hungry dogs are never loyal

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DE: Bartemius Crouch Junior
PARA: Regulus A. Black

DESTINO: Godrics Hollow, casa 29
DATA: 30 de março de 1979


Todas as tragédias são anunciadas? Sei que nunca fui bom em prever esse tipo de coisa mas agora, que sinto que está próximo do fim, vejo que é algo maior que uma tragédia. É uma grande catástrofe, avassaladora e que não vou conseguir te salvar dela a tempo. Sinto muito por não ter notado antes, Regs. Escolhi cegar meus próprios olhos, não queria ver a grande enrascada que eu estava me metendo, que te meti. Eu deveria saber, desde que entramos para aquela droga de sociedade secreta, eu devia ter percebido antes de você, antes de Evan, antes de Pandora, antes de todos vocês. Mas acabei por entender depois de todo mundo e agora a solidão me consome, a culpa tomou o lugar da minha sombra, não consigo parar todo o estrago que contribui para acontecer e agora a única opção que tenho é assistir o desespero se alastrar.

Você se lembra como eu era antes? Achei um diário antigo meu, antes de tudo aquilo começar, ele mais ou menos começava no inverno do quinto ano, depois do Natal. Descobri que minha cor favorita era azul escuro - "como seus olhos", eu dizia algo assim no caderno - e que eu gostava de alcaçuz vermelhos. Descobri que era mais inteligente do que me recordo, que gostava das aulas de Artimância e que eu errava de propósito para que você me ensinasse com seu jeito atencioso e ao mesmo tempo impaciente. Descobri que Evan era engraçado, que ele era apaixonado por Pandora e que gostava de receber presentes mais que qualquer pessoa no universo. Descobri que eu era batedor no time de Quadribol da Sonserina, que meu sonho era se tornar jogador profissional depois da formatura. Descobri que amava chá gelado e que detestava café, que não sabia dar nós nas gravatas, que tinha uma coruja marrom chamada de Clove, que gostava de feitiços de transfiguração e que detestava meu pai. Descobri que meu plano era me mudar para Moritz, na Suíça, porque te levei para patinar lá uma vez e escrevi em meu diário que você disse que era seu lugar favorito no mundo.

Regulus, você se lembra de todas essas coisas? Se lembra do que aconteceu depois do terceiro jogo de Quadribol do sexto ano? Do dia 17 de maio, ou melhor, da noite do dia 16? Lembra de Agosto de 1978? Lembra da pior briga que tivemos? E todo o resto, você lembra? Sei que nunca terei uma resposta, duvido que você irá responder e não o culpo por isso, mas não posso renegar o meu próprio sentimento, meu desejo de que você mandasse uma carta de volta. Não sei se me tranquiliza a ideia de você se lembrar de tudo isso até mesmo melhor que eu. Minha cabeça não é mais a mesma daquela época, nem perto disso. Gosto de acreditar que você está mais feliz onde está, mas meu coração corrompido não me deixa pensar em algo tão bom assim.

Sinto tanto a sua falta. Lembra como beijamos até não sentir mais os lábios? Se lembra das conversas noturnas? Dos banhos compartilhados pela manhã, depois do jantar, depois de um treino de Quadribol? As memórias vem e vão e em todas as vezes que elas me atingem eu sinto algo que eu não consigo explicar, não consigo reconhecer. Acho que é amor. E acho que te amei mais do que amei qualquer pessoa em minha vida toda. Acho que nunca amei ninguém de verdade além de você. Aprendi o que era esse sentimento contigo e sei que você também nunca foi bom com ele, o engraçado era que nós dois não conhecemos quase nada dele, talvez por isso não tenhamos dado certo. Talvez nunca soubemos de fato o que era amar, pelo menos eu não.

Não importa mais agora, de qualquer jeito. Eu não vou demorar para morrer e você está com Potter. Ele é uma boa pessoa, diferente de nós? Sei que ele nunca seria capaz de fazer o que nós fizemos, sei muito bem. Ele parece ser o tipo de homem que não guarda nenhum segredo nebuloso, daqueles que precisam ser guardados a sete chaves, enterrados mais fundo do que sete palmos abaixo da terra, trancados em um cofre e lançado na parte mais fundo do oceano, daqueles que você guarda de sobra, que eu e você compartilhamos um com o outro. Desses segredos eu me lembro muito bem. Me pergunto se você o contou sobre nós, sobre quem eu realmente era pra você além de um colega de quarto. E não apenas sobre nós mas também sobre o que fizemos, o que prometemos encobrir, sobre o que deixamos acontecer, sobre o que Evan fez. Você manteve sua promessa, Regs? Guardou nossos segredos? Ou teve que se confessar para mudar pro lado dos mocinhos, do seu herói ingênuo e daquele velho hipócrita do Dumbledore?

Segredos destroem relacionamentos, sendo eles guardados ou expostos. Eu sempre prezei pela honestidade, apesar de tudo. Nunca te disse uma mentira que fosse, tudo que eu falava sempre fora verdadeiro. Eu era sincero quando dizia que me perderia com facilidade dentro de seus olhos, de seu corpo, de sua inteligência, de sua alma. Não era mentira que eu acreditava que nasci apenas para te encontrar. Estar com você foi a melhor época da minha curta vida, mesmo quando estávamos brigados, quando discordavamos, mesmo quando eu percebi que Potter te encarava nos corredores e tive a realização que ele seria mil vezes melhor pra você do que eu jamais seria.

Detesto afirmar que ele, apesar da estupidez, é melhor do que eu. Posso admitir agora que nada mais importa que fiz aquilo de propósito no último jogo do nosso quinto ano, você sabe do que estou falando. Posso agora dizer com convicção que eu não sou uma boa pessoa. Nunca fui e sempre soube disso, desde menino. Olha onde estou agora, o que me tornei. Alguém bom nunca faria o que eu fiz. Eu os matei, Regulus. Todos que me mandaram matar, eu fiz. E não só homens. Mulheres também. Crianças. O que me tornei? Não consigo dormir a noite, não consigo lembrar o que eu era, não consigo mais ver o porque faço o que faço, o que me levou a isto. Estou preso em meus pensamentos ruins, perdido na minha própria mente. Bagunçaram minha cabeça, Regs, e não consigo pôr em ordem, nunca mais vou conseguir. É como se eu de verdade me assombrasse e o eu agora é o impostor que se apossou do corpo.

Eu queria ser jogador de Quadribol, não comensal. Eu queria morar com você em um lugar que nevasse muito, queria amar você do jeito certo, do jeito que não sei fazer. Eu não queria virar soldado no tabuleiro de xadrez de ninguém, eu dizia que nunca deixaria que me controlassem, que nada iria mudar quem eu era. Não faço ideia de quem quando me olho no espelho. Hoje, nada é como um tabuleiro de xadrez, mas é como uma caçada competitiva, nós contra vocês.

Não faz muito tempo que percebi que não sou um soldado, sou um cão. Daqueles farejadores, espertos, fiéis. E só notei isso porque cães famintos nunca são leais. E algo está faltando em meu corpo, dentro dele, bem no centro, que não consigo suprimir. E a única explicação que consigo dar é fome. Sinto fome de todas as memórias que roubaram, das poucas coisas que me fizeram sorrir, que me fizeram me descontrolar a ponto de perder você. Não consigo viver faminto, não desse jeito, não por esses motivos. Ainda não sei o que vou fazer, mas quero que saiba que tenho algo que pode começar a acabar com tudo isso. Vou partir amanhã, me mandarão para Espanha, por isso você não vai correr riscos de me encontrar quando vier buscá-lo. Eu o ajudei a fazer e acho que isso é o suficiente para você saber o que é.

Esse era o propósito da carta, afinal. Mas tive que escrever todo o resto. Precisava dizer que me arrependo, que sei que errei em todas as escolhas que tomei, que me tornei um cão treinado a ordem de outra pessoa e não de mim mesmo. Precisava que você soubesse que li o diário e relei-o obsessivamente, e que agora lembro de tudo, não com a mesma clareza das memórias de antes, mas quase consigo sentir seus lábios fantasmas nos meus quando leio a primeira vez que nos beijamos. Precisava dizer que escolhi ser desleal, que não vai demorar pra que Voldemort peça minha cabeça em uma bandeja. Precisava te dizer que sonho com você todas as noites. Precisava dizer que você continua sendo minha estrela da sorte, Regs. Sempre vai ser.

Juro que não é uma emboscada. Esta dentro da caixa de joias de minha mãe que deixo no fundo do guarda-roupa, escondida atrás das caixas de sapato,

B. J. C.

( . . .)
hello, não sei se deu pra perceber, mas isso é uma carta ksksksks

decidi experimentar um jeito diferente e começar do final. se tiveram alguma teoria ja, podem me dizer aqui!!

espero que tenham gostado e pfv deem uma chance pra slytherin promisses!! sei que a maioria nunca leu nada bartylus mas olha pelo lado bom, tem starchaser tb!!

enfim, muito obrigada por ler. relevem qualquer erro , pls. 💖📖

slytherin promisses, bartylus Onde histórias criam vida. Descubra agora