♰ ˒ I. Juramento

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𝗔𝗧𝗢 𝗜
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Couvent Saint-Denis,
Gália, 7286 d.C

Terra Pós-Apocalíptica

Correndo.

Eu estava correndo em uma floresta escura.

─ Mark!

Fui chamado, e o som daquela voz fez meu coração disparar.

─ Me ajude!

Jasper estava... correndo também?

Não!

Ele estava sendo carregado! Carregado para muito longe de mim, em uma velocidade a qual eu tinha medo de não conseguir acompanhar.

Enquanto corria em desespero, estiquei meu braço, tentando segurá-lo, mas só encontrei o vazio.

De forma repentina, não havia mais chão sob meus pés e minhas mãos estavam sendo molhadas. A chuva estava me tingindo de vermelho, aquilo era sangue.

Nós encostamos as pontas dos dedos, mas não era o suficiente. O vampiro que carregava Jasper correu muito mais do que eu conseguia acompanhar. Quando tentei seguir o ritmo, algo agarrou meu pé, puxando-me para baixo, e a floresta começou a erguer-se como um gigante raivoso.

Então Jasper escorregou por entre meus dedos sujos de sangue, e eu só conseguia sentir a perda.

Consegui sentir o desespero dele.

Mas não consegui salvá-lo.
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Me sentei de repente, tentando recuperar o fôlego.

Já era comum, e talvez até rotineiro a aquela altura do campeonato. Eu tinha mais pesadelos do que podia contar, e também me afetava mais do que gostaria de admitir. Toda vez que acontecia, eu me sentia um covarde medíocre, e isso me irritava de uma maneira descomunal. Não, alguns pesadelos não me fariam ser um frouxo, mas eu naturalmente me sentia assim; um fracassado.

Meus olhos focalizaram um ponto de luz suave, eu podia ouvir o distante caminhar das pessoas do outro lado do dormitório. Devem estar se arrumando. Deve ser de manhã.

Minha cabeça estava latejando. Deitei novamente na cama e o pesadelo foi se dissipando, como sempre acontece. Eu estava em segurança dentro do dormitório do Convento, em meu próprio quarto. Na mesma cama antiga de palha, onde provavelmente outras dez gerações de aprendizes dormiram antes de mim. Olhei para o teto com molduras de gesso, tentando me distrair. Ele estava pintado da cor do céu para impedir que o quarto ficasse tão lastimoso. Bem, ao menos era isso o que as freiras haviam dito meses atrás.

O teto era o único lugar pintado de uma cor diferente. Olhei as paredes brancas, depois para o carpete cinza onde minha cama, o guarda-roupas, uma mesa pequena e algumas cadeiras descansam por cima. Só havia um banheiro pequeno, também de porta branca do outro lado, um cubículo, mas perfeito para realizar qualquer vontade. A combinação monocromática e em jogo de cores neutras faz o cômodo inteiro parecer melancólico e tedioso, felizmente, nunca gostei de coisas chamativas e extravagantes. Tentei sorrir novamente, mas senti apenas amargura no fundo da garganta.

O que havia de errado comigo?

Havia anos que tinha esse mesmo pesadelo. Então porque sempre me assustava como se fosse a primeira vez?

Apesar de nunca conseguir me lembrar de tudo, a parte da qual lembrava era sempre a mesma; Jasper estava sendo carregado e eu estava correndo atrás. Tinha que o segurar, mas não conseguia, e tentava de todas as formas. Se eu soltasse, alguma coisa terrível aconteceria com ele. Dentro do sonho, eu tinha consciência de que era um sonho, mas esse era o problema; Jasper não estava mais entre os vivos, não haviam motivos para querer segurá-lo, então por que eu insistia?

AMBÍGUO [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora