Introdução

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Trabalho em uma mercearia no Quadrante 7 da cidade. Eu gosto até ... 

Embora não dê muito dinheiro , acaba ajudando á me manter vivo. Se é que isso é estar vivo. Trabalhar pra viver. Nunca pensei que fosse tão trabalhoso viver. É como cuidar de um bebe chorão naqueles joguinhos da internet , mas , o bebe é você. Tem que alimenta-lo de 3 em 3 horas, dar banho e mantê-lo vivo. Feliz. 

Confesso que a parte mais difícil é a ultima, durante esses dias.

Bob , mais uma vez, tentou me levar naquelas festas tecno alguma coisa .Ele sabe que eu não posso cruzar a cidade e ir pro Quadrante 8 , mas insiste em tentar me levar. 

Ricos. Organizam um evento, chamam pessoas ricas, apertam elas em um cômodo com uma musica psicodélica e drogas. Acho uma droga essas festas . Não entendo a graça que ele vê em tudo isso.

— ei, Torres .Já pensou sobre a festa de hoje? - diz com aquele olhar infantil , como se estivesse pedindo pra "mamãe" uma bola de aniversario.

— Bem provável que não poderei ir hoje, Bob. Minha avo anda muito mal nos últimos tempos. Acho que ela é coxa - Respondo de maneira calma e com um leve sorriso no rosto

- Torres , cassete , sua avó é um esqueleto ambulante , só pode. Cada dia se arruma uma doença pra velha , mano.

- hm, ela tá bem acabada mesmo - risada

Eu gosto do Bob. A gente brinca bastante e , ele tornou esse trabalho mais leve ,de certa forma. Nossa, pessoas...

Parece que elas mudam nossa vida , né ?Que estranho saber que elas , nós , temos todo esse poder. 

As vezes , quando o Bob falta no serviço, e ele falta bastante, eu desenho em um caderninho algumas coisas. Pessoas, prédios e ...prédios. Gosto de prédios. São tão firmes e ,decididos com oque eles querem.

"Eu quero estar parado aqui. Pra sempre"

Estagnado.

Prometi pra min mesmo que pararia de desenhar , porque fico pensando demais nessas coisas. Na vida. Acredito que isso faz mal pra min , de alguma forma.

Será que pensar demais faz mal ? - pergunto pra min mesmo enquanto limpo os vidros da loja

Enquanto penso nisso , vejo uma garota , não muito alta , passar pela loja. O vidro da loja estava embaçado , mas deu pra ver muito bem ela. Cabelos compridos , saia parecendo um sino de igreja e , uma paleta de cores não muito usada nos dias de hoje. 

Vivendo numa era psicodélica , aonde as pessoas esbanjam cores, porquê ela estava de preto?- me intrigo e paro de limpar.

Será que se eu correr  consigo ver ela? O Aldemar vive dormindo mesmo , talvez eu possa ...

-triiiiiim ,triiiiiim 

O som e a porta . Daria um ótimo titulo para um livro ...

Está eu , Torres , no meio de uma decisão importante a tomar : Atender o telefone e cumprir meu dever trabalhista , ou , descobrir quem é aquela garota "estranha demais pra essa cidade".

- Alo , mercearias Aldemar , bom dia

Tenho contas a pagar e , não vivo na melhor região da cidade. Quadrante 5 , pra ser mais preciso. Local aonde está abrigão a maior locução de fabricas da cidade.

A voz no telefone surge dizendo : 

— É o seguinte , você vai sair dessa loja com as mãos pra cima e vai entrar no carro rumo a festa - voz parecida com a dos anônimos.

Eu sabia quem era , mas minha paciência está no level 10 já , então , respondo de forma intrigada , mas com decepção :

— Meu deus, Bob! Se tem que parar com essas coisas ... Cara, você me fez perder de vista ela

— Quem é ela? - responde com sua voz "normal". Tão normal como a do Alvin e os esquilos.

—Ela , a menina que passou aqui agora - resmunguei 

— Quem, á Mollie ? Ela é um dos Flowers. Adivinha aonde ela vai estar hoje as 21:00 horas? - com um sorriso estampado 

Merda. Eu tenho que ir nessa festa...

xxxOnde histórias criam vida. Descubra agora