Desabafo

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Desabafo





Era noite. O salão comunal da Grifinória estava com poucas pessoas, James era um deles. O garoto estava sentado sobre uma poltrona de cor vinho, seus olhos focados na lareira vendo as chamas dançarem de um lado para o outro. Ele suspirou, sentindo o tédio o acometer, não queria voltar para seu quarto, Sirius e Remus estavam lá e o novo casal parecia querer aproveitar bem o seu início de relacionamento, então era melhor dar privacidade para ambos e evitar situações vergonhosas.

Ele passou a mão sobre os cabelos desgrenhados os puxando de leve, seus olhos ainda focados na lareira. O que poderia fazer para se distrair? Talvez passear pelo castelo, fazia tempo que não explorava os corredores e salas secretas de Hogwarts.

Sorriu, levantando-se da poltrona. Ele caminhou até seu dormitório, abrindo a porta encontrando Remus e Sirius agarrados um ao outro trocando beijos, Peter estava na enfermaria tinha caído da vassoura durante a aula de vôo, por sorte não havia nada mais grave que um braço quebrado.

James foi em direção a sua cômoda, abrindo a gaveta de cima tirando uma capa leve e de tecido brilhante dela.


— Vai sair? - o Potter deu um pulinho pelo susto ocasionado pela pergunta repentina. Ele olhou para Remus que estava sendo abraçado por Sírius.

— Vou dar uma volta pelo castelo, estou com saudades de explorar - respondeu, vendo o Lupin franzir o cenho preocupado — Não precisa fazer essa cara Moony, eu não vou me meter em confusão - ele enrolou o corpo na capa ficando invisível, apenas com sua cabeça aparecendo — Aproveitem esse tempo para namorarem, só não façam nada indevido - sorriu travesso vendo os dois amigos corarem, ele terminou de se cobrir — Até mais. - se despediu, abrindo a porta e indo direto para o salão comunal.

James parou de frente a entrada do salão.

— Coração de Leão. - falou vendo o quadro se mover dando passagem para o corredor.

Ele atravessou a pintura. Uma de suas mãos foi até o bolso direito da calça puxando uma folha de papel amarelada, enquanto a outra segurava a varinha. O Potter desdobrou o papel tocando nele com a varinha.

— Eu juro solenemente não fazer nada de bom. - murmurou a frase vendo linhas negras aparecerem por toda a extensão da folha, mostrando os diversos corredores de Hogwarts.

Ele olhou animado para o mapa pensando por onde começaria sua exploração noturna, até seu olhar colidir com um nome familiar que se movia vagarosamente pelos corredores, antes de começar a subir um lance de escadas.

Severus Snape estava indo para a torre de astronomia, ao menos era aquilo que o mapa dos marotos indicava. James estava curioso, seus instintos grifinórios gritando para que fosse dar um olhada no que o sonserino estava aprontando ou apenas observá-lo um pouco melhor.

— Acho que encontrei minha distração - murmurou — Luminus. - com a varinha iluminando seu caminho, o Potter seguiu em direção a torre de astronomia.

~✿~

— Alohomora. - a voz cansada de Severus ressoou pelas paredes de pedra, a porta pesada de madeira foi destranca, ele a empurrou dando passagem para o interior do topo da torre.

O local estava frio, a brisa da noite entrando pela sacada. Ele se aproximou sentindo o vento ainda mais intenso batendo contra seu rosto e corpo o fazendo tremer, não estava com roupas quentes, mas não havia problemas, gostava daquela sensação gélida, o ajudava a clarear a mente.

Respirou fundo sentindo o nariz arder com o ar extremamente úmido, seus dedos apertando a grade da sacada enquanto seus olhos miravam a paisagem sombria e vazia dos arredores de Hogwarts, o céu quase sem estrelas encoberto pelas nuvens densas. Por que tudo sempre parecia tão mórbido para si?

Suspirou, deixando aqueles pensamentos de lado. A mão fina foi até o bolso do pijama tirando um envelope branco dali, o símbolo da Londres trouxa marcando de onde a carta havia sido enviada. Ele abriu vagarosamente o lacre, enfiando o envelope novamente em seu bolso.

Os braços se apoiaram na grade, enquanto os dedos gélidos seguravam a carta, lendo o conteúdo da mesma. A cada linha lida o semblante sereno de Severus decaia. Ele sentiu seus olhos arderem e sua garganta travar, uma sensação pesada invadiu seu corpo, o vento frio não parecia tão agradável agora. Snape sentou-se, escorado na grade, sentindo suas costas e nuca sendo chicotadas pelas fortes correntes de ar.

O sonserino olhou para o chão de madeira, vendo pequenas e brilhantes gotas de água caírem sobre ele, passou as mãos pelas bochechas sentindo como estavam molhadas. Não deveria chorar, ser fraco não lhe ajudaria em nada, então por que suas lágrimas não paravam de sair?

~✿~


James não pensou que veria Severus chorando. Ele entrou naquela torre aproveitando-se da distração alheia, sua mente trabalhando em quais seriam as intenções do sonserino ao sair do dormitório, em um horário proibido, mesmo que ele tenha feito a mesma coisa.

O grifinório observou como Snape esfregava as próprias bochechas e olhos com força, se negando a continuar chorando, mesmo que aquilo acabasse o machucando. Aquela sensação de empatia voltou a martelar no peito do Potter, o fazendo sentir-se mal pelo outro.

Ele pensou em ir embora, mas sua consciência e senso empático, recém descobertos, pareciam não aprovar aquela ideia.

“Talvez eu devesse ajudar de algum jeito...”

Seus pensamentos correram soltos na tentativa de achar algo que pudesse fazer para confortar o sonserino, uma ideia ridícula surgindo em sua mente, mas que para a situação atual parecia a melhor alternativa.

O garoto respirou fundo antes de assumir sua forma animaga ainda defeituosa, saindo debaixo da capa de invisibilidade revelando o corpinho pequeno e rechonchudo. Ele andou devagar até Severus que estava de olhos fechados, não haviam mais lágrimas, apenas um rosto vermelho pela força que tinha sido esfregado.

James hesitou um pouco antes de finalmente esfregar seu focinho contra uma das mãos de Snape, sentindo o quão frias elas eram. O sonserino abriu os olhos de imediato vendo a pequena bolinhas de pelo esfregando-se carinhosamente contra si.

— Bambi? - chamou, confuso pela aparição repentina da criaturinha — Como você veio parar aqui? - indagou, movendo a mão para acarinhar o bichinho — Pensei que nunca mais o veria, quando eu acordei você não estava mais no meu quarto. - sorriu cansado.

O assobio alto do vento era a única coisa que podia ser ouvida ali por longos segundos, antes da voz arrastada de Severus voltar a se pronunciar.

— As vezes eu odeio a vida - riu sem ânimo, seus dedos ainda acariciando os pelos macios do pequenino cervo  — Ela nunca foi boa para mim - suspirou — Sempre me dando o pior do mundo e as poucas coisas boas que recebo ainda tentam me tirar - os olhos negros arderam novamente — Merda! Por que eu não posso ser feliz? Por que as pessoas que eu amo não podem ter felicidade também? - indagou amargurado, suas mãos apertando o animalzinho em seu colo.

James estava chocado, vendo Severus desabar em sua frente. Uma sensação pesada se apossou de seu coração ao ouvir aquelas palavras carregadas de tanta dor, sua consciência sussurrando que parte daquele sofrimento era sua culpa. As lembranças de todas as pegadinhas, azarações e humilhações que já havia feito o sonserino passar lhe acertando como um tapa na cara.

— Eu realmente estou desabafando com um cervo - riu, enxugando as lágrimas — Mas você é um ótimo ouvinte - elogiou levantando a bolinha de pelos até a altura de seu rosto — Obrigado por escutar minhas reclamações - sorriu, colocando o animalzinho no chão, levantando-se logo em seguida — Agora eu preciso ir, já está muito tarde - caminhou até a porta de madeira dando uma última olhada para o pequeno cervo — Não se meta em confusão e me visite se puder. - pediu dando um aceno em despedida.

James observou Severus se afastar, indo embora. Ele voltou para sua forma original, pensativo sobre tudo que tinha acontecido ali.

Obrigado por curar minhas feridas - SnamesOnde histórias criam vida. Descubra agora