu queria tanto ver essa mostra de cinema. Hoje está só na tortura mesmo — Falava enquanto pegava o celular na bolsa

                                  {...}

Viu uma linda morena passar e parar próximo a ele.

Uma das coisas que mais lhe chamou atenção nela, foi o perfume que ficou no ar quando ela se aproximou.

Que perfume será esse? Meu Deus, eu poderia sentir esse cheiro todos os dias.

                                   {...}

Estava concentrado lendo seu ingresso quando, de repente, seu cérebro deu um click ao notar que conhecia aquela voz e aquelas três palavras.

— Ela disse só na tortura? — Perguntou alto

— Hum? — Respondeu achando que ele tinha falado com ela

— Na..Nada, e..eu só percebi que você não conseguiu ingresso.

— Ah...é.. eles esgotaram — Falou com um sorriso sem graça

Cara, se sorrindo assim ela fica linda, imagina quando ela sorrir de verdade.

— Vo..você, hum, quer esse ingresso? —Estendeu um pedaço de papel

— Que isso, não precisa. Você deve estar esperando alguém.

— Não! quer dizer, não tô esperando ninguém. Quando eu tava chegando um grupo estava indo embora e como parece que um deles não apareceu, eles me deram. E agora eu estou te dando.

Ela não prestou atenção direito no que ele falava, muito menos que ela era a pessoa que não tinha aparecido, só se perguntava como aquela voz podia lhe transmitir tanta paz.

— Obrigada.

— De nada.

— Eh, acho que já vai começar a próxima sessão, v...você quer entrar? — Ela disse

— Claro, vamos.

                                    {...}

Enquanto eles caminhavam, ele comentou:

— Acabei de perceber que eu não sei o seu nome.

— É mesmo, desculpa — Ela estendeu a mão

— Giovanna

— Oi Giovanna — Ele apertou a mão dela

— Prazer, Alexandre

                                   {...}

Eles não sabiam se o outro tinha sentido o choque ao tocarem as mãos.

Os dois deram uma leve risada e se olharam nos olhos.

Sorriram ao perceber que aquelas imensidões castanhas escondiam uma sinopse.

Talvez a sinopse mais linda, leve, incrível, mágica que eles já haviam lido.

                                  {...}
 

É talvez Antonie de Saint-Exupéry também estivesse certo quando escreveu "Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".

Talvez seja esse pouquinho, essa marca que as pessoas deixam em nós, e que se for boa, nos faz encontrá-las novamente e ter aquela sensação, sabe? aquela? que nos faz soltar aquele famoso "eu sinto que te conheço de algum lugar", não importa quantas vidas passem.

                                FIM...

Hopeless RomanticsOnde histórias criam vida. Descubra agora