Havia, afinal, uma saída.
Todo o trajeto até a residência Stark foi feita com a mente de Steve a milhão, montando cenários diferentes e como ele deveria proceder a partir disso. Tony poderia concordar facilmente, talvez fosse necessário convencê-lo, talvez nada do que eles tivessem a dizer pudesse fazer Tony mudar de ideia.
Sendo bem sincero, Steve não fazia a menor ideia de como colocar aquele plano em prática, mas as chances de sucesso eram bem maiores se eles unissem Scott, Bruce e Tony, sem sombra de dúvidas.
Tony estava com as garotas do lado de fora da casa quando eles estacionaram. Morgan em seu colo e sua mão livre segurando a mão de Lauren, que abraçava um capacete roxo com o outro braço. Ao avistar os três, Tony já sabia que algo tinha acontecido e que provavelmente não era algo bom. Vez ou outra Steve aparecia ali para deixar a filha, às vezes era Natasha ou algum outro terceiro, mas eles nunca apareciam juntos e Tony tinha quase certeza de que Scott estava na lista de pessoas que desapareceram no estalo, então ele já estava mais alerta que o normal. Assim como Lauren.
Bem filha de quem era, não era fácil algo passar despercebido pela criança.
Sem muitas escolhas, Tony pedira que ambas as garotas entrassem na casa, inevitavelmente tendo que dar a desculpa de que aquela era uma conversa de adultos, o que atiçaria a curiosidade ao menos da mais velha das duas. Que Pepper ficasse atenta para que elas não se envolvessem em assuntos que deveriam ficar longe, pelo menos por hora.
Se não fosse a seriedade de Scott em explicar tudo o que acontecera e sua teoria para agirem contra o que já tinha acontecido, Tony teria rido. Eles insistirem mesmo após ter argumentado como nada daquilo funcionaria e que Scott apenas tivera a sorte de sobreviver a tal acidente, apenas deixou Tony mais frustrado e preocupado. Ele entendia muito bem o que o luto fazia com as pessoas, mas o trio precisava se distanciar e ver a situação com mais clareza.
- Sei que você tem muito em jogo. Você tem esposa e filha, mas perdi... – começara Scott, e foi aí que Tony se permitiu perder a linha.
- Não ouse terminar essa frase insinuando que eu não perdi nada, Lang – Tony o cortou de imediato, vendo em seus olhos o exato momento em que Scott percebera o erro que cometera – Eu sei muito bem que a Avril, minha filha que eu também perdi no estalo, acabaria com a minha raça se eu arriscasse tudo por... Por algo que sequer sabemos se daria certo. Ela acabaria com a minha raça se eu deixasse vocês se arriscarem com isso também. E não ouse insinuar que eu não sinto essa perda, porque eu sinto. Todo. Santo. Dia.
Tony aproveitou aquele silêncio desconfortável e tenso para respirar fundo e se recompor, quase retomando sua postura mais calma ao ver Pepper cochichar algo para Morgan e a garota começar a correr em sua direção, mas a ausência de uma figura fez com que ele revirasse os olhos, se colocasse de pé e pegasse uma vassoura. Com dois passos extremamente calculados, Tony bateu no meio do telhado com o cabo, fazendo com que o barulho de algo caindo ecoasse pelo espaço sem dificuldades, logo a cabeça de Lauren aparecendo na beirada do telhado enquanto praguejava baixo. As pontas de seus dedos pareciam não circular mais sangue tamanho o empenho que a garota agora se segurava na madeira.
- Srtª Rogers, o que já falamos sobre ficar xeretando conversa dos adultos? – soltou Tony, o mais sério que conseguia. Ele queria estar bravo, mas a criança de alguma forma conseguia dificultar tal tarefa.
- Você está tentando me matar?! – devolveu ela exaltada, seus olhos ainda arregalados pelo susto que levara. Ela tinha plena certeza de que tinha sido o mais silenciosa possível, não tinha como seu avô ter a escutado dessa vez – Se eu morrer, você vai ficar de luto para sempre!
- Sim, eu vou chorar todo dia de noite até dormir – retrucou Tony, seu tom monótono apenas fazendo a criança falhar em se manter séria e rir baixo – Agora desce daí, encrenca. Se quebrar meu telhado de novo, você que vai consertar dessa vez.
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The Real Side III: Damage
RomanceAlgumas coisas, embora se lute muito pelo contrário, são inevitáveis. Normalmente, aprendemos isso da pior maneira: falhando.