A brisa soprou em meu rosto, sussurrou em meu ouvido, e ao fundo, ouvi uma voz masculina gritando: Esse é seu castigo! Arque com as consequências de seus atos!
Como se tivesse finalmente saído de um pesadelo, o alívio passou pelo meu corpo, relaxando meus músculos e desacelerando o meu ritmo cardíaco. Tudo parecia normal, mas...havia algo de errado. Senti uma sensação estranha e familiar em meu peito e, mesmo não querendo acreditar, já sabia o que era.
Senti minhas mãos encharcadas com um líquido quente e viscoso e, quando olhei para baixo, as mesmas estavam ensanguentadas e seguravam uma faca escorrendo sangue cravada no abdômen de Marcy. No susto, arranquei a faca de seu corpo, fazendo-a grunhir de dor; tremendo, acabo derrubando o objeto ensanguentado no chão, que tiniu quando o metal entrou em contato com cimento. A morena, já fraca pela dor e falta de sangue, desaba no chão.
-Não... Me desculpa... Por favor, não... E-eu nã-não sei o que houve, ma-mas não fui eu...- gaguejo desesperada pelo o que acabara de acontecer, tentando, em uma falha tentativa de me explicar, mesmo que nem eu mesma saiba explicar o que fizera. Ajoelhei-me ao seu lado, para ficar de igual com ela.
-Tu-tudo bem...-disse ela cuspindo sangue, em um sussurro tão baixo, que se eu não estivesse perto, não a ouviria.
-Não! Não, eu não queria ter feito isso... Não sei o que houve, mas- - tento dizer, mas então sinto meus olhos arderem e minha visão embaçar; lágrimas de culpa e tristeza se acumularam e, lentamente escorreram pelo meu rosto. Senti como se tivesse engolindo um caroço e por consequência, acabei engasgando e mal conseguindo terminar minha frase.
Um soluço saiu dolorosamente pela minha garganta, rasgando-a e o simples ato de falar se tornou um desafio.
-Tudo bem...Era para ser...- tranquiliza ela, derramando lágrimas e cuspindo mais sangue, entretanto, sorrindo, mostrando seus lindos dentes brancos em contraste com o vermelho vibrante do seu sangue, me trazendo uma estranha sensação familiar de medo e culpa. Ela foi se inclinando em minha direção e eu, me desespero, pois sinto sua vida se esvaindo de seu corpo.
Tremendo, pego meu celular do bolso e aperto em emergência. Meus dedos deixavam marcas vermelhas de digitais por toda a tela, enquanto discava o número da ambulância, e esperava impacientemente me atenderem.
-Nã-não... Por favor, volta... Me desculpe...Eu te amo... -exclamei, e então segurei sua cabeça e a repousei em minha coxa e encostei minha testa na de Marcy; e com as mãos trêmulas, faço carícias em seu rosto, em uma tentativa falha de limpar o sangue e as lágrimas.
-Alô, qual seria a emergência? - depois de três segundos, ouço do celular, uma voz feminina.
Marcy levou sua mão ao meu rosto, e fez carinho em minha bochecha, sorrindo, ela disse, tão baixo como se fosse um segredo : -Também te amo...Até...
Sua mão em minha bochecha foi perdendo força e antes que pudesse cair, a pego e repouso delicadamente sobre seu torso. Olhando para seu rosto pacífico e pálido sem vida com rastros de lágrimas e sangue, balbucio desesperada: - Me perdoe...
E então, Marceline Abadeer deixou o nosso mundo, indo para então o Reino Celestial, para ter seu descanso, não eterno, mas prolongado.
E eu: -Eu te amo, minha morceguinha...Até logo...-sussurrei em seu ouvido, esperando, inconscientemente, que ela pudesse ouvir.
-Olá? Tem alguém aí? - do meu celular ( que não percebera que agora estava no chão), ouço a voz feminina chamar, mas não a escutava, não a compreendia. Meu cérebro desligou, não via e nem ouvia, tudo se tornou um borrão.
Nada mais fazia sentido.
Nunca fez sentido.
Nunca fez sentido a forma como o ar entrava em meus pulmões e não nos dela, ou sangue que corria em minhas veias, mas que estava parado nas dela; o som de tudo, menos o de sua voz, e nunca fazia sentido ser eu a pessoa, que sempre a segura nos braços antes de morrer. Não fazia sentido eu ser a última pessoa a ver seus olhos vermelhos cheios de brilho e vida antes de ficarem opacos e mordidos. Nunca fazia sentido não ver mais seus olhos semicerrados quando sorri, mostrando sua covinha na bochecha esquerda.
Nada importava mais.
E nada importar é a minha punição, nada posso fazer a não ser aceitar e esperar que na próxima, os deuses tenham misericórdia de minha alma.
Mas infelizmente nunca é assim...
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Espero que tenham gostado desse prólogo, e não se esqueçam da estrelinha, ela ajuda bastante.
Obs: qualquer crítica construtiva é muito aceita.
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𝑨𝒌𝒂𝒊 𝑰𝒕𝒐 - 𝐵𝑢𝑏𝑏𝑙𝑖𝑛𝑒⚢︎
FanfictionNão importa o quanto eu tente, sempre acabava voltando para o sorriso genuíno, risada contagiante e olhos vermelhos tão vivos quanto sangue. Sempre acabava voltando para a covinha que se manifestava na bochecha esquerda quando sorria, para os olhos...