Breno
Já de barriga cheia, Breno saiu da casa de Guilherme e caminhava em direção ao beco. Passava por um grupo de caras com pistolas na cintura quando um deles assoviou para chamar sua atenção. Breno fechou os olhos, soltando um palavrão antes de se virar.
– Chega aí, menor. Tá escaldado por causa de quê? – disse um deles, com um baseado preso atrás da orelha, sentado no banco da praça.
Breno olhou para os lados, procurando algum conhecido, mas, mesmo se encontrasse, duvidava muito que alguém teria coragem de se intrometer. Se aproximou, segurando a bolsa térmica do tio.
– Fala aí – disse Breno, olhando para o que brincava com uma cápsula de munição sobre a mesa de concreto.
Ele largou a cápsula e olhou para Breno, revelando uma tatuagem de lágrima abaixo do olho direito.o garoto acenou com a cabeça e voltou a girar a cápsula.
– Quer ganhar um troco? – O homem se levantou e colocou o braço em cima dos ombros de Breno.
– Pô, mano, valeu “mermo”, mas eu tô de boa. - Ele ergueu o olhar para encarar o homem que tirava um saquinho de pó de uma pochete. – Não, mano. Sério “mermo”. Eu tava só indo pra casa, tá ligado?
O homem magro, de cabelo castanho, olhou na direção dele, enfiando o dedo mindinho no saquinho, tirando um pouco do pó na unha, e sorriu. Breno desviou o olhar para não ficar encarando um dente podre que ele tinha bem ao lado do canino esquerdo.
–- Ih, ó o menor – disse ele,cheirando a cocaína. – Tá achando que sou a “frôze” pra fazer nevar pra ele. É mole?
O grupo riu, e o que tinha o braço em cima de Breno começou a dizer:
– Relaxa, menor. Só levar um recado pra nós. – Ele olhou melhor para o rosto de Breno. – Eu sei que um “base” tu curte. Já vi tu bolando um com aquele magrão.
Breno não queria irritar o grupo, pois já os vira batendo em um dos caras que jogava bola com ele no campinho. Começava a ficar nervoso, olhando para as pessoas que andavam pela rua, evitando olhar na direção em que eles estavam.
– Breno, meu filho. – Breno ouviu a voz da mãe de Nanda vindo de trás deles. – Queria mesmo falar com você. Dá licencinha, querido. – Ela tirou o braço do cara de cima dele e começou a puxar Breno, que nem sequer cogitou hesitar em segui-la.
Lúcia não tinha medo de encarar os bandidos da comunidade. Com uma personalidade forte e uma língua afiada, não abaixava a cabeça para ninguém.
– Ih, alá! A coroa “mó” folgada! – disse um deles.
Lúcia, ajeitando a bolsa debaixo do braço, passou a mão no rosto de Breno e soltou um “Coroa é a piranha da tua mãe”, baixinho.
– Valeu, tia – disse Breno, olhando de esguelha para o grupo quando viravam na esquina da rua deles. – Tá foda agora. Esses maluco quer ficar fazendo nós de aviãozinho.
Lúcia soltou um som revoltado da garganta e disse:
– E eu reclamava do Carrasco. – Ela baixou a voz ao dizer "Carrasco”, pois havia sido proibida qualquer menção ao antigo dono do morro. – Mas não fizeram nada contigo, não, né?
Breno explicou que não e, ao chegarem no beco onde ele morava, se despediu de Lúcia. Entrou em sua casa, e seu tio estava assistindo o jornal. Pediu sua benção e foi direto ao quarto. O perfume de Gabriel ainda pairava no ar, e Breno percebeu que a carteira dele não estava perto do travesseiro. Ainda estava cedo para ele já ter ido ao baile. Breno ergueu uma sobrancelha.
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Aceita o desafio? (Gay) (Degustação)
Storie d'amoreAlerta! Esta história é um spin-off do livro "o infiltrado no morro", portanto, se ainda não tiver lido o livro anterior recomendo que não inicie esta história. Breno dos Santos, periférico e de criação humilde, após começar a trabalhar como Jovem...