3: os desajustes de uma convivência improvisada

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Por uma semana, todos foram muito bem sucedidos na missão de sobreviver. Era, de certa forma, até surpreendente. O apartamento não era dos maiores e existiam as confusões para o uso do único banheiro diariamente, assim como as alfinetadas de Taehyung aqui e ali, mas tudo fluiu melhor do que as expectativas de qualquer um dos sete.

Com a obra no apartamento de Seokjin submetida a um constante ciclo de impedimentos e as entrevistas de Jimin não rendendo o resultado esperado, ninguém tinha previsão de uma melhora de realidade. Ninguém, principalmente Jungkook que, agora, tinha recebido o ultimato de seu próprio pai para o idiota do irmão mantê-lo fora de casa até que obtivesse as melhores notas nas avaliações finais da faculdade. Todo aquele inferno em sua vida só porque ele havia faltado um mísero dia de aula para um bico como fotógrafo (pela sétima vez naquele semestre). De qualquer forma, nenhum dos sete previa uma piora também, estavam no fundo do poço juntos da forma mais estável.

As coisas só começaram a sofrer alguns solavancos a partir do sábado à tarde.

Jungkook estava estudando (lê-se: queimando todos os neurônios na tarefa de descobrir que não entendia absolutamente nada daquela disciplina), sentado em um dos bancos ao balcão, enquanto Jimin, Hoseok e Taehyung maratonavam alguma série romântica no mesmo sofá e, na poltrona, Yoongi lia um livro que tinha as dimensões exatas de um tijolo. Exatamente o momento em que Jin e Namjoon entraram pela porta da frente, em meio a uma conversa cochichada enquanto carregavam algumas sacolas de mercado.

— Ai, olha, eu acho que temos que falar sobre o elefante branco na sala! — Jin, de repente, falou mais alto, atraindo todas as atenções sobre sua figura evidentemente inquieta. Namjoon fechou a porta com cuidado, enquanto o namorado endireitava a postura confiante e serena para continuar: — Não literalmente. Enfim, o Jungkook está definitivamente morando aqui, então eu acho injusto que o coitado fique dormindo na sala quando ainda tem espaço nos quartos. Pronto, falei.

Então, como reação coletiva instantânea, os olhares voaram para a figura confusa e surpreendida de Jungkook. Ele ponderou um pouco, enquanto Jin ajudava Namjoon a arrumar os produtos na cozinha. 

— Não, está tudo bem — Jungkook disse a ninguém em específico, talvez a todos ao mesmo tempo.

— Não está tudo bem, anjinho! — Jin disse, daquele jeito tão gentil quanto irredutível que Jungkook nunca vira outra pessoa conseguir atingir. — Suas coisas ficam pela sala e, não estou dizendo que você é desorganizado, mas você também merece privacidade, sabia? 

— Realmente, não tem por que você ficar dormindo na sala — Namjoon disse, em apoio.

— Tudo bem, levem pro quarto de vocês — Taehyung, então, interveio como se a cobrança fosse parar em sua conta de alguma forma e ele precisasse defender o próprio espaço. 

— Mas eles precisam de privacidade também, Tae, e o nosso quarto tem mais espaço, o deles é menor — Hoseok pontuou, com uma sutileza que denunciava sua apreensão.

— Ah, pronto! — o Kim bufou, se agitando no sofá na manifestação do incômodo em pessoa. — Eu vou ter que aturar a perturbação só porque eles acham que é injusto ficar no sofá? Qual o problema do sofá? Eu acho ótimo, muito confortável.

Por um lado, Jungkook quis rir, como se visse em Taehyung uma criança teimosa e chateadíssima que não queria ceder o brinquedo favorito. Por outro lado, a raiva mordiscou suas entranhas porque, bem, era Taehyung falando, só de ele abrir a boca, Jungkook já se sentia suficientemente farto de ouvir.

— Quer trocar, então? — o Jeon desafiou, seríssimo. Deixar barato não era sua especialidade, levar desaforos para casa muito menos (mesmo que não tivesse exatamente uma casa no momento). Assim que percebeu como não mediu as palavras, ele se virou para Jin e Namjoon: — Não estou reclamando, gente. Vocês me receberem aqui já é suficiente pra mim, eu posso ficar no sofá numa boa até resolver minha vida e...

Os (des)abrigados • TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora