♰ ˒ Prólogo

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📁 𝐅𝐈𝐂𝐇𝐀 𝐈𝐍𝐅𝐎𝐑𝐌𝐀𝐓𝐈𝐕𝐀;
🌇 Capa por: kiwlein
🖋 Fanfic por: kiwlein
📄 Revisão por: kiwlein

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Cathédrale Notre-Dame d'Amiens,
Gália, 7279 d.C

Terra Pós-Apocalíptica

Mark ainda estava sangrando... com as mãos pequeninas e trêmulas, ele segurava pela alça uma armação de metal emoldurada com vidro, ─ um antigo lampião dourado acesso com azeite de mamona. A única fonte de calor daquele lugar queimava ali, nas mãos de uma criança amedrontada e chorona, e embora a luz parecesse forte dentro do anteparo transparente, não era adequada nem capaz de afastar a temperatura baixa que cobria o corpo frágil. Quase como um abraço mortífero.

Em volta dele em pequenos intervalos, a lua tentava encontrar brechas por entre as nuvens escuras e carregadas, tentando iluminar as duas grandes torres da Catedral, tarefa difícil de acordo com a neblina. O menino não sabia dizer se deveria estar feliz por conseguir enxergar algumas coisas, ou se era um infortúnio conseguir enxergar algumas coisas.

Até onde sabia, ele ainda estava ali ─ observando-o. Em algum lugar, atravessando um vasto abismo na escuridão.

Mark rastejou pelo chão sujo, e encostou-se nas lascas quebradas de uma gárgula de gesso, que fora derrubada momentos antes de sua chegada para o lado de fora. Em mínimos movimentos, ele enroscou-se com os próprios braços na tentativa de proteger-se, vez ou outra passando as mãos geladas sobre o rosto, tentando amenizar o nariz escorrendo.

Os olhos azuis estavam oscilando entre ciano frio e cinza claro, ─ conseguia sentir. ─ eles vagaram pela escuridão temerosos. Ele não respirava direito, tinha medo de fazer muito barulho. Era difícil controlar as lágrimas, a tremedeira e o coração agitado. O cheiro ferroso do próprio sangue também o embrulhava o estômago. Passou a mão encardida sobre o ferimento na testa, grunindo em horror quando percebeu a seiva carmin escorrer por entre os dedos finos.

O medo era uma sensação terrível, que Mark desejava não sentir nunca mais. Por conta dele, o menino estava agachado fazia tanto tempo, que suas pernas haviam ficado dormentes, ─ ele, no entanto, não ousava se mexer. Pelo menos não agora.

A única coisa que se mexia, eram seus cabelos dourados, que ficavam cada vez mais rebeldes pelo vento da noite, e além disso, ainda aguçava-lhe os pelos do braço, lhe trazia e levava aromas. Mark, por outro lado, não sentia cheiro algum, na verdade, quase todos os seus sentidos pareciam ter congelado, mas nada daquilo tinha importância, pois ali, numa pequena distância com menos de 100 metros da floresta congelada, havia a criatura que ele há muito não esperava ver algum dia.

Criatura essa que ele havia nascido para matar, um monstro de pele fria, dura como mármore. Com presas e olhos vermelhos.

Mas aquilo tudo não tinha importância para si. O corpo de Jasper jogado à frente era a única coisa que contava agora.

Os pensamentos desesperados eram inúteis; não havia como saírem dali tão rápido. A cabeça de Mark doía, e sua vontade era gritar. A camiseta de mangas longas estava ensopada de sangue, e o menino tinha a sensação de que estava se esvaziando, ficando seco.

Ele se perguntará várias vezes se estaria em um pesadelo, ou algo semelhante. Esperava que o irmão se levantasse do chão, e que lhe dissesse que era uma brincadeira maldosa. Esperava poder entrar na Catedral para dormirem abraçados, como em todas as noites frientas.

Ele esperou, por um longo tempo. Estava com muito medo e muito frio para se mexer, então esperou quieto.

O garoto não tinha noção de quanto tempo se passou, mas para uma criança como ele, alguns minutos em silêncio pareciam uma eternidade.

Jas...? ─ sussurrou. ─ Vamos entrar, por favor. Eu tenho medo de ficar aqui.

Jasper não respondeu.

Em volta do corpo caído, uma poça enorme de sangue estava formada, todo o líquido saindo de um grande ferimento no estômago. Mark não compreendia o motivo do irmão permanecer ali deitado, e se estava machucado, porque não levantava logo para ir a enfermaria, como todas as outras vezes?

Podemos ir na pontinha dos pés para dentro, Jasper. ─ insistiu, tremendo os lábios. ─ Vamos! Por que não levanta!?

Silêncio.

E cada vez mais silêncio.

Ele remexeu-se, e tentou engatinhar para perto do outro, mas parou no meio do caminho quando um galho arrebentou a alguns centímetros de seu esconderijo e caiu no chão. Ele se encolheu novamente.

De repente, algo se moveu, não muito longe dali.

Aquilo estava chegando mais perto; Mark ouvia o barulho dos sapatos batendo no chão, cada vez mais altos. Mesmo de olhos fechados, sentia a maneira como aquilo olhava para ele, podia visualizar em sua imaginação. Ele entre abriu os olhos para ter certeza, e viu que era mais que uma sombra; ela escapuliu pelos arredores escuros, como um pedaço da noite e parou perto do corpo caído de Jasper. A silhueta tomou forma, e então ele percebeu que não era uma sombra, e sim alguém de capa preta, tão alto que quase alcançava as árvores. O rosto estava completamente oculto por um capuz. Mark observou depressa, e o que ele viu provocou uma contração em seu estômago. Havia um braço saindo da capa, com dedos longos e finos, e eles brilhavam. Um brilho sinistro, de aparência pálida e fantasmagórica, como uma coisa morta que esqueceram de sepultar.

Mas foi visível apenas por uma fração de segundos, como se a criatura sob a capa percebesse o olhar dele, a mão foi repentinamente ocultada nas dobras da capa preta. Então aquela coisa encapuzada gargalhou. O som era distorcido e medonho, uma gargalhada sem nexo, mas que parecia divertida para quem estava debaixo de todos aqueles panos.

O frio intenso o atingiu novamente. Ele sentiu a própria respiração entalar no peito, o ar gelado penetrou mais fundo em sua pele, a cabeça girou, e ele não conseguia ver mais nada. Estava se afogando em pânico, enquanto ouvia um zumbido que lembrava um enxame de abelhas. Ele estava sendo puxado para o fundo, enquanto o zumbido aumentava para o barulho de uma tempestade.

A mão pálida e fina ajeitou o capuz sobre a cabeça, Mark viu mínimas feições por debaixo dos panos, olhos vermelhos, e delicadamente, um sorisso genuíno de presas afiadas.

Era aquilo mesmo que temia.

O vampiro voltou para as sombras, mas carregando o corpo pequenino e imóvel, do irmão mais velho dele nos braços. Foi então que ele finalmente se deu conta do que havia acontecido;

Jasper havia sido assassinado.

AMBÍGUO [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora