Perigo.

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O mundo há muito tempo tinha acabado. As pessoas não eram mais as mesmas, elas adoeceram e tornaram-se monstros, monstros comedores de pele. Zumbis. A infecção propagou-se de um lugar fantasma, passando pelos quatro cantos do planeta e dominando tudo com apenas um cravar de dentes. Os comedores de pele devoravam aquilo o que estava vivo e nunca se cansavam, sempre estando ali para matar e dilacerar o que conseguissem.

Contudo, eles eram lentos e lerdos. Seguiam qualquer barulho e próprio se matavam sem querer. Os seus olhos opacos não os deixavam enxergar direito; as suas vestes rasgadas os deixavam nus; e as suas peles podres se desfaziam e serviam de alimento para os corvos, bactérias, roedores e germes, que logo depois sofriam mutações e tornavam-se perigosos para qualquer ser.

Metade da população do mundo foi dizimada pela doença desconhecida, e mais um pouco dela foi contaminada, se transformando após um período longo e doloroso de três meses nos mortos-vivos, passando a perambular por todos os locais a fim de ter um bom alimento que nem mesmo lhe sustentava. Poucos sobreviveram e estes são os que tentam ter o seu lugar de volta na sociedade, acampando em instituições, grupos pequenos ou vivendo sozinho e conseguindo se manter sã...

O dia estava nublado. Nuvens escuras preenchiam o céu cinza e poucos eram os pássaros que passeavam pelos arredores, já que a maioria destes estavam escondidos em seus ninhos nas árvores ou fugiam para o lado contrário de onde a grande tempestade chegava. O sol não fazia nem questão de aparecer, visto que preferiu descansar para permitir o inverno fazer o seu devido trabalho, que, no entanto, era deixar o ar com pouca umidade, os chãos cheios de neve e grandes poças d'água nos buracos das calçadas.

As portas escancaradas das casas abriam e fechavam com força pelo vento gélido que vinha e voltava com rapidez, remexendo as folhas espalhadas pelos lugares, os arbustos de muito volume, e os insetos que não tinham capacidade o suficiente para pararem em um só lugar. Além disso, os zumbidos baixos e assustadores eram escutados, ecoando pelas ruas desertas de pessoas, mas cheia de carros: alguns em fileiras, outros largados no meio do caminho e outros arrebentados por causa de um acidente.

Para um apocalipse, ter uma criança não era tão legal. Os adultos não conseguiam nem tomar conta deles próprios, então um pedacinho de gente poderia atrapalhar todo o percurso, afinal, bebês choravam alto, precisavam de fraldas, chupetas, bastante comida, e paciência e atenção. Yoongi e NamJoon sabiam bem disso, já que tinham uma criança de seis anos e a única preocupação que os preenchiam era o bem-estar do pequeno garotinho.

Yoongi e NamJoon eram um dos poucos casais vindos da Coréia do Sul que permaneceram juntos desde que o apocalipse zumbi começou. Eles namoravam há mais de nove anos e quando chegaram aos meados dos vinte e três adotaram um filho, o pequeno Min Hoseok. E agora, após anos de estudo e faculdade, viviam como andarilhos fugindo das bestas, e buscando por um lugar quente para dormir e uma comida boa para dar para o filho de ambos.

A cidade do interior estava vazia de vivos, mas cheia de comedores de pele. E mesmo sabendo de tal coisa, o casal decidiu a revistar para ver se achavam alguma coisa boa, visto que tinham um ótimo estoque de pistolas, fuzis pequenos e facas na bolsa.

Em duas farmácias, encheram uma das mochilas com todos os remédios necessários que acharam. E já em pequenas lojas de conveniência, recolheram as comidas enlatadas e garrafinhas d'água. Tinham bastante comida e sabiam que aquele tanto poderia durar por umas quatro semanas, tempo o suficiente para encontrarem outra cidade e até quem sabe uma casa.

Colocando em suas costas duas das várias mochilas que carregavam, NamJoon passou os seus braços pelo corpo pequeno de seu filhote e beijou-o na bochecha, notando que a mesma estava muito fria. Sentando sobre o chão sujo do mercado, o rapaz suspirou fundo e murmurou um "ei" baixinho para chamar a atenção do marido, este que tentava encontrar uma saída sem zumbis, isto pois a entrada estava com um bando deles, todos gemendo e tentando quebrar o vidro.

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