Segredos: como se pudéssemos esconder o que sentimos

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Semanas depois da derrota da Liga dos Vilões, gradualmente os estudantes voltavam aos dormitórios. Com a segurança redobrada e a atenção médica e psicológica à postos, todos, sem exceção, precisavam de cuidados. 

E naquela noite, Uraraka foi liberada para dormir em seu quarto. Porém, ainda parecia aérea e assustada demais para dormir sozinha. Perambulando entre a vazia unidade da 1A, ela se pendurou na mureta da janela da cozinha enquanto tomava um copo de água fria.

A Lua iluminava fracamente o céu nublado, sem estrelas, mas havia bastante nuvens.

— Você ainda está acordada?

Ela deu um pulo rápido até o chão, com o copo de água vazio e quase se afogando com a água.

— D-deku-kun. Ah, você voltou... — ela tossiu.

— É, eu...

— Você não deu notícias... — Uraraka pensou por um breve momento que ele estava evitando falar com ela por causa do que aconteceu. Deixou a ideia de lado por achá-la boba demais.

Midoriya ficou em silêncio, um pouco hesitante.

— Tudo passou tão rápido. Voltei faz uma hora. — ele estava descalço, mas com roupas de frio. — O que estava fazendo?

— Eu... hum. — ela olhou para a janela. — Estava só... matando tempo.

— Sem sono?

— É, para variar. — a garota deu de ombros, botou as mãos nos bolsos de trás da calça moletom.

Ela deveria estar constrangida? Tímida? Envergonhada? Agora Midoriya sabia seus exatos sentimentos reprimidos, e ela também sabia que era correspondida, o que deixava seu coração flutuante. Apesar disso, não era como se estivesse ansiosa para saber os próximos passos, afinal ela pensava que ganhar algo durante uma grande tragédia que feriu a todos, inclusive a quem ela ama, parecia um pensamento cruel.

— Você está bem? Você está cheia de machucados... Estão doendo muito? — ele estava com uma voz carinhosa, mesmo do outro lado da sala, Uraraka conseguia sentir os afetos tocarem em suas feridas.

— Ah, hum. — ela tirou as mãos do bolso. Midoriya e a sua grande habilidade perceptiva. — Vão ficar bem. Recovery Girl está cuidando bem de mim.

Ele sorriu fracamente.

— Você está sem sono também?

— Pois é. — ele coçou a nuca. — O silêncio me incomoda.

— Entendo...

— Uraraka-san, eu... — Midoriya hesitou novamente. — Eu... Me desculpe por não ter dado notícias.

— O quê? — ela pegou o copo da janela. — Você estava em um hospital. O pessoal não vai ficar chateado por algo assim.

— Não me referia ao pessoal, mas a você. — Midoriya olhava seriamente para ela. — Eu quero só quero compartilhar... — ele engoliu seco.

Uraraka ficou em silêncio, sem ter como responder.

— N-não se sinta... pressionado ou... n-não quero que o que aconteceu... — Uraraka evitou olhá-lo.

— Por que eu me sentiria pressionado?

— Porque eu disse que... — ela sentiu um ponto de aperto de arrependimento de ter se declarado abertamente. Fazê-lo sofrer de tanta pressão a deixou dolorida.

— E eu disse também.

Uraraka escutou os passos dele ficarem mais próximos.

— Não... não podemos. — ela não conseguia olhá-lo. — Não parece justo.

Alguém Está Mentindo | Izuocha Onde histórias criam vida. Descubra agora