Gentis e Amáveis Leitores,
Não tinha pretensões de incomodá-los tão brevemente depois de nosso recente encontro. E há certa possibilidade que não o faça por algum tempo, após o presente ato, pois não quero ser fonte de distração aos senhores ou senhoritas. Devo confessar, porém, que muito me agrada a ideia de podermos conversar constantemente.
O principal motivo de meu súbito retorno, todavia, não fora o prazer que me trás nossas interações e sim a necessidade de lembrá-los de um detalhe importante. As cartas, mencionadas anteriormente, serão sempre fonte primária de inspiração desta narrativa, mas é importante que saibam que utilizei-me de certa licença poética para a criação de alguns detalhes e diálogos desta história, haja vista que as ditas correspondências, apesar de trazerem alguns elementos familiares em seu escopo, tinham como principal foco o romance de nossos interlocutores.
Espero que não se importem com o fato de ter deixado a imaginação fluir e tomem minha palavra como certa quando digo que, nas partes essenciais, manti-me tão fiel quanto o possível aos escritos originais. Por último, gostaria de agradecer as enciclopédias do escritório de papai pelas informações aqui coletadas, Sir Andrew - um exímio contador de relatos do cotidiano das duas famílias protagonistas - espero que tenha conseguido transcrever toda a amabilidade delas - e os livros da Biblioteca. Está vendo mamãe? Enquanto a senhora presumia que eu desperdiçava meu tempo com "bobagens dessa cabeça de vento", na verdade, me tornava quase uma historiadora-investigativa, se é que tal profissão exista.
Por certo, espero que façam bom proveito de nosso primeiro capítulo e que se encantem por este conto tanto quanto eu o fiz.
Cordial e Saudosamente,(H.L.S).
A primavera na Inglaterra era, com certeza, um espetáculo para vistas fadigadas da labuta diária dos serventes urbanos e rurais. Em cada pequeno espaço do centro da cidade, roseiras desabrochavam-se num adorável tom avermelhado – quente acompanhado dos jacintos arroxeados que exalavam seu perfume pitoresco no ar. Tornava-se, praticamente, unânime a predileção dos habitantes por essa estação, uma vez que a paisagem parecia, incomparavelmente, mais amável nessa específica época. Os cavalheiros de alta posição - e os de baixa também, quando conseguiam um par de moedas com seu trabalho árduo - aproveitavam-se da ocasião primaveril para, no caso dos primeiros, enviar à casa das donzelas, que desejavam conquistar, um pomposo buquê de flores - destinado a arrebatar o coração feminino, bem como demonstrar as boas intenções do remetente e, por fim, causar vergonha aos outros "concorrentes". Já para os últimos, era a oportunidade perfeita de subtrair um pequeno botão ou broto colorido, do jardim da vizinhança, e entregar-lhe à amada, em uma, escassa, chance de mostrar-se tão galanteador quanto os homens de elevada estirpe. Nesse período, o romantismo florescia tal qual a própria flora, isso por que, dava-se início a ocasião de debute das damas solteiras de Londres. Um costume - deveras arcaico - que perpetuava-se por gerações dentre as camadas mais influentes da população. Tratava-se quase de um ritual, as senhoritas que almejassem um bom casamento - traduzido pela quantidade de posses ou influências que o potencial noivo deveria ter - adornavam-se de um vestido bege, cravejado de pequenas pedras preciosas, sapatos elegantes, cabelos ondulados, preferencialmente presos em um elegante coque, maquiagem leve, mas que destacassem-lhes os atributos, bem como joias polidas - as quais deveriam ser possíveis visualizar a metros de distância, tamanho o brilho que necessitavam possuir - e assim apresentavam-se perante a rainha, no baile anual de primavera.
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O Duque e Seu Garoto [MewGulf]
FanficAscensão Social. Rivalidade Crônica. Poder. Ambição. Bailes Intermináveis. Luxo. Segredos. Olhares Roubados. Paixão. Drama. Traição. Toques em Segredo. Amantes. Posições de Poder. Sacrifício. A sociedade do século XX considerava desprezível e pecam...