Içar Velas

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No fim do dia fica tudo bem. A dor da rejeição se torna força. Os problemas parecem pequenos. Resta a ressaca que é como sentir seu corpo flutuando num lago tranquilo.

Você sente a água tocar as extremidades do seu corpo, a força do empuxo te impedindo de afundar. Mesmo com olhos fechados é possível sentir os luminosos raios do sol banhando as milhões de células do seu rosto.

A dor de certa forma está ali, como a água, te cerca de todos os lados. Agora, porém, você é fortaleza impenetrável, insensível a todos os ventos, isolado de qualquer tempestade.

Às vezes, quando ainda não sabes boiar, podes ter impressão de estar submergindo. Porque afinal todos somos carne e osso. Aprender a ser leve como Cristo não é tão simples. Pedro que o diga.

Não são as crises familiares, nem a escassez de recursos, nem a carência afetiva. O que mais dói é a incompreensão do outro. Pior, quando o outro sequer lhe escuta, mas despreza sua dor como vitimismo histérico, julgando-te por defender a quem amas.

Apesar disso, há paz no alto mar. Quando a tempestade cessa. As águas do firmamento de cima se unem com as do firmamento debaixo num azul cintilante e belo. Nesse instante,  mais do que corpo flutuante, você é criatura divina, imago dei.

Há um Deus que cuida de todos. As águas por mais violentas estão debaixo dos pés dele. O empuxo te mantém na superfície, certeza do cuidado divino.

Não há mais o que pensar. Tenho, porém, uma última oração. Que ela encontre alguém como eu. Disposto à amar bravio em meio a tempestades.

Içar velas, meu cais-destino é Cristo, minha âncora é a fé, minha alma é a nau. O mar é a dor, a terra é santa.

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