Os (des)abrigados • Taekook

7: desabafos com a espiritualidade

A estabilidade voltou a reger as vidas no prédio da rua Sonyeondan pela semana que se seguiu. Para Taehyung, tinha sido um conjunto de quem dirias. Porque, quem diria que Hoseok encontraria na própria casa a solução para seu caso da sócia que tinha perdido? E quem diria que essa solução era Jimin e um esquecido diploma de ballet adquirido por ele na época de ensino médio? Ou, quem diria que Yoongi e seus velhos conhecimentos ajudariam Jin a conseguir o que precisava para dar continuidade à obra no apartamento? E quem diria que Jungkook realmente levaria a sério aquele acordo de trégua e aquilo se tornaria tão funcional? Talvez, o queridíssimo quinto planeta do Sistema Solar tivesse decidido dar uma colher de chá a todos eles. Taehyung não queria saber o porquê enquanto podia aproveitar os bons refrescos.

O mais proveitoso deles veio na sexta-feira, em seu turno trocado no B99.

Não era segredo para nenhum artista fixo do bar que o público da sexta-feira era maior, em muitos sentidos. Maior quantidade de pessoas, maior animação, maiores pedidos de bis, maiores gorjetas. Ainda assim, ter a prova daquilo na prática, para Taehyung, foi uma vivência de superar sua imaginação, causando até o despertar de novas metas profissionais. Sua mente estava tão eufórica com aquilo que, quando entrou no apartamento, Taehyung ainda se sentia acordado como se tivesse bebido energético, mesmo que fosse mais de meia noite. A luz da sala já estava apagada e ele respeitou o silêncio que inundava o lugar, mas a luz de seu quarto estava acesa e, não deu outra:

— Abençoado seja o Baekhyun por aceitar trocar o turno comigo hoje — Taehyung entrou falando, com o sorriso de orelha a orelha. — A noite bombou pra caralho!

Só então, Taehyung parou para olhar ao redor. A expressão nervosa no rosto de Jimin não era a que esperava, o semblante apavorado de Hoseok menos ainda. Contudo, foi o rosto vermelho e úmido de choro de Jungkook que verdadeiramente o alarmou.

— Pra caralho mesmo — o Jeon falou, como um sopro desanimado de sarcasmo evidente.

— O que rolou? — Taehyung soltou, em tom medido no cuidado. Até mesmo seus passos para avançar no quarto foram cheios de cautela, enquanto os olhar procurava desesperadamente alguém que pudesse elucidar a razão da energia naquele quarto estar parecendo a de um velório.

— Kookie teve alguns problemas hoje — Jimin disse, muito incerto no tom e no olhar que alternava entre o jovem choroso na cama de Hoseok e Taehyung, como se não soubesse o que e se podia dizer.

— Eu bombei no teste de hoje — Jungkook logo falou, com as palavras bastante firmes, embora com um fungar no final. — Um zero, redondo, sem nenhum décimo sequer.

Então, curvando-se mais ainda para afundar o rosto nas próprias mãos, o Jeon deixou mais de seu choro vir à tona. E, naquele momento, o ressentimento, o ódio, a mágoa não tinham a mínima importância, tudo que Taehyung conseguia sentir era um aperto com a cena, como qualquer ser humano minimamente sensível sentiria. Principalmente, um humano que sabia o peso enorme que a responsabilidade com aquela faculdade era para Jungkook. Taehyung não olhou para o ex detestável, quem ele viu foi uma pessoa que estava fragilizada.

Jimin tentava confortá-lo com um abraço, mas os olhos na direção do Kim eram bem claros. Era quase o mesmo olhar de Hoseok, em pé diante da cama onde estavam. Taehyung não podia julgá-los por estarem perdidos, nem pelo que estavam pedindo, porque a verdade era que ninguém naquele quarto conhecia melhor a experiência de lidar com aquilo do que Taehyung.

— Ei, Jungkook, respira — ele se aproximou do Jeon, sentando-se ao seu lado na cama. Por um instante, a mão hesitou, mas Taehyung acabou deixando seu toque acariciar as costas curvadas. — Olha pra mim, vai.

Houve um segundo silencioso, rompido apenas pelo choro copioso. As respirações pareceram suspensas, os olhares preocupados e atentos. No entanto, Taehyung não temeu, com uma quase certeza de que Jungkook levantaria o corpo e se viraria para encará-lo. Exatamente como ele, de fato, o fez.