Não abra a porta!
Foi tudo que Pedro me disse antes da ligação cair. Alguem batia na porta com tanta força que o barulho começou a ficar perturbador. Eu sei quem estava do outro lado da porta. Coloquei o celular dentro do bolso e me afastei.
- Joe, quem está na porta uma hora dessas? - Gritou minha mãe.
- Não sei. - Respondi.
Já estava de noite. Não eram nove horas ainda, mas ninguém ia arriscar de ir dar uma visitinha ao vizinho do nada na noite. Eu queria gritar. Não sei mais o que estou sentindo, medo, raiva, exaustão. Parecia que estava sentindo tudo isso ao mesmo tempo. As batidas não pararam.
- QUE MERDA, DÁ O FORA!
Meu pai gritou tão alto que me assustei. Parece que o grito dele foi o bastante para eu me lembrar que tinha pernas. Me virei para subir as escadas. Então um estrondo alto aconteceu. Olho para trás e vejo aquela coisa. Parada, me olhando. Tinha cabelos loiros, não era tão alto. Era magro e estava coberta por sangue. Sua cabeça estava torta que parecia que seu pescoço iria soltar a cabeça a qualquer momento, perdi todas as forças que tinha quando percebi que aquela coisa era Alice.
O corpo estava complemente quebrado. Seus braços estavam em um ângulo estranho. Sua cabeça virada para o lado de um modo exagerado e seus olhos vermelhos. Minha mãe gritou e meu pai parecia paralisado. Aquela coisa abriu a boca e gritou:
- JOE, JOE, JOE, JOE, JOE.
Aquilo em um piscar de olhos começou a correr em minha direção. Gritei o mais alto que pude e corri para subir as escadas. Meus pais estavam assustados o suficiente para não irem fazer nada. Assim que subi a escada, aquela coisa estava quase chegando no topo, peguei um pequeno vaso de flor que estava no corredor e atirei contra aquilo. Em cheio. Aquela coisa caiu no chão. Pude escutar os ossos quebrando a cada degrau que batia. Nesse momento, meu pai pegou uma faca e acertou na cabeça daquilo. Aquela coisa começou a se contorcer no chão, vômito saiu de sua boca e quase acertou meu pai. Minha mãe estava quase para desmaiar.
- Joe, eu quero Joe, eu quero aquele que não permite que eu descanse, Joe....
Aquela coisa dizia isso enquanto sua voz era quase abafada pelo vômito. Por quê? Por que eu era responsável pelo tormento dessa coisa? O que eu fiz? Meu Deus. Minha voz já não saia direito da minha boca. Meu pai correu até o depósito e voltou com uma arma. O tiro foi bem na cabeça. A coisa parou de se mexer. Caí no chão.
Minha mãe correu até mim. Minha cabeça estava doendo. Tudo parecia borrado. Tudo que escutei era minha mãe e meu pai brigando. Por que estão brigando? Tinham acabado de ver que um demônio tentou me matar, por que estão brigando? Assim que minha cabeça voltou, meu pai já não estava comigo e sim minha mãe.
- Joe, meu filho, aí meu Deus... - sua voz era de choro e desespero. - Como eu pude deixar isso acontecer.... Oh meu Deus, por que?.... - Queria dizer para minha mãe que não é culpa dela, quero abraçar ela. Quero chorar, pedir Socorro, só quero ajuda.
- Joe, me desculpe, não tive coragem de te entregar para aquelas pessoas, como fui estúpida. Tenho certeza que você não iria sofrer....
Sofrer? Eu tinha ouvido errado? Sofrer? Sofrer o que? Do que ela estava falando?
- Do que você está falando? Como assim sofrer, mãe?
- Joe, meu filho, eu sempre soube que você tinha quebrado a regra do toque de recolher.
- O que? Como assim? - Sentia minha cabeça voltar a doer de novo.
- No momento que flagraram você, Matheus, Alice saindo de casa e me mandaram as fotos de vocês na rua, só Deus sabe o quanto eu sofri.Minha mãe me segurava com tanta força que doía.
- Por que está contando a ele? - Disse meu pai subindo as escadas. Parecia chorar também.
- Ele merece saber. - Gritou minha mãe. - Olha como ele está. - Meu pai parou de andar e começou apenas a me olhar.
- Joe... - Minha mãe voltou a falar baixo. - Assim que o Padre soube que você tinha quebrado a regra, me mandou uma mensagem, e acredito que para você também.As mensagens, "Eu sei o que você fez" "eu sei que você quebrou a regra do toque de recolher". Era o Padre? Ele sabia o tempo todo? Se ele sabia, por que teve o trabalho de vir com aquelas pessoas? Mas tinha uma coisa que não fazia sentido ainda, as fotos, uma da fotos era ele andando na calçada no dia que quebrou a regra, mas a outra, era ele mechendo no computador. Como?
- Mãe, por que está me contando isso agora? - Disse tentando me soltar das mãos dela.
- Eu não podia falar com você sobre isso, eles estavam nos vigiando o tempo todo. Colocaram câmeras escondidas na nossa casa no dia que vieram aqui.Câmeras, era isso, foi assim que me filmaram sem eu ver. Meu Deus, minha cabeça doía ainda mais.
- Mãe, me solta, deixa eu levantar.
Minha mãe chorava agora. Meu pai olhava para o chão.
- Joe, temos que sair daqui agora. - Disse meu pai.
- Pra onde? Me digam. - Minha voz estava entrando em desespero.
- Rápido. Ainda da tempo antes dos outros chegarem.
- QUEM? ME FALEM AGORA. NÃO VOU PARA LUGAR NENHUM SE NÃO ME FALAREM! - Explodi, não aguento as coisas sendo escondidas de mim, não aguento mais.Minha mãe me segurou pelo braço e desceu as escadas me puxando. Meu pai foi até a frente de casa e foi até o carro.
- ME SOLTA! ME SOLTA!
- A gente vai falar no carro, Joe. Não grite. - Falou minha mãe.Meu pai abriu a porta do carro e me jogou dentro do carro. Meu pai foi até o banco do motorista e ligou o carro. Minha mãe subiu até o banco de trás para ficar do meu lado.
- Joe, preciso que você me escute com atenção, por favor.Minha mãe ainda estava com a voz de choro. O carro começou a andar.
Continua....
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Nunca saia sozinho
Mistério / SuspenseAs pessoas não são como parecem ser. Joe é um adolescente de 12 anos. Ele mora em uma cidade aparentemente muito feliz. Mas todos os moradores dessa cidade seguem uma regra: NÃO É PERMITIDO QUE NINGUÉM SAÍA DE CASA DEPOIS DAS NOVE HORAS DA NOITE. M...