Passei o restante do dia pensando naquela situação estranha, Ângela não respondia minhas mensagens e me recusava a perguntar qualquer coisa para Dominic, um pouco mais tarde Jason chegou em meu apartamento com Jujuba no colo e uma sacola com comida da cafeteria pondo em cima da mesa, assim que peguei minha gata no colo me senti um pouco mais relaxada, Jujuba está comigo desde que tinha dez anos.
- Conseguiu falar com a Ângela?
Questionou Jason tirando o moletom pesado, contei a ele no ônibus o que tinha acontecido, sempre dividimos tudo e agora não seria diferente.
- Não e eu tentei ligar também, mas só cai na caixa postal.
Respondi já exausta.
- Olha, você não acha estranho essa Ângela chegar do nada, querer ser sua amiga e logo em seguida você pegar ela de conversa estranha com o Dominic? Sei lá, vai que ela é uma pessoa ruim, uma loba disfarçada em pele de cordeiro que está manipulando o coitado do Dominic.
Revirei os olhos pois sei que Jason apenas está com ciúmes dela, mas não posso ser hipócrita e fingir que o que ele disse não me deixou ainda mais tensa, olhava o celular de cinco em cinco minutos para ver se tinha alguma resposta de Ângela, mas infelizmente nada.
- Já tentou falar com o Dominic?
Questionou Jason mudando de canal na TV.
- Eu não vou ligar para ele, estou curiosa e não desesperada.
No dia seguinte, assim que pisei na escola o clima estava diferente, passei pelas meninas que sorriam para mim e me elogiavam, as mesmas que umas semanas atrás pareciam querer minha cabeça em uma bandeja, Mike do clube de debate esbarrou em mim sem ao menos olhar para atrás o que era um comportamento já esperado. Ainda não tinha visto Ângela nem Dominic por perto, foi então que tive a ideia de dizer a Jason para me esperar na sala e dar a desculpa ao professor que eu tive uma emergência feminina para meu atraso, corri até o estacionamento procurando o carro de um dos dois mas também não encontrei nada.
- Pronto, agora além do Dominic sumir uma semana inteira praticamente, Ângela resolve fazer a mesma coisa.
Resmunguei tirando meu celular da mochila abrindo a lista de contatos e parando em "chiclete ambulante" era o contato de Dominic, não sei o que estava exatamente acontecendo mas minha curiosidade gritava para ligar, assim que chamou apenas uma vez senti alguém atrás de mim puxar meu celular e encerrar a chamada.
- Eu estou aqui.
Perplexa ao ver quão próximo ele estava, peguei meu celular da mão dele e o coloquei no bolso de trás da minha calça jeans preta.
- Por que estava me ligando?
- Cadê a Ângela? - perguntei.
Ele olhou para a direita e ela apareceu sorrindo.
- Bom dia Hope! Vamos para a aula?
Olhava para ela confusa e completamente indignada por não me dar notícias quando estava louca tentando me comunicar.
- Não! A gente tem que conversar antes.
Protestei, Dominic e ela se olharam seriamente e depois seus olhos se voltaram para os meus novamente.
- A gente vai conversar, mas podemos fazer isso mais tarde? Prometo te dar as respostas.
Ângela agarrou meu braço esquerdo e me puxou para dentro da escola, Dominic andava logo atrás de nós como um segurança particular. Durante as aulas da manhã, tudo estava estranho, Ângela se sentou com Dominic e eu com Jason que também notou que algo não estava certo, eles estavam de conversa o tempo todo e distraídos em todas as aulas.
- Então é oficial? Os dois ali se conhecem mesmo?
Perguntou Jason guardando seu material no armário cinza após a aula enquanto eu estava encostada ao seu lado observando Dominic Ângela conversarem próximo ao bebedouro.
- Eu acho que sim, Ângela disse que iríamos conversar mais tarde e estou ansiosa aguardando.
Meu celular vibra com um número estranho e eu pergunto a Jason se ele reconhecia.
- É o Antony, ele pediu seu número e eu passei.
Ele Sorriu provocando.
- Você tem que parar de ficar distribuindo meu número.
Suspirei e atendi.
- Oi Hope sou eu, Antony, desculpa te ligar agora eu sei que não é uma boa hora, mas poderia fazer um favor para mim?
- Oi, pode dizer.
- Bom, como você é uma das duas únicas garotas legais que eu conheço e vai estar disponível já que a Sarah está aqui na cafeteria comigo, gostaria de me acompanhar até a floricultura escolher um buquê de flores bem bonito? Tem uma garota que eu quero impressionar mas não sei escolher essas coisas.
Confesso que meu coração deu uma leve derretida em pensar que ele estava sendo fofo com alguém, mas eu tinha planos para mais tarde.
- Eu não sei Antony, acho que vou conseguir só amanhã apenas.
- Por favor eu queria ir com você hoje, vem comigo eu passo ai te buscar no fim da aula.
Algo na voz dele era muito convidativa, me atraia para ele de um jeito hipnotizante.
- Tudo bem então, eu vou com você.
Desliguei o telefone e cinco segundos depois já estava me perguntando o motivo de ter aceitado isso. Jason passou o restante do dia me provocando e fazendo gracinhas, mas nada com que eu já não estivesse acostumada, na saida Dominic e Ângela me aguardavam em frente ao estacionamento e por mais que eu quisesse ir até eles tirar minhas dúvidas eu simplismente ignorei a presença dos dois que se olhavam estranhando meu comportamento, Dominic caminhava se aproximando sem entender muito, mas Antony chegou antes com sua moto prata, ele tirou o capacete preto e seus lindos cachos castanhos balançaram, ele me olhou sorrindo ainda em cima da moto com os olhos cor de mel brilhando naquele fim de tarde.
- Vamos Hope, depois eu te deixo em casa.
Ele me deu o capacete que ele usava e pegou outro, antes de colocá-lo e subir na moto, olhei para trás e Dominic voltava para Ângela esbarrando em seu ombro com ela o seguindo depois.
- Olha eu não sei se...
Ele não me deixou terminar e puxou minha mão, seu toque era frio.
- Não vai mudar de ideia agora não é? Eu preciso de você.
Concordei com ele meio desajeitada, coloquei o capacete e subi na garupa me segurando nele que acelerou a moto fazendo metade dos outros alunos voltarem seus olhos para nós. Se eu achava que Dominic dirigia rápido, era porque ainda não tinha saído com Antony, ele voava na moto e eu o apertava cada vez mais.
- Pronto, chegamos.
Desci com as pernas bambas, ele ria da minha situação.
- Não sabia que você era tão medrosa.
- Eu não sou medrosa, só tenho amor a minha vida.
Repondi ainda com o capacete preso em mim tentando me soltar.
- Deixa que eu te ajudo.
Antony tirou meu capacete e ficou me observando por alguns segundos demorados onde me vi presa em seus olhos. Depois desse momento um tanto constrangedor, entramos na floricultura enorme com arcos de rosas azuis na entrada, as flores coloridas preenchiam cada canto e o cheio era doce.
- Então vamos lá, você é uma garota não é, que tipo de flores você gostaria de receber?
Perguntou ele com um buquê de margaridas em uma mão e na outra um buquê de lírios.
Não consegui disfarçar meu rosto com as péssimas escolhas que ele fez.
- Sendo sincera, nenhuma dessas duas opções.
Ele rapidamente se livrou dos dois buquês. Conversamos um pouco sobre a tal garota que ele queria impressionar, mas ele não me contava o nome dela apenas dizia como estava encantado com ela e que queria que ela o notasse, foi então que passamos por algumas azaleias rosadas que chamaram muito a atenção.
- Eu gostei dessas.
Disse empolgada tendo finalmente encontrado algo legal.
- Você sabia que as azaleias são tóxicas? - Perguntou.
- Sim, mas nem por isso a beleza dessa flor deixa der admirável, e ela se adapta bem ao frio.
- Me convenceu.
Ele me olhava sorrindo e pediu para o senhor que cuidava da floricultura fazer um buquê com elas. Ao sair de lá, Antony me deixou em frente ao meu prédio onde desci de sua moto e estendi a mão para entregar o buquê a ele.
- Não, o buquê é seu Hope.
Eu congelei ali mesmo.
- Um buquê para uma garota legal que estou tentando impressionar.
Ele pegou apenas o capacete que estava comigo e saiu enquanto eu ainda estava ali parada já de noite, imóvel. Subi cada degrau do meu prédio de boca aberta tentando processar o que tinha acabado de acontecer, ao entrar em casa a porta já estava aberta, acho que Jason devia estar atrasado para a cafeteria novamente, entrei deixando minha mochila na cadeira ao lado da porta até me dar conta de que Ângela estava ali.
- Ângela! Que susto.
Meu coração parou por alguns segundos.
- Me desculpe, tive que convencer Jason a me deixar ficar aqui te esperando, foi difícil, mas consegui.
Depois de ter colocado as flores em um vaso, sentei ao lado dela no sofá para enfim entender algumas coisas.
- Lindas flores. - comentou.
- Sim, ganhei de um amigo - Repondi e ela sorriu sem mostrar os dentes - Mas agora vamos ao que interessa, o que está acontecendo?
- Eu e Dominic somos amigos a muitos anos e já passamos por inúmeras situações, mas recentemente algo ruim está acontecendo com alguém que eu me importo e ele está me ajudando com isso.
- E quem é essa pessoa? Eu conheço ou posso ajudar em algo também? - Questionei ficando preocupada.
- Para ser sincera, você a conhece sim e pode ajudá-la.
Meu coração acelerava de preocupação.
- Então me diga, o que eu posso fazer? - Perguntei.
- Evite ficar na rua sozinha ou conversar com estranhos, se possível, não faça novas amizades até eu e Dominic termos a situação sob controle - Sugeriu ela.
- Não vejo como isso vai ajudar, mas tudo bem.
- É só para evitar que você se envolva nisso também - Ela baixou a cabeça - mais do que já está - sussurrou.
- Mas por que não cahama a polícia?
- Só me promete que vai fazer o que eu disse, a polícia só iria atrapalhar e chamar uma atenção desnecessária.
Fiz um sim com a cabeça e Ângela me abraçou, foi como se todas as minhas preocupações por alguns segundos tivessem desaparecido junto com minhas dúvidas.
- Falando em Dominic, onde ele esta?
Perguntei me afastando do abraço.
- Eu não sei, era para ele estar aqui comigo, mas depois da aula ele sumiu e não me atende ou responde minhas mensagens.
Dei de ombros, já era quase rotina ele desaparecer assim, Ângela logo foi embora e eu fiquei sozinha terminando alguns quadros para entregar no dia seguinte. Alguns dias se passaram e eu estava fazendo tudo o que Ângela me pedia, ela nunca me contava exatamente o que estava acontecendo mas não queria ser chata insistindo no assunto, Dominic sempre estava na minha cola, depois de passarmos alguns dias conversando enquanto tentava me acostumar com ele, até se tornou menos difícil de aturar apesar de que quase nunca era gentil com as pessoas a sua volta, comigo ele tentava se esforçar para no mínimo me dizer um "bom dia" agradável. Antony se tornou cada vez mais participativo em minha vida, ele fazia questão de mostrar o quanto estava interessado em mim e se preocupava comigo, eu até tentava me esforçar para demonstrar algum sentimento genuíno por ele porém não conseguia, sentia uma atração, mas não sei explicar, não parecia um sentimento real, do coração. Com o passar dos dias, Jason gostava cada vez menos de Ângela, ele dizia que ela estava me privando de viver e nem se quer me contava tudo de uma vez e de certa forma ele estava certo, uma hora ou outra, Ângela precisaria me contar essa história do início e se já estava tudo próximo de ser resolvido. Mais uma semana se iniciava e agora quando eu estava com Ângela por perto, Jason saia e dava uma desculpa qualquer para não precisar ficar mais que o necessário ao lado dela, ao menos ele e Dominic se davam bem, dois dias atrás Jason tentava ensinar ele a andar de skate e ao invés de conseguir realizar uma manobra simples, conseguiu é ganhar uma ida ao hospital contra sua vontade para levar pontos no antebraço. Eu estava em casa sozinha com meu pijama laranja surrado manchado de tinta depois de um dia cansativo quando alguém bate desesperamente na porta me assustando, era Dominic.
- Jesus, você me assustou! - coloquei a mão no peito.
- Passou longe - murmurou.
Fiquei meio sem entender mas deixei para lá.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei.
- Eu preciso de um lugar para passar essa noite, na Ângela não vai dar e o Jason praticamente mora aqui, então...
Suspirei pesado e dei passagem para ele entrar, talvez eu conseguisse que ele se abrisse comigo mais tarde e me contasse o que aconteceu, como sempre ele usava apena o básico, um jeans escuro e uma blusa um pouco mais grossa de mangas compridas, seu cabelo preto estava tão sedoso que dava vontade de passar a mão.
- Vou arrumar a sala para você, se quiser pode fazer algo para comer ou sei la.
Ele não disse nada apenas se virou indo em direção ao banheiro e eu chamei sua atenção.
- Dominic Chaos, como é que se diz?
Ele se virou para mim parando no meio do corredor com o rosto fechado e bufando.
- Obrigado - respondeu ele seco.
- Muito bem, estamos evoluindo aqui.
Ao terminar de arrumar a sala, escuto Dominic sair do banheiro e quando me viro ele está apenas de toalha.
- Vai por uma roupa garoto! - Exclamei cobrindo meu rosto já vermelho com uma almofada.
- Eu vim aqui te falar para me emprestar alguma coisa do Jason.
Respondeu ele com naturalidade sem se preocupar com nada.
- Você poderia ter dito isso antes de entrar no chuveiro! Agora volte para lá que eu te levo uma muda de roupa.
Ele se virou voltando e eu suspirei aliviada, assim que ele saiu novamente já vestido pude notar que as roupas ficaram quase justas, Jason não era do mesmo porte que Dominic, mas como ele usava roupas largas, até que deu certo. Algo me chamou a atenção quando ele puxou as mangas da blusa para cima.
- Onde estão os pontos que você levou do tombo de skate?
Puxei seu antebraço com delicadeza para não machuca-lo analisando a pele perfeita e sem qualquer marca de pontos ou cicatriz e olhei nos olhos de Dominic que estavam fixados nos meus me encarando, pela primeira vez com um brilho diferente.
- Eu quero te contar tudo mas não sei se acreditaria em mim.
Ali eu senti que ele estava me dando uma abertura para uma conversa mais profunda.
- Tenta.
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Destinada Ao Inferno
RomanceEm Port Angeles mora Hope, uma jovem de 17 anos que perdeu os pais muito cedo e vive uma vida simples sem extravagâncias até conhecer um cara estranho de sobretudo preto, depois disso nada na vida da garota voltaria a ser o que era. Quando menos esp...