5- Começar pelo começo

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Depois dos eventos ocorridos na propriedade particular invadida por Fernando e seus amigos, o julgamento de Selma (18 anos) e Fernando (também 18) aconteceu numa sexta-feira nublada. os dois jovens chegaram no mesmo momento, mas com a diferença de que Selma havia chegado a pé e sozinha, e Fernando chegara de carro, com os seus pais. O garoto não conseguia conter a vergonha em si mesmo, e seus pais tinham um ar de que tinham o controle da situação.
Logo depois das últimas palavras do juiz, sentenciando os dois a serviços comunitários por 6 meses na mesma área da casa em que a invasão ocorreu, e a restaurar a casa depredada, os dois saíram de cabeças baixas e transtornados. Henrique, por não ter tido o apoio de nenhum dos amigos. Selma, por ter decepcionado sua tia de diversas formas. Agora não seria mais capaz de trabalhar e, consequentemente, seria incapaz de pagar pelo tratamento de Amanda. Então, de repente, teve a ideia que poderia resolver os seus problemas. Cobrar o favor a Henrique parecia extremamente conveniente naquele momento, então ela decidiu tentar. Correu até o rapaz, que estava junto dos seus pais, e foi cumprimentá-los:
- Boa tarde, eu sou Selma...
- Boa tarde, querida. - Disse a mãe de Fernando, com um certo tom de gratidão em sua voz. - O oficial Amarantes, que é amigo da nossa família há um tempo, nos contou o que aconteceu. Você ajudou nosso filho quando ele mais precisava, por que sabemos que você não era uma das companhias dele. Como eu posso retribuir?
- Eu agradeço a oferta de ajuda, e realmente vou aceitá-la. É a minha tia, sabe... Amanda, ela tem um câncer que tem se mostrado um grande desafio. E como agora eu vou precisar cumprir essa pena, não vou poder trabalhar. Tudo que eu quero é o tratamento dela. De verdade. - Enquanto Denise e Selma conversavam, Fernando estava sentado no banco traseiro do Corola de seus pais, chorando por dentro mas sem deixar externar nenhuma lágrima. Nem tinha percebido a presença de outras pessoas em sua volta. O pai de Nando estava em pé, encostado no carro, tentando parecer o mais solidário possível, mas realmente não se importava muito. O que ele não esperava era o olhar de Denise, pedindo encarecidamente pra que concedesse o pedido à Selma. Então resolveu responder:
- É claro, Selma. Tudo que precisar. Bom, agora nós temos que ir. Envie às contas ao nosso endereço...- Naquele momento um cartão foi entregue, com todas as informações que Selma precisaria -... e pagaremos o tratamento da sua tia. Sem problemas.
- Obrigado! De verdade, eu nem sei o que dizer. Muito obrigado.
A família entrou no carro, e Selma voltou a caminhar pra sua casa, com um peso a menos em suas costas. Mas sabia que as coisas não seriam tão fáceis assim mais tarde. Naquela sexta-feira de manhã, a sua mente se projetava para o futuro.
Fernando, por sua vez, se concentrava cada vez mais no passado e em tudo o que tinha feito. Será mesmo que tanta confusão valera a pena por uma noite de diversão que ele mal se lembrava? A resposta para essa pergunta ficava mais evidente a cada segundo. Ao entrar no seu Facebook, resolveu conversar com os amigos que o tinham deixado para trás:
- Denis, tá aí? Vocês me deixaram pra trás, seu bosta. O que a gente vai fazer agora? Eu não posso levar a culpa toda sozinho. - Denis estava digitando, e pelo que indicava a janela de conversa, digitando bastante. Fernando ficava apreensivo. Então Denis respondeu - Eu não sei do que você está falando, amigão. Mas boa sorte com tudo aí. - E não ficou mais online. Aquilo chocou Fernando, que digitava muitos palavrões enquanto pensava numa vingança diabólica. Logo depois, resolve chamar outro amigo:
- Carlinho, o Denis é um babaca. Mas tipo, o que a gente vai fazer? Eu preciso de ajuda!
Carlinho nem se deu ao trabalho de responder, apenas visualizou a mensagem e desconectou. Fernando tomara mais um soco no estômago. Não pensou em chamar mais ninguém, sabia que estava sozinho nessa e que não poderia contar com aqueles que chamava de amigos. Mas as coisas estavam prestes a mudar.

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