1. Um lapso de moral

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Tardo mas não falho! (Por favor me avisem caso achem erros. Como as versões revisadas só estavam no Wattpad, eu tive que me virar nos trinta com os arquivos antigos e talvez alguma coisa tenha passado).

Tenham uma boa leitura e não se esqueçam de votar e comentar 🥰

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Era uma daquelas tardes de domingo insuportáveis em Nova Lili. O sol ia gradualmente se escondendo na linha do horizonte, mas o clima abafado e o calor persistiam. A maresia parecia colar na pele, trazida pela brisa sufocante que fazia um péssimo trabalho em refrescar os moradores da rua Magnólia. Composta por uma dúzia de casas imponentes e separadas da orla por poucas quadras, Magnólia era uma das cinco ruas do bairro residencial que rodeia o centro. Era bom de se morar, perto o suficiente da escola e da área comercial, longe o suficiente para manter o aspecto de cidadezinha de interior que aos poucos Nova Lili ia perdendo. Quando Jimin era criança, eles mal conseguiam pegar o sinal de televisão e a energia caia a qualquer sinal de chuva. Hoje em dia, as torres de internet adornam a paisagem, brigando por espaço com a natureza.

Jardins bem aparados, fachadas com camadas brilhantes de tinta e carros bem cuidados nas garagens acobertam opiniões venenosas naquele bairro de aparências. Jimin mora na mesma casa desde que se entende por gente e sabe muito bem que seus vizinhos podem até não demonstrar ter nada contra ele — e normalmente nem colocam muito os rostos na rua — mas com certeza comentam aos cochichos sobre o filho esquisito de Beto. Seu pai pode até ser sutilmente mais introvertido que a média, mas Jimin acha que esta perigosamente perto da agorafobia desde a sexta série e isso deve ser o suficiente para ser considerado esquisito pela maioria de seus vizinhos. Esquisito, se fosse realmente parar para pensar, seria a palavra mais usada por qualquer um para descrevê-lo.

Park Jimin odiava tardes assim. Odiava porque era, essencial e concisamente, gordo. Tardes quentes implicam em roupas leves, em mostrar pele e sair para a praia. Três coisas que, se tivesse opção, sumiriam para sempre de sua vida. Ele tem quase dezessete anos, mas naquele dia em especial estava se sentindo um velho amargo com problemas de circulação. E não é sua culpa se a descrição bate com Seu Armando, o vizinho do outro lado da rua.

Podia estar na praia, aproveitando o sol aquecendo o mar, ou num dos cinemas que ficavam na costa, quem sabe até na casa de um amigo ou praticando um esporte nas muitas quadras públicas. Mas está ali, sentado sozinho na sombra que sua casa faz (por sorte, o engenheiro que a construiu a colocou de costas para o pôr do sol e de frente para o nascer), pensando nas mesmas coisas que pensa desde que adquiriu qualquer consciência sobre existir. No fundo de sua mente, ele fantasiava com um corpo malhado, um que não o enchesse de vergonha. Nesse corpo, ele passaria tardes como essa na praia, jogando vôlei, surfando e nadando, com um grupo descoladíssimo de cinco ou seis outros garotos exatamente como ele. As pessoas o cumprimentariam nos corredores da escola e ele não teria que se preocupar com os vizinhos escondidos por trás das cortinas de suas casas, cochichando e rindo.

Mas tão rápido quanto surgia, o corpo malhado sumia, deixando a realidade das calças vergonhosamente desgastadas entre as coxas no lugar dos calções de praia. É uma fantasia mais frequente do que qualquer outro devaneio, uma forma de alento e tortura. Às vezes ele sente falta de quando era muito pequeno para entender certas coisas, era mais feliz quando o tamanho de bermuda que usava ainda não parecia um traço tão importante de personalidade. Ele costumava amar o verão, a vista que tinha das montanhas cobertas de relva e o som distante do mar. Mas é como se a beleza fosse perdendo o encanto conforme ele cresce. A tarde está linda. O céu parece pintado em aquarela, as gaivotas sobrevoam a areia ao longe e as ruas silenciosas proporcionam as condições perfeitas para que ele possa ouvir as ondas quebrando. Mesmo assim, seu humor apenas azeda. O recesso de uma semana por conta de um feriado nacional chega ao fim e a perspectiva de retornar a rotina de aulas na segunda era, no mínimo, desanimadora.

Big Boy °.• Depois que te DeixeiOnde histórias criam vida. Descubra agora