Se entediar no castelo não era uma tarefa difícil, Loki aprendera em poucos dias após tomar o posto de rei.
A aparição de Avril lhe trouxera bastante entretenimento, ele tinha que dar o braço a torcer: tentar desvendar o mistério de sua chegada, a razão de sua mente estar em pedaços... Tudo isso o manteve intrigado por semanas.
Quando encontrou meios de permitir que ela circulasse entre outras pessoas e ainda desempenhasse algumas tarefas, ele permanecera ocupado acompanhando seus passos, garantindo que tudo aquilo não apresentava uma ameaça para sua farsa. Afinal, a última coisa que precisava era ela retomando sua consciência e entregando que, na verdade, não era Odin no trono.
Um feitiço até que simples, mas um tanto alterado pela situação deliciada que se encontrava. Sempre que afastava Avril do Tesseract, parecia que havia aberto uma caixa de surpresas. Quando tivera sorte, ela apenas desmaiara. Nos piores casos, ela entrara no modo combate e Loki não queria descobrir o que aquela maldita energia verde em suas mãos era capaz de fazer ao entrar em contato com seu corpo. Em nenhum desses momentos ela parecia de fato entender o que acontecia ou onde estava. Vez ou outra respondia pelo nome Avril, em outros, questionava quem essa deveria ser. Isso quando não se referia a nomes que Loki nunca ouvira na vida.
Sob o feitiço de estabilização, ela respondia por Eir.
Nome bastante adequado, Loki percebeu após descobrir que a energia verde que vez ou outra utilizava no fim era para executar feitiços de cura, algumas semanas mais tarde.
No fim, seu feitiço ainda necessitou alguns ajustes e algumas restrições permaneceram. Agora, ele podia fazer isso por um dia ou dois, mas, no início, o espaço de tempo que era possível manter Avril afastada do Tesseract era bem curto, e o espaço de tempo que precisava mantê-la exposta ao artefato para que não tentasse atacar a tudo e a todos bastante longo. Embora exigisse um tanto de sua energia diária, Loki conseguira alcançar um ponto onde era possível que Avril interagisse mais com as pessoas do castelo, logo ela integrando de forma quase natural a equipe de serventes e, mais tarde, integrasse o grupo de atores.
Porém, depois de um tempo, tudo isso também se tornou uma rotina: entender a aparição da mulher deixou de ser algo que causava interessante a se desvendar; suas participações nas peças lhe traziam uma satisfação imensa, mas elas não aconteciam durante todo dia; e ter a mulher o seguindo para cima e para baixo só entretinha até um certo nível.
Então ele tomara mais uma escolha arriscada.
- Queria me ver, alt...? – a voz da mulher soara após abrir a porta, vacilando por um instante ao visualizar Loki no recinto. Embora estivesse em seus aposentos, normalmente ele mantinha sua ilusão de Odin durante todo o dia, por desencargo. Isso, somado à convocação repentina, deixou a mulher ainda mais desconfiada.
Sentimento esse que só se intensificou quando ela começou a caminhar em sua direção, o homem em frente à janela não se virando por completo.
- Estou entediado – confessou ele, olhando por cima do ombro, sem se dar o trabalho de disfarçar seu sorriso travesso. Eir apenas revirou os olhos.
- Temo que só teremos apresentações na próxima semana, alteza.
- Exatamente por isso que te chamei.
- Não compreendo.
- Me dê suas mãos.
Eir franziu ainda mais o cenho com o pedido, desunindo suas mãos às suas costas em um processo lento e desconfiado até Loki lhe esticar suas próprias, a pele pálida embebida em sangue.
No desespero, a mulher eliminou os últimos passos de distância e uniu as mãos do rei entre as suas, logo o brilho verde tímido fazendo seu trabalho.
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The Real Side III: Damage
RomantizmAlgumas coisas, embora se lute muito pelo contrário, são inevitáveis. Normalmente, aprendemos isso da pior maneira: falhando.