Breno
Colocando as latas de cerveja na bolsa térmica, Breno alternava entre morder seu pão com mortadela e tomar goles de café com leite. Biel assistia vídeos sobre técnicas para misturar cores para atingir tons específicos, enquanto Carlos, seu tio, tinha a cara escondida atrás de um jornal Meia-Hora.
Carlos finalmente baixou o jornal, fazendo seu som de indignação com alguma notícia. Ele era um homem de quarenta anos, de voz mansa, porém sempre firme com as regras dentro de casa. Mexendo o café com uma colher pequena, observava Breno colocando as bebidas na bolsa.
— Quem vai com você pra praia? — disse ele, assoprando o café e olhando para Breno, depois, para Biel, que continuava focado no vídeo. — Come, Gabriel. Depois, você mexe nisso.
— Eu, a Nanda e o Curu, tio. — Breno fechou a bolsa e sentou-se à mesa. — A mina dele deve ir também.
— Você vai? — Carlos tirou o celular, devagar, da mão de Biel, colocou-o sobre a mesa e empurrou o saco de pão para ele.
— Agora, não, tio. Vou comprar uns bagulho do trabalho. — Biel pegou um pão francês e começou a cortar. — Mas, depois, acho que vou “brotar” lá.
Gabriel trabalhava como pintor por conta própria. Divulgava seus serviços no Instagram e contava com a divulgação de seus clientes, que o recomendavam a alguns amigos.
— Fica suave, tio — disse Breno, puxando a mortadela quando Biel ia pegar. Biel estalou a língua e ameaçou dar-lhe uma porrada,mas Breno riu e empurrou a mortadela de volta. — Nós só vai ficar de boa lá.
Carlos assentiu, porém não deixou de soltar sua recomendação de sempre:
— Lembra que lá embaixo, não é igual aqui na comunidade. Evita dar motivo pra eles. Escutou?
Breno assentiu, sabendo que seu tio se referia a ele não fumar maconha lá para não ser levado pela Polícia. Seu celular começou a vibrar, e ele mostrou que era Nanda ligando.
— Vou atender. Ela já deve tá pronta. — Breno se levantou, pediu a benção ao tio e, colocando a bolsa no ombro, cutucou a orelha do irmão quando passou. — Fala comigo.
— Já tô aqui no bêco. Tá pronto ainda não? — disse ela, mas já comentou: – Ah, tô vendo você sair no portão.
Ele desligou e foi até ela. Ao passar na frente do portão da casa vizinha à sua, escutou Manu discutindo com a mãe e olhou para a janela de suacasa.
Manuela fazia parte do quarteto de amigos, mas, após se envolver com Bem-te-vi, o novo dono do morro, começou a esnobá-los.
— Anda, Breno. Sabe que, daqui a pouco, a praia fica cheia, e é uma merda pra arrumar lugar pra ficar. — Nanda segurava uma bolsa de praia na mão, olhando para a bolsa que ele carregava. — A gente passa no depósito da Dona Maria pra comprar gelo. Depois dividimos quanto deu tudo, tá?
Nanda tinha o cabelo preto em cachos que iam até seus ombros. A pele branca e bem cuidada só estava coberta por uma bermudinha e uma camiseta por cima do biquíni.
— Já é. Peguei o dinheiro emprestado com o Biel. — Ele olhou para o bêco de novo. — Não quer ver se ela quer ir com nós?
— Tá me zoando? — Ela começou a descer a rua. — Você viu que nós nem “tamo” olhando na cara uma da outra. Mas se quiser chamar ela, vai lá. Eu fico pegando meu sol, afastada.
Desde que Manu a chamou de piranha e insinuou que ela queria ficar com o Bem-te-vi, provocando uma briga feia entre as duas, Nanda não queria ficar a menos de cem metros de distância de Manuela. Nanda havia “namorado” com Carrasco, porém tudo não passava de um combinado entre eles para que não desconfiassem da sexualidade do antigo dono do morro. Agora, os dois eram apenas amigos.
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Aceita o desafio? (Gay) (Degustação)
RomanceAlerta! Esta história é um spin-off do livro "o infiltrado no morro", portanto, se ainda não tiver lido o livro anterior recomendo que não inicie esta história. Breno dos Santos, periférico e de criação humilde, após começar a trabalhar como Jovem...