Lembranças que voam com o vento

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 - Mikasa... Eu sempre odiei você.

Essas foram as últimas palavras que eu escutei dele.

A noite era quente, abafada. Talvez até demais, para os corpos embriagados que dançavam pelo salão. Eu não lembro se alguém foi atrás dele, se vieram me socorrer ou o quê. Apenas lembro de ter caído de joelhos no chão, desolada, como se tivesse levado um tiro no peito.

Bom, acho que teria sido melhor do que ouvi-lo dizer aquilo.

Disseram que Armin partiu para cima de Eren, mas foi parado pelo professor. Disseram que eu me levantei e corri para dentro do local. Me viram bebendo num só gole uma garrafa. Até hoje, aquela noite foi como um divisor de águas na minha vida.

- Já vai, Tofu... Já vai. – meu gato começou a miar na porta do quarto

Fazem apenas alguns meses que estou no apartamento novo no sul de Mitras e meu gato já sabe abrir portas sozinho. Estou com medo das próximas habilidades que ele pode aprender morando num lugar tão pequeno.

Levantei devagar, a cabeça latejando, por ter bebido demais na noite passada. Fui até a cozinha e, a cada passo, parecia que meus miolos explodiriam. Finalmente consegui pegar a ração de Tofu e o alimentei, para que então ele parasse de reclamar. Voltei para a cama.

Estava tendo um sonho estranho... Sonhei com uma noite há 4 anos atrás. Quando eu estava na minha festa de formatura. Que noite horrível. Lembro de Eren e suas ofensas que me deixaram no chão. Como eu tinha ficado arrasada...

Conhecia Eren desde que éramos crianças.

...

Era uma tarde fria, eu tinha por volta de 8 anos e estava voltando da escola, quando uns meninos começaram a me seguir de bicicleta pela rua. Eu não conseguia encará-los, apenas andava o mais rápido que podia. O vento gelado me torturava, mas aquilo era o de menos. Lembro de ouvir aquelas crianças me chamando de "Xing-ling" ou coisa parecida, repuxando os olhos, fazendo caretas. Foi assustador.

Eles me seguiram assim por algum tempo, eu já tropeçava, mesmo olhando para baixo, porque minha visão começou a borrar. "Por favor, não chore. Aqui não.", eu repetia na minha cabeça.

- Ei! Calem a boca, idiotas! – outro garoto vinha correndo na minha direção, ele praticamente voou em cima dos meninos que me cercavam

Eu fiquei petrificada enquanto o garoto era surrado. Os meninos eram muito mais fortes que ele, então eu não sei o que aconteceu. Meu corpo apenas agiu naturalmente. Não sei como, mas o olhar daquele garoto me disse para fazer alguma coisa. Eu parti para cima deles. Reuni toda minha força e eles nem tiveram tempo de perceber o que tinha acontecido, acabaram fugindo.

Depois do que aconteceu, me assustei ao sentir a dor do impacto. Eu nunca tinha me defendido, nunca tinha revidado ou batido em alguém. Comecei a chorar e o garoto, todo lanhado, me perguntou se eu estava bem.

Antes mesmo que eu pudesse responder, ele retirou o cachecol vermelho que usava e enrolou em volta do meu pescoço. Aquele menino tinha me salvado, e eu não sabia como agradecer. Quando me acalmei, disse que eu estava bem e apenas saí dali correndo.

Já em casa, processando o que aconteceu, meus sentimentos vieram à tona. As lágrimas molharam o cachecol, primeiro de raiva pelo bullying que haviam feito. Depois, se tornaram lágrimas de alívio, senti um profundo carinho pelo menino que me ajudou. Depois daquele dia, algo mudou em mim. Eu senti que era capaz de fazer qualquer coisa! E não tinha nem agradecido!

Durante os próximos dias, me senti extremamente envergonhada, porque eu praticamente tinha roubado seu cachecol, e simplesmente havia fugido, ridiculamente!

Eu sempre amei você (EREMIKA)Onde histórias criam vida. Descubra agora