Bom, aqui estamos novamente nas reflexões noturnas rotineiras. Como eu prometi, se você aceitasse meu desafio, eu abriria as cartas de pensamentos. A primeira carta, confesso, é uma das mais relidas por mim. Vira e mexe, volto a ela e reflito, até porque acredito que ela é aquela que o ser humano mais utiliza diariamente.
CARA SENHORA AMIZADE,Venho por meio desta carta compartilhar algumas percepções minhas sobre como conduzir as conexões humanas. Espero que você possa receber minhas palavras com empatia e compreender o meu ponto de vista. Quando somos crianças e jovens, tendemos a ter uma visão muito idealizada da vida e das nossas relações interpessoais, como aquelas que vemos nos filmes, em que tudo parece ser eterno e maravilhoso. No entanto, conforme fui crescendo, percebi que essas coisas não são verdadeiras e, muitas vezes, podem acabar nos afetando negativamente e nos causando traumas, o que nos leva a nos tornarmos pessoas desiludidas e a perdermos a fé em amizades, reciprocidade, entre outras coisas. Isso acontece porque, em geral, queremos ser aceitos e aprovados pelos outros, ser valorizados pelo mundo que nos rodeia e sentir-nos importantes. Dessa forma, muitas vezes nos envolvemos em relacionamentos sem perceber se eles são recíprocos ou não, e quando nos damos conta, já estamos presos neles, sem saber como mudar. Quando finalmente decidimos mudar, precisamos regressar ao caminho e realinhar tudo. Já passei por diversas situações assim e confesso que por muitas vezes até perdi a esperança de encontrar conexões verdadeiras. Criei um auto bloqueio, confiar é um desafio para minha pessoa. A questão é que nós, seres humanos, fomos criados para viver em sociedade e fazer parte de um grupo. Por esta razão, temos esse anseio por conexões e vínculos, temos medo de estar sozinhos e não ter um grande grupo de amizades. Porque, segundo o que a sociedade manda, só é feliz quem tem milhares de contatos e amigos. Mas será mesmo? O que realmente deve ser determinado como amizade?
Sempre aprendemos que precisamos nos dar valor e aprender a ser feliz conosco mesmos em primeiro lugar. Assim, evitaremos entrar em relacionamentos tóxicos ou sermos pessoas tóxicas que não deixam o outro respirar. E passamos a ter consciência de quando só nós corremos atrás, e poderemos nos livrar desse comportamento. Mas ter solitude não é nada fácil, requer muita autodisciplina e autoconhecimento.
Outro ensinamento que a vida nos ensina na dureza é que na maioria das vezes não teremos um grande número de "amigos" ao nosso redor para nos ajudar a correr atrás de nossos sonhos ou nas situações difíceis. Teremos que lutar sozinhos e focar no que é essencial para nós. Podemos contar nos dedos quem estará ao nosso lado de verdade para enxugar nossas lágrimas e nos dar um ombro, principalmente se não temos uma posição de destaque em nossos círculos sociais. E quando a amizade falha conosco, a queda é tão grande que nos despedaça por dentro. Já pensou dona Relação, em colocar uns spoilers de início só para termos uma breve noção?
Precisamos aprender - isso se quiser nos ajudar, né, senhora Amizade - a enxergar os diamantes ao nosso redor. Ficamos tão focados em algumas amizades ou pessoas que às vezes só querem nos sugar que não percebemos quem realmente está ali para o que der e vier. E não nos abrimos para outros que poderiam nos dar reciprocidade. Pessoas que realmente se importam conosco, mesmo não estando lá fisicamente, e que na simplicidade do dia a dia demonstram que se importam com nossas dores, sonhos e pensamentos.Eu diversas vezes deixei passar essas oportunidades. Havia pessoas incríveis à minha volta que não eram populares ou destacadas, mas eram aquelas em que eu podia sempre contar se precisasse. Por causa da minha cegueira, não pude enxergá-las de fato e valorizá-las.
Sabe amizade, apesar de sempre pensar e refletir sobre esse assunto, constantemente cedo à tentação e acabo fazendo tudo novamente. Esse ciclo sem fim vai se renovando, e por isso cheguei à conclusão de que não há como quebrá-lo.A solução é aprender a lidar com essas situações quando acabamos caindo novamente nelas, pois quem mais é afetado é aquele que se martiriza pelo erro. Precisamos pôr na cabeça que essas coisas são normais e somente através do senhor amor que aprenderemos a conduzir as amizades .
Atenciosamente, Alguém.
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Reflexões de um peregrino moderno - amostra
Ficção GeralDurante suas peregrinações na vida moderna e no amadurecimento dela, um peregrino se encontra em indagações e reflexões sobre os percalços e situações da vida e a partir disso ele escreve cartas anônimas para seres inanimados como: amizade, sociedad...