Capítulo 1: A professora nova

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O sol nascia de maneira preguiçosa no céu de South Park, mais uma manhã fria começava na cidade interiorana do Colorado e, com ela, o recomeço das aulas após um feriado prolongado.

Nenhum dos alunos — e dos professores — estava animado para o retorno das aulas. Terem de encarar uns aos outros, assistirem aulas tediosas e tudo lotado de hormônios até o teto, sem dúvidas, ninguém parecia gostar muito do ambiente escolar.

Vários adolescentes já se locomoviam para o colégio, das mais diferentes formas. Alguns, que tinham a carteira recém-tirada, decidiam ir com o carro dos pais, outros optavam pela boa e velha bicicleta e os suicidas sociais acabavam indo de ônibus, mesmo todos estando no terceiro ano do ensino médio e, convenhamos, ninguém gostaria de ser visto naqueles ônibus repletos de crianças chatas e melequentas.

Ah, e obviamente tinha aqueles que preferiam ir a pé.

— Ah cara, as fotos da festa estão na internet, Cartman é um merda mesmo.

Kyle Broflovski reclamou.

O garoto, agora crescido, utilizava bem menos o ushanka que era tão habitual e sua característica na infância, usava-o dentro de ambientes abertos por ele lhe esquentar bem, contudo, a motivação principal — esconder seus fios ruivos e crespos — não era mais algo que lhe chamasse a atenção, pelo contrário, ele havia aprendido a gostar de seu cabelo.

Ele se encontrava ao lado de Stanley Marsh, ambos esperando na frente da casa de Eric Cartman pelo garoto, e também, por Kenny McCormick.

— Óbvio que estão na internet, primeiro porque é o Cartman, e segundo que tivemos a cena hilária daquele desafio que mandaram o Kenny fazer — Stan o respondia, também olhando para seu aparelho telefônico enquanto esperava os dois amigos decidirem dar o ar da graça — Cara, você soube do acidente que ocorreu uns dias atrás?

— Acho que ouvi meus pais comentando algo no café da manhã — Bocejou, bloqueando seu celular enquanto bocejava e se espreguiçava, talvez, pela terceira vez — Um carro bateu contra uma árvore na saída da cidade, não é?

— Exatamente, não acharam nenhum indício de quem seria o dono do veículo. Mas parecia que tinha restos de ossos e roupas ensanguentadas no porta-malas. Parecia que era alguém de fora, estão suspeitando que seja algum assassino em série à solta pela cidade.

[ ... ]

Diversos adolescentes entravam na sala de aula e se sentavam em seus assentos, todos parecendo em uma disputa sobre quem era capaz de gritar mais alto e que seria o primeiro a ser punido por algum funcionário que andava pelos corredores do colégio.

— Você postou uma foto minha e do Tweek se beijando, Cartman — Dizia Craig, sentado em cima de sua carteira, enquanto jogava uma bola de papel amassada em Eric — Aposto que a Heidi te deu um fora pela vigésima vez e você ficou se metendo na curtição dos outros.

— Vocês estão praticamente se engolindo na foto, Tucker — McCormick exclamou, tendo um celular em mãos, visualizando a foto em questão. O garoto agora deixava seu rosto mais à mostra e possuía fios um pouco mais longos, estes chegando até o índice de seus ombros e, naquele momento, o cabelo estava amarrado em um coque bem malfeito, proveniente da pressa.

— Podemos parar de analisar uma foto que nem deveria ter sido tirada, pra começo de conversa? — Testaburger argumentou, mesmo que estivesse dando uma espiada no celular de Bebe Stevens, sua melhor amiga, a qual estava dividindo a mesma carteira — Que o Cartman é um cuzão, todos já sabíamos... Vamos apenas fingir que isso nunca aconteceu, não tem nada nessas fotos que todos já não soubessem.

— É, tipo a namorada do Clyde bêbada às quatro da manhã e querendo colocar os peitos para fora — O próprio Cartman disse, gargalhando com a imagem mental da noite anterior.

— Por isso não vou nas festas do Eric, ele sempre faz algo desse tipo.

Leopold "Butters" Stotch dizer algo daquele gênero não era mais uma novidade. Uns anos antes, o garoto enfrentou de vez toda a manipulação que Cartman fizera com ele durante toda sua vida e, após isso, apenas convivia com ele devido seus outros amigos também conviverem.

Mas, se recusava a frequentar a casa do garoto e, principalmente, ir em qualquer evento em que ele colocasse seu dedo gordo e podre na organização.

— Não lembram no mês passado? Ele gravou o desafio de sete minutos no céu da Wendy e do Stan e só não postou e fodeu com eles porque o Kyle o obrigou a deletar o vídeo. E, mesmo assim, eu ainda acho que ele tem alguma cópia.

A discussão perdurava, com a maior parte dos integrantes da classe participando dela, exceto por Damien Thorn, que estava sentado mais ao fundo da classe com seu semblante meio fechado e entediado e tendo ao seu lado o estudante estrangeiro, Phillip Pirrip.

O ranger da porta velha se abrindo atraiu a atenção dos estudantes, que logo viram uma mulher adentrando pela porta da sala. Ela era alta e esguia, com uma boca grande e um nariz comprido e fino. Seus olhos eram um castanho avermelhado e pareciam profundos, capazes de capturar sua alma.

O cabelo amarrado em um rabo de cavalo perfeitamente amarrado, sem um fio de cabelo fora do lugar, além das roupas sociais que ressaltavam sua magreza e eram de tons, no mínimo, peculiares. Todos estranharam a combinação de roxo, preto e verde que jazia em todo o conjunto daquela mulher esquisita que arrepiou a espinha de todos.

A sala residia em silêncio, todos continuavam em cima das mesas e em pé. Nenhum deles parecia disposto a sair de seus lugares.

— A antiga professora de vocês, Gabrielle Willow, precisou se ausentar permanentemente da escola... Serei a nova professora de vocês, terceiro ano — A mulher dizia, fechando a porta atrás de si e caminhando calmamente até a mesa do professor, seu salto fazendo um leve barulho contra o solo.

A professora sentia os olhares ferozes em sua direção, além do sentimento palpável de ódio e rejeição, ela sentia em cada parte de sua pele aqueles sentimentos enevoados e negativos da classe que, obviamente, não eram direcionados exclusivamente a si.

Ela já esperava aquela recepção silenciosa, maldosa e exclusivamente negativa. Havia sido avisada pela diretora da instituição sobre quanto a turma tinha apreço pela antiga tutora que, ao que tudo indicava, havia sido a única que teria conseguido colocar algum limite neles. Ela era alegre, semelhante a um raio de sol que iluminava o dia daqueles adolescentes fétidos e mal amados que eram considerados verdadeiras pestes desde o dia que haviam se matriculado naquele colégio, ainda no maternal.

Ela deixou seu material na mesa em questão e pegou um giz que descansava perto do quadro. Escreveu seu nome e voltou-se para a classe, com um sorriso em seu lábios;

— Sou Elizabeth Stephenson e irei acompanhá-los nesse último ano escolar. Espero que possamos nos dar muitíssimo bem.

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