𝔼𝕡𝕚𝕝𝕠𝕘𝕦𝕖.

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!By Phoebe!

 A dor era terrível, como se tivessem me transpassado com uma lança e me deixassem para morrer no meio de um trigal coberto com a geada do inverno.

 Estava encolhida no fundo da cabana negra quase completamente vazia se não fosse pela cama e pela bacia com água.

 Aquele era o lugar de Pátroclo e estar ali só me fazia pensar que eu estava o roubando dele. Mas as ordens de Eudoro tinham sido bem claras: eu deveria permanecer na cabana até segunda ordem depois do funeral do mathi.

 Faziam horas que Aquiles tinha saído para combater Heitor e devolver a honra ao primo, e eu sabia que só havia um único resultado possível. Talvez fosse por isso mesmo e pelo apelo de Briseis para o namorado não ir, eu comecei a me sentir péssima por ter desejado aquela vingança.

 Parecendo ler meus pensamentos, Briseis entrou na cabana. Olhou tudo com cautela, vi seu lábio tremer ao conter um choro, e veio até mim a passos tranquilos, se sentando ao meu lado.

 - Não dá para ter certeza do que Pátroclo iria querer - sua voz saiu fraca. - Mas sei que não gostaria de te ver assim.

 - Eu já fiz isso - me adiantei em falar, antes que começasse de novo. - Eu costumava ser boa em consolar as pessoas, mas nunca dei razão para que elas fizessem o mesmo por mim.

 Ela deu um sorriso triste e anuiu com a cabeça.

 - Você não dá o controle do destino, Phoebe, nada que acontece sem seu conhecimento é sua culpa.

 - Eu sei... só estou... - não sabia as palavras, deixando que só um suspiro saísse de meus lábios. - Eu só gostaria de ter tido mais tempo com ele.

 - Nem todo tempo do mundo é o suficiente para passar com quem amamos - senti a mão dela pousar em meu ombro e, depois, ela se levantou, saindo.

๑_._๑_._๑_._๑

 O corpo de Heitor estava entre a tenda de Aquiles e a de Pátroclo, por isso, fui vê-lo, passando facilmente despercebida.

 Heitor. Eu já o tinha visto antes, bem de longe, montado em seu cavalo, ele acenava para todos com um sorriso alegre no rosto. Lembro-me de quando eu era pequena e ele passou, sempre num cavalo castanho, sempre com o mesmo sorriso, sempre alegre, sempre gentil. Mas, ao menos naquele momento, ele não era meu príncipe, nem futuro rei, e sim era quem tinha matado o primeiro homem que amei.

 Cobri-o e voltei para dentro, dando com nada além de completa solidão.

 Durante a madrugada, ouvi uma conversa, e todas as vozes tinham o som da voz dele aos meus ouvidos, mas, quando Eudoro entrou na tenda, ficou óbvio novamente que ele não iria mais voltar.

 - Arrume suas coisas - disse, de modo plano. - Vamos partir.

 Não tinha muito o que eu arrumar, por isso, embrulhei os dois únicos vestidos que eu tinha e os coloquei em uma trouxa, dando um nó apertado, para então sair, sem olhar para trás.

 Bem diante da minha porta, a carruagem com o corpo de Heitor estava parada, do lado, um senhor de cabelos brancos e Briseis, que tinha as mãos grudadas nas de Aquiles.

 Assim que apareci, o loiro me encarou.

 - Parta com eles - disse, calmo.

 Franzi o cenho.

 - Pensei que iria com vocês - encarei Eudoro, que deu de ombros.

 - Não, seu lugar é aqui, com seu povo. De onde você nunca deveria ter saído - eu tive a impressão de ver um sorriso perpassar pelo rosto do guerreiro, mas não tive certeza.

𝕊𝕒𝕝𝕧𝕖-𝕞𝕖 - "𝔹𝕝𝕠𝕠𝕕, 𝕝𝕠𝕧𝕖 𝕒𝕟𝕕 𝕔𝕠𝕦𝕣𝕒𝕘𝕖".Onde histórias criam vida. Descubra agora